30 dezembro 2005

Dois pesos, duas medidas

Quando o presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, declara que os judeus deveriam abandonar a Palestina, instalando-se na Alemanha e na Áustria, por terem sido estes os países que mais os perseguiram (e fazendo os mesmos permanente acto de contrição), a comunidade internacional manifesta a sua indignação. Quando um ministro israelita, dito ultra, declarou que os palestinos já têm um estado, a Jordânia, ninguém comentou...

E quantos são os débeis mentais, em particular na imprensa?

Esta “notícia” do Diário Digital é de uma cretinice atroz. Citando uma sondagem segundo a qual 7% dos portugueses maiores de 15 anos se assume como homossexual, o DD conclui que um milhão de portugueses é homossexual.
De onde se conclui que a aritmética de tão insigne site permite a seguinte conta:
- 7% x (10 milhões – população com menos de 15 anos) = 1 milhão. Conclusão: a população de menos de 15 anos é constituída por… zero elementos. De onde, 7% x 10 se pode arredondar para 1.
Voluntária ou não, esta asneirada permite colocar bombasticamente em título “um milhão de portugueses são homossexuais”. Perante número tão elevado, nada como nos rendermos à tolerância, afinal “eles” são tantos…

De contributo em contributo

Em artigo publicado no blogue “Aliança Nacional”, Manuel Brás exorta os nacionalistas (de todas as tendências) a continuarem o combate intelectual que têm travado, nomeadamente na blogosfera. Depois, cita alguns blogues, entre os quais este, que cumprem, ou terão condições para o fazer, o objectivo de combate cultural à ditadura vigente.
Aqui se agradece o elogio / incentivo a quem colocou esse como um dos principais objectivos para a criação do “Santos da Casa”, não sabendo se cumpre o objectivo mas que vai fazendo o possível nesse sentido, seja pela divulgação de autores, doutrinas, pensamentos a contra corrente, seja pela análise da actualidade nacional e internacional sem os tiques e as auto-censuras habituais na imprensa “de referência”, seja ainda pela simples evocação de artistas que contribuíram para o extraordinário acervo cultural do mundo ocidental, hoje tão vituperado por esquerdistas resmungões e execradores da cultura e tradições do mundo que os viu nascer.
Se cada um fizer o que estiver ao seu alcance, dentro das limitações de tempo e disponibilidade que o trabalho, a família e, porque não, a fruição de algum tempo livre, permitem, pode-se levar por diante esta missão de combate à hegemonia cultural anti-ocidental em que estamos submergidos.

29 dezembro 2005

Alerta, alerta!

O racismo está em alta em Espanha! Então não é que os governados por S. Exa. ZP acham que há imigrantes a mais no seu país? Nada mais, nada menos que 60% tem esta opinião escandalosa sob o ponto de vista humanitário! E para 40% a imigração é mesmo o maior problema actual do país vizinho.
Parece que décadas de martelamento ideológico não surtiram o seu efeito e os espanhóis continuam com gravíssimos tiques racistas e xenófobos!
Mais a sério, será que os iluminados que nos governam vão continuar a sua fuga para a frente (abismo) ou vão dignar-se a prestar atenção ao país real e abandonar as suas perigosíssimas utopias mundialistas e integradoras a todo o custo?

28 dezembro 2005

Werther

Releio com avidez o "Werther" de Goethe. Tenho uma tremenda admiração por esta obra, um carinho enorme pelo seu personagem principal.
As desventuras do jovem Werther causam uma profunda comoção ao leitor, que acompanha a inexorável marcha para o abismo do apaixonado pela bela e sensível Charlotte.
Um jovem idealista, que sorve imoderadamente as belezas da natureza, se comove com as brincadeiras das crianças, fala com o povo sem preconceitos sociais, que abomina as convenções sociais (não deixando de notar que a desigualdade é inevitável) descobre um dia - um anjo. Mas o anjo, Charlotte, tem um prometido, Albert, rapaz atilado mas sem grandes aspirações estéticas e assaz racional. Há muito mais entendimento entre Charlotte e Werther, seja na apreciação de uma situação do quotidiano, seja na interpretação de uma passagem de um romance, ou pela reacção a uma ária musical.
A impossibilidade desta relação tira ao jovem todo o gosto pela vida, a sua única ânsia, obsessiva, é ver Charlotte, estar com ela, sentir a sua respiração, tocar-lhe na mão. É de um terrível dramatismo a passagem em que Werther descreve Charlotte e Albert a afastarem-se lentamente, em direcção a sua casa, vendo-se o branco do vestido daquela confundido com a sombra das altas tílias.
O romance, claro está, é um dos pináculos do romantismo, com a sua sensibilidade exacerbada, a sua revolta face à mesquinhez quotidiana, a sua aspiração por altos vôos estéticos, o amor profundo pela natureza. Usem-se os adjectivos que se usarem para descrever esta obra, para mim ela é uma obra de verdade, sincera, de sentimentos puros e autênticos, independentemente de quaisquer artifícios que Goethe tenha usado na sua redação. Uma obra eterna.

26 dezembro 2005

O Sacrifício

O tema deste postal não é a última obra do genial cineasta russo Andrei Tarkovski. Versa, sim, sobre uma situação descrita no livro "Mao - a História Desconhecida" de Jung Chang (Bertrand). A autora desmistifica a Longa Marcha, afirmando que o seu sucesso só foi possível devido à conivência de Chiang Kaicheck. E porque é que o líder nacionalista haveria de contribuir para que os soldados comunistas se reagrupassem a norte, junto à fronteira com a URSS? Segundo Chang, porque Estaline tinha o filho de Chiang Kaicheck detido em Moscovo, sem grande liberdade de movimentos. Tal provocou o pânico do pai, que nada fez que pudesse desagradar a Estaline. E, assim, conseguiu fugir um exército de 40.000 homens, possibilitando anos mais tarde, em 1949, a vitória comunista e toda a série de desgraças que se abateram sobre o povo chinês.
Muitos de vós, ao ler estas linhas, pensarão no General José Moscardó, que liderou a defesa épica do Alcazar de Toledo, durante a Guerra Civil espanhola, resistindo dramaticamente à chantagem exercida pelos rojos sobre o seu filho. Que veio a perecer. Mas o Alcazar resisitiu.
Não condeno Chiang Kaicheck. Mas, se admiro o pai, talvez admire menos o líder. Mas nunca condenaria o homem.

Versos Blogo-natalícios

Em jeito de homenagem ao que considero o melhor blogue português, o "Nova Frente" - seja pela excelência da escrita, seja pela pertinência da crítica e pela visão livre do seu excelente autor - reproduzo seguidamente alguns versos que o Bruno fez por bem publicar nos comentários de alguns blogues amigos em Dezembro do ano passado.
O autor do "Nova Frente" é daqueles raros que, mesmo quando intervém em blogues alheios, tem uma qualidade que é lamentável ficar esquecida em caixas de comentários. Infelizmente, muitos dos blogues presenteados à época com os referidos versos mudaram o sistema de comentários, ficando aqueles perdidos na poeira virtual, irremediavelmente.
Dos "sobreviventes", encontrei apenas três; ironicamente, dois foram publicados em blogues que já nem sequer existem.
Deliciem-se, então, com a devida vénia ao autor:

No "Santos da Casa":
Confesso sem desengano
que este teu blogue me apraza.
Feliz Natal e Bom Ano
... e viva o «Santos da Casa»!

No "Oferta Desinteressada":
«Oferta Desinteressada»?
— Fico então agradecido...
Uma boa consoada
ao meu 'anarca' preferido!

No "Porta Bandeira":
Tu cumpres o teu papel,
Viriato, sem engano:
Merry Cristhmas, Joyeux Noël,
Feliz Natal e Bom Ano.

Natal em Belém

O local onde nasceu Jesus Cristo é hoje uma autêntica prisão. Belém está cercada pelo muro da vergonha; o que até há pouco era um local pleno de actividade e animação tornou-se uma área morta, submetida ao frio do betão que a cerca.
O excelente blogue "Bethleem Bloggers" dá-nos uma amostra fotográfica deste triste estado de coisas.
Também se recomenda, sobre o tema, a excelente reportagem do "Público" de sábado passado (páginas 2 e 3).

24 dezembro 2005

Feliz Natal


O "Santos da Casa" deseja a todos os seus leitores e amigos um Feliz Natal. E que o espírito de Dickens prevaleça um dia neste mundo.

23 dezembro 2005

A vida em Florença durante a República Social

Muito interessante este excerto de um livro sobre Florença ao tempo da República Social Italiana. Nele se mostra que, pese os extraordinários condicionamentos derivados da guerra e do avanço aliado rumo a norte, a vida na cidade dos Medici decorreu com relativa normalidade: os serviços públicos funcionavam, escolas e universidades igualmente, espectáculos de teatro, ópera e outros eram numerosos.
Reforça-se a ideia, também trave-mestra do livro de Gianni Oliva já por nós evocado, de que a grande maioria dos italianos, nessa época de divergências ideológicas extremas,optou pela neutralidade, fosse por comodismo, fosse para ver a evolução da guerra, fosse por se concentrarem nas suas actividades quotidianas.
O avanço aliado, os bombardeamentos e as sabotagens cometidas pelos partigiani foram tornando a vida dos florentinos cada vez mais difícil: racionamentos maiores, falta de energia eléctrica, água e gás. Apesar de tudo, a proximidade dos campos permitia a quem tinha algum dinheiro o aprovisionamento em géneros alimentícios.
Delicioso ainda o retrato da indisciplina daquele povo e as sessões de sensibilização para quem cometesse infracções ao código da estrada: obrigatórias, com multa para quem chegasse atrasado e prisão para quem faltasse!
Acima de tudo fica a imagem de um povo cansado de guerra e desejoso do regresso à normalidade quotidiana.

22 dezembro 2005

José Régio (17 de Setembro de 1901 - 22 de Dezembro de 1969)

Sabedoria

Desde que tudo me cansa,
Comecei eu a viver.
Comecei a viver sem esperança...
E venha a morte quando
Deus quiser.

Dantes, ou muito ou pouco,
Sempre esperara:
Às vezes, tanto, que o meu sonho louco
Voava das estrelas à mais rara;
Outras, tão pouco,
Que ninguém mais com tal se conformara.

Hoje, é que nada espero.
Para quê, esperar?
Sei que já nada é meu senão se o não tiver;
Se quero, é só enquanto apenas quero;
Só de longe, e secreto, é que inda posso amar...
E venha a morte quando Deus quiser.

Mas, com isto, que têm as estrelas?
Continuam brilhando, altas e belas.

21 dezembro 2005

Violet Trefusis e o Duce

A escritora Violet Trefusis (1894-1972) era filha de Alice Keppel, a amante preferida de Eduardo VII. Apesar da nacionalidade inglesa sentia-se francesa espiritualmente. Para muitos é mais conhecida pela relação tórrida que manteve com outra escritora, Vita Sackville-West (a dedicatária do “Orlando” de Virginia Wolf), que era casada com o conhecido diplomata Harold Nicholson. O filho deste casal narrou aquela relação no livro “Retrato de um Casamento” (já traduzido em português), que por sua vez teve uma excelente adaptação televisiva pela BBC, série que passou na RTP há pouco mais de uma década.
“Prelude to Misadventure”, de Violet Trefusis, é um conjunto de textos que evocam a França que viveu a escritora, bem como figuras como Colette, Cocteau, Poulenc. O desastre (“misadventure”) do título do livro refere-se à II Guerra Mundial e é o ambiente que a autora conheceu antes da grande catástrofe que nos traz esta obra.
Do volume faz igualmente parte uma entrevista com Benito Mussolini, a única concedida pelo Duce a uma inglesa. A admiração de Trefusis por Mussolini era bastante grande, não escondendo a autora o desagrado que lhe causou a aproximação da Itália à Alemanha de Hitler.
O capítulo em causa, o VII, simplesmente intitulado “Mussolini”, é uma compilação de notas tomadas pela autora nessa época, 1937, salientando-se que foi escrito antes dos «actos condenáveis que Mussolini perpetrou e que lhe foram impostos pelo seu monstruoso cúmplice».
O capítulo descreve pormenorizada e divertidamente as peripécias por que a autora teve que passar até conseguir chegar à fala com o ditador. Quando chegou o momento esperado, Trefusis tremia de medo...
A França foi o primeiro tema da entrevista: «Dentro de seis meses a França tomará o caminho da Rússia», diz Mussolini: «A França mudou muito, já não é o mesmo país, as suas qualidades superiores atrofiaram-se à míngua de serem utilizadas; ela é morbida, decadente [em italiano, no texto]...» E avançava, profético:«A França não tem qualquer necessidade de espírito, o que lhe faz falta é esprit de corps. O espírito é que causará a sua perda.»
Em contrapartida, Mussolini nada quis dizer sobre a Inglaterra, que parecia ser um tema tabú. À evocação por parte de Trefusis da frase «a antiguidade é a juventude do mundo», o Duce animou-se, notando a autora que «havia nele qualquer coisa de extraordinariamente juvenil, um ardor de jovem rapaz».
A pedido da escritora, o Duce ofereceu-lhe um objecto pessoal. Um lápis, mas não um qualquer, «o seu preferido, um que esteja gasto, mordido»... Outro pedido: ir à varanda de onde Mussolini fazia os seus discursos ao povo italiano. «Macchè! Venite pure!» Perante a magnífica visão de Roma, exclama Mussolini: «Che bellezza...» Violet observa, inteligente: «Ele dominara muitas coisas, países, congressos, colónias, línguas, desportos, estratégia. A beleza era inalcançável, escapava-lhe sempre. Não era por acaso que ele era latino. A beleza atormentava-o.» Com um suspiro, o ditador reentra na sala.
Chegara ao fim a entrevista, mais longa que o esperado. «Não a vou convidar a jantar comigo, como verá não se trata propriamente de um banquete.» (Com efeito, o jantar resumia-se a um prato de sopa e um cacho de uvas.) «Addio, signora, gostei da conversa, se desejar um dia uma nova entrevista, ela ser-lhe-á concedida. Envie-me os seus livros, gostava de os ler.»
O capítulo tem um final divertidíssimo, com a autora a contar a entrevista a Galeazzo Ciano, por quem não nutria qualquer simpatia:
«- Sei que esteve com o Duce. Por muito tempo?
- Não muito.
- O habitual quarto de hora?
- Um pouco mais.
- Meia hora?
- Receio que um pouco mais.
- O quê? Mais de meia hora? Uma hora? (Os seus olhos tentavam em vão plagiar o olhar penetrante e intimadatório do seu sogro.) Mais de uma hora? Incredibile!
- Uma hora e vinte minutos, para ser precisa.
- Mas que diabo de conversa arranjou para tanto tempo? (Os outros convivas presentes disfarçavam as risadas.)»
Diz Trefusis: «Ciano não possuía de modo algum a envergadura do sogro. Era irascível, parcial, vingativo, de um orgulho desmesurado. A vaidade: o seu talão de Aquiles, meu rapaz, como na maior parte dos italianos.» E exemplificava: «A origem da sua aversão pela França era dupla: não lhe terem atribuído a Legião de Honra aquando da sua visita a Paris, em 1935, e a dama francesa que tentou seduzir na ocasião não ter correspondido aos seus avanços... Após o que declarou que a França era um país “infrequentável”».
Para Violet Trefusis, independentemente dos acontecimentos que se deram após a entrevista com o Duce, esta «permaneceria intacta na minha memória, um pequeno monumento dedicado ao lamento por uma compreensão maior que poderia ter nascido, houvessem as relações entre a Itália e a Inglaterra e a Itália e a França sido mais claras».

Excertos da versão francesa, “Prélude au Désastre”, Salvy Éditeur, 1997 (tradução livre de FG Santos).

Medicamento racista!

Quem sofre de hipertensão conhece o medicamento de nome Cozaar, reputado de grande eficácia no controlo da tensão arterial elevada. Mas essa eficácia não se verifica com pacientes negros, de acordo com a literatura que acompanha o remédio, e como pode ser aqui confirmado.
Aguarda-se a todo o momento a reacção indignada das associações anti-racistas e demais circenses anti-discriminação.
Para os arautos da igualdade e promotores da ideia de que as diferenças entre as raças são mínimas o melhor é lembrarem-se da velha máxima anarquista pintada em algumas paredes de Lisboa durante vários anos: «Aquietai-vos, é a realidade que se engana!»

18 dezembro 2005

Dia Especial de Natal na Antena 2

Está a decorrer desde as 10 horas da manhã uma emissão especial de Natal na Antena 2, constituída por obras de compositores mais e menos conhecidos sobre temas natalícios e obras de origem popular, com emissões dos seguintes países: Eslovénia, Estónia, Rússia, Finlândia Islândia, Dinamarca, Alemanha, Inglaterra, Polónia, Suécia, Portugal, EUA e Austrália. Até às 22 horas!
Um bom motivo para ter o rádio ligado todo o dia.

17 dezembro 2005

Revisionistas = pedófilos?

O zelo persecutório que, da França ao Canadá, passando pela Áustria, Alemanha e outros países ocidentais, move as autoridades contra os chamados revisionistas está a chegar a um ponto de ruptura.
O julgamento de George Theil, em Lyon, forneceu mais uma prova disso mesmo. Chegou-se a um ponto onde nas salas de tribunal se expõem teses históricas sobre temas em que é impossível fazê-lo onde seria normal: nas universidades. Livros que contestem a proclamada “verdade definitiva” sobre o holocausto que terá vitimado até seis milhões de judeus são proibidos de circulação, quando não mesmo queimados, como sucedeu com “O Mito de Auschwitz” de Wilhelm Stäglich, na Alemanha.
A publicidade que teve o julgamento de Theil (como a prisão de David Irving, na Áustria), além do facto de o tribunal se ter transformado em... tribuna de expressão de ideias revisionistas, fizeram ranger os dentes dos Torquemadas da verdade oficial.
O advogado da LICRA (Liga Internacional contra o Racismo e o Antisemitismo) insurgiu-se contra o facto de o famoso Robert Faurrisson ter podido ir em defesa de Theil, comparando essa situação com um cenário em que o pedófilo Marc Dutroux defenderia um seu “companheiro de façanhas”. A comparação não é inocente, pois convém dar dos revisionistas a pior imagem possível, se necessário equiparando-os à escória da sociedade: os pedófilos. Chama-se a isto terrorismo intelectual.
Uma sociedade em que existem leis estipulando verdades históricas está já de cabeça perdida a impor às pessoas uma visão do passado que se quer definitiva, imutável. É estupidificá-las, é ofender a Inteligência e, o que os seus serventuários parecem ignorar, levantar a dúvida: «se se impõe que isto sucedeu desta maneira, será que é mesmo verdade? Se sim, porquê tornar esta última letra de lei? Não seria evidente para qualquer investigador que se debruçasse sobre o assunto?»
Há uns anos desloquei-me a uma livraria em Paris que vendia revistas revisionistas. Movido pela curiosidade (o fruto proibido e a inquietação intelectual) perguntei pelo título “Révision”. Tratava-se de uma publicação editada por um sujeito de nome Alain Guionnet. Na altura ainda era possível vender estas publicações desde que... estivessem escondidas, não podiam estar expostas. (Quando em qualquer quiosque se podiam e podem expor à vista de miúdos revistas pornográficas ou jornais sensacionalistas que destacam casos como o do indivíduo que cozeu outro à facada e outras histórias edificantes.) O empregado lá tirou as revistas de uma gaveta. Comprei-as porque publicavam em fascículos “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, outra obra proibida. O resto da publicação era bastante mau, com caricaturas grotescas de judeus, insultos a tudo e todos (inclusive a Faurrisson!) e teses destrambelhadas. Se calhar, se não estivesse no Index nunca teria tido a curiosidade de a adquirir!
(Dias depois, um comando judeu atacou a livraria provocando diversos estragos. Era a época em que esses rapazes, do Bétar, tinham contactos privilegiados com o Ministério do Interior, segundo Mme Fabius.)

16 dezembro 2005

Os depuradores

Andam por aí uns meninos que se dizem nacionalistas a difundir umas ideias muito curiosas. Premissa: o Norte é etnicamente diferente do Centro e Sul (sobretudo deste), dado o maior substrato céltico e germânico. Consequência prática: divisão do país ou associação do Norte à Galiza, separando-se do resto de Portugal.
Este blogue não é o local indicado para longas dissertações sobre a estrutura étnica do povo português. Para uns ela é mais ou menos homogénea de norte a sul, para outros há diferenças grandes de região para região. Mas estamos a falar do povo português. Se é mais ou menos caucasóide aqui ou acolá, é o nosso povo. Mais uma vez se prova que certos auto-denominados racialistas, ao levarem às últimas consequências as suas ideias, chegam ao extremo de odiar o seu próprio país e a sua gente, que deveriam supostamente defender e amar dado que se intitulam nacionalistas.
Dois escritores que muito prezo caíram na mesma atitude. Céline chegou a propor que a França se “desfizesse” dos “narbonnoïdes”, entendendo estes como os franceses de origem mediterrânica. Drieu la Rochelle sonhava com uma França etnicamente nórdica. Em ambos os casos, o etnicismo levado às últimas consequências implicaria a divisão do próprio país e a discriminação entre “bons” e “maus” franceses.
Marcel Aymé, no advento do nazismo, caricaturizou esta atitude num conto que narrava um encontro de nacional-socialistas; estes iam encontrando entre a multidão indivíduos com traços menos arianos, que eram destinados à purga. No final do conto, resta um sujeito que, arrancando o próprio braço, brada: «depuremos»!
Recentemente, vi um membro da Lega Nord afirmar que «quando chego a Florença sinto que já não estou em Itália». No nosso país, que adora importar modas, temos agora aqueles que clamam que a região a sul do Mondego não deve fazer parte de Portugal. Depuremos!

14 dezembro 2005

Sobre a descolonização

Está já em marcha o processo de recolha de assinaturas para serem entregues na Assembleia da República com o objectivo de se debater a descolonização. Ver no "Eclético", onde também se recomenda a leitura deste postal sobre o ex-combatente que disse em voz alta a Mário Soares o que muitos portugueses também pensam.

Contra Putin

Este texto do meu amigo Paulo sobre Vladimir Putin merece a seguinte resposta, ponto por ponto:
1) «(...) igualmente, tem posto reservas a alguns aspectos da actuação Israelita que mais desagradam ao nosso Amigo» - também a EU e não é por isso que passo a defendê-la. E o apoio que concede ao Irão, não te desagrada?
2) «Quanto ao projecto de acordo de Lebed, acredito, pela natureza das coisas, que o único acordo aceitável com terroristas é a bala» - como é que te podes esquecer que a Chechénia foi invadida pelas tropas russas em Dezembro de 1994 sem qualquer motivo aceitável? E que até aí o islamismo não tinha qualquer papel no movimento independentista? O acordo de Lebed só fez justiça com a Chechénia e representou a contrição mínima aceitável por parte do invasor. A sua morte continua por elucidar mas deu jeito a muita gente da “entourage” de Yeltsin
3) «E não tentes desculpar as gentes que querem, contra a maioria dos habitantes daquele território, uma independência, para cuja obtenção não hesitam em levar a cabo inúteis massacres de inocentes como os da escola local e do teatro moscovita.» Aqui a contradição ainda é maior: primeiro falas nos conflitos de vários séculos, depois dizes que a maioria dos chechenos não quer a independência. E misturas tudo quando falas nos atentados. QUEM deu força ao islamismo radical na Chechénia foi Putin, que dele se serve despudoradamente para legitimar a sua vergonhosa guerra, que já eliminou um terço da população. E também podias falar das negociatas entre generais russos e os islamistas para partilha de recursos petrolíferos; ou do facto de os dirigentes chechenos eliminados serem todos moderados, ao passo que os senhores da guerra islamistas podem passear-se sem problemas de sofrerem atentados.
4) «Putin tem levado a cabo uma diplomacia interessante, lambendo as feridas na relação com os ex-satelites e ex-membros da URSS.» Desculpa mas isto é um disparate pegado: qual o papel de Putin em relação à Ucrânia e à Geórgia: apoiar as manobras eleitorais fraudulentas que beneficiavam os políticos locais pró-moscovitas; também apoia o regime "venal" de Lukashenko, um puro produto da ex-URSS, que submete a população à miséria e à mordaça total.
5) «Mas quem são esses? Milionários recém-feitos com ligações a mafias que não pensam duas vezes antes de matar. Não verto uma lágrima por eles.» Mais uma vez a amnésia a funcionar: os milionários perseguidos apoiavam TODOS os políticos da oposição, por isso foram perseguidos. O facto de também serem judeus acomodou a actuação do Governo com o conhecido sentimento anti-semita da população russa.
6) Por outro lado, nem uma palavra para o silenciamento sistemático de todo e qualquer órgão de comunicação social que tenha uma visão minimamente crítica do poder.
7) Em resumo, agrada-te um indivíduo que tem governado ao estilo que conhece: soviético – expansionismo militarista, silenciamento das oposições, centralismo (retirou grande parte do poder que os governadores das regiões detinham na câmara alta). E não esquecer que a Rússia continua com presença militar em ex-repúblicas soviéticas como o Tadjiquistão ou a Moldávia.

(Já abordámos esta questão em várias ocasiões: ler aqui e aqui.)

Poemas de Natal

Informa-nos o nosso amigo Nonas que o jornal "Público" editou uma antologia de poemas de Natal elaborada por Vasco da Graça Moura e intitulada «Natal… natais – oito séculos de poesia sobre o Natal». Trata-se de um volume de 382 páginas contendo 367 poemas, incluindo autores como Rodrigo Emílio, Couto Viana, Tomaz de Figueiredo, Pedro Homem de Mello, David Mourão-Ferreira, Miguel Torga, entre muitos outros.
O preço é de 14,5€, podendo a obra ser adquirida com a edição de hoje do diário - ou sem ela.
Recomenda-se.

Rolão Preto na blogosfera

Tem havido ultimamente algum destaque concedido a Rolão Preto na blogosfera, permitindo a quem conhece mal a sua figura ter uma noção da sua evolução política ao longo do século passado:
- no "Altermedia": entrevista e história do Nacional Sindicalismo;
- no blogue de João Tilly, uma breve resenha (via "Tomar Partido").

12 dezembro 2005

A ERC e os blogues

Indispensável ler a resposta dada pelo Chefe de Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares às dúvidas levantadas sobre as atribuições da nóvel Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) no que se refere aos conteúdos difundidos pelos blogues, aqui.
Antes de mais, não deixa de ser revelador saber-se que a «liberdade de interpretação é própria de qualquer sistema jurídico-legal de matriz democrática, pelo que a aplicação das normas jurídicas contidas naquele diploma dependerá, em grande medida, do esforço interpretativo que lhes for dedicado pelo Conselho Regulador da ERC e pelos tribunais». Ou seja, legisla-se mais ou menos vagamente e depois quem de direito que assim o pretenda pode dar um conteúdo mais concreto e aplicação mais directa a casos práticos. É democrático!
Se, por um lado, «visando salvaguardar o direito à liberdade de expressão (...) a proposta de Lei apresentada pelo Governo pretendeu excluir, de forma notória, as comunicações electrónicas de conteúdo privado e de conteúdo não comercial (como, em regra, serão os “blogs”)», não deixa de se dar o caso que «a não inclusão directa numa das alíneas do referido artigo 6º não obsta a que as entidades responsáveis pelos conteúdos difundidos pelos “blogs” não possam vir a ser abrangidas por decisões da ERC, desde que o respectivo Conselho Regulador ou, em caso de recurso judicial, os tribunais considerem que os conteúdos em causa se enquadram no conceito de “actividade de comunicação social”».
Resumindo: na teoria diz-se defender a liberdade de expressão, na prática deixa-se nas mãos de conselhos reguladores ou dos tribunais a discricionaridade a ela respeitante. Uma farsa!
(Via "Tomar partido".)

Forças especiais israelitas ajudam polícia francesa

No rescaldo de semanas de distúrbios levados a cabo em subúrbios franceses por jovens imigrantes, sobretudo magrebinos, o ministro da Segurança Interna de Israel, um inspector de polícia e o chefe dos Serviços Especiais daquele país reuniram-se à porta fechada com altos funcionários e ministros de França.
A experiência dos israelitas em lidar com distúrbios em meio urbano terá sido o motivo das reuniões, de que se desconhecem detalhes.
Certamente mais um motivo para os jovens magrebinos insultarem o ministro do Interior Nicolas Sarkozy, com alusões à sua origem étnica, como sucedeu no mês passado.

"Atrasado mental"

Insultado e levemente agredido por um ex-combatente em Barcelos, que lhe chamou "vigarista" e o acusou de atentar contra Portugal via apoio aos movimentos de "libertação", Mário Soares declarou que não vai apresentar queixa, pois o indivíduo em questão aparentaria «ser atrasado mental».
Para além da forma fina e subtil como o octogenário se refere a quem o acusa, os termos remetem irresistivelmente para a prática soviética de tratamento psiquiátrico dos oposicionistas do regime. Quem "sabe" nunca esquece.

11 dezembro 2005

Vítimas e vítimas

Confesso que tenho dificuldade em perceber o ”Jansenista” quando fala em «caricaturas e (...) preconceitos estigmadores, e (...) em proclamações sanguinárias sobre judeus, iranianos, yankees, ou outros», no contexto de feroz discussão albergada pelo amigo Paulo. O que estava em causa, e assim continuará, é o estatuto de vítimas de primeira de que os judeus se arvoram (não todos, evidentemente, mas, e o que é o mais importante, aqueles que têm poder e meios para o fazer à escala mundial), escudados nas perseguições e sofrimentos passados durante a segunda grande guerra. Esse estatuto serviu de base “moral” para o estabelecimento do Estado de Israel, instalando um barril de pólvora numa região onde quatro décadas antes viviam dez mil (!) judeus.
Os massacres perpetrados contra os árabes, as perseguições, os desalojamentos, as humilhações do dia a dia, criaram um ressentimento poderoso contra os sionistas e seus aliados, os EUA e alguns países ocidentais. Nunca desculparemos neste blogue os atentados, os terrorismos sejam de que matiz forem. Nunca devem ser os civis a pagar pelos desmandos de políticos e militares e mais grave é o facto de muitas vezes os próprios civis serem efectivamente as vítimas desejadas dos atentados.
O século XX viu atrocidades sem fim, povos sofrendo na pele as maiores barbaridades que se pode conceber no espírito negro de uma humanidade desumana. Dos ucranianos aos bósnios, dos palestinos aos cambodjanos, dos colonos portugueses massacrados em 1961 aos arménios despojados dos seus bens, das suas famílias, da sua dignidade em 1915. Mas um povo, um só, é o “eleito” pela consciência, neste particular muito pouco universal, alvo sem fim de manifestações de solidariedade, de repercussão mediática, de livros e filmes sem fim sobre o seu sofrimento. Esse facto para mim é uma infâmia pela forma como menoriza ou desvaloriza o sofrimento de tantas e tantas populações “não eleitas” – nada se compara à ordália do povo judaico. É um escândalo, é uma ofensa para todos os que, independentemente das suas ideias, não desistiram de pensar que a dignidade humana não é algo a abandonar – ou relativizar.
E este escândalo serve de arma de arremesso contra quem critique os desmandos actuais do estado sionista. Por muito que essa crítica seja de base política, logo vem o epíteto de anti-semita, de nazi, de exterminador em potência. É uma forma cobarde e extremamente desonesta de limitar a capacidade crítica de qualquer observador da realidade do Médio Oriente.
Lamentaremos sempre que uma criança ou adulto israelita vá pelos ares num atentado como lamentaremos a morte de crianças ou adultos iraquianos vítimas de uma guerra que ainda só agora começou e que foi levada a cabo pelos principais aliados do Estado de Israel. Quem não vir a ligação óbvia entre este e muitos outros factos que estão à vista não estará nunca interessado em que se compreendam os dramas que se vivem naquela martirizada região.
Os israelitas vivem na angústia de um atentado potencial mas não vivem a angústia real e diária de serem despojados das suas terras; de estarem à mercê de soldados para passar checkpoints que em muitos casos marcam a fronteira entre a vida e a morte (assistência hospitalar) ou entre a miséria e um emprego precário que seja; ou de ficarem separados dos seus familiares por um muro de vários metros de altura. Louvamos os israelitas pacifistas que continuam a lutar pela dignidade do povo palestino mas a sua luta parece perdida face a um poder indiferente, com ramificações que atravessam oceanos e milhares de quilómetros – a ocidente.


(Cidadão palestino a quem foi negada por soldados israelitas a passagem pelo checkpoint de Qalandia.)

09 dezembro 2005

Os cromos da bola

Via "Tomar Partido" (excelente blogue de que se dispensava o incontido benfiquismo...), descobri um blogue que muito dirá a quem tem aproximadamente a minha idade (36) e gosta de futebol. Trata-se de "O Cromo dos Cromos", nome já de si bem apanhado. Por lá desfilam cromos de jogadores que marcaram uma época, quanto mais não fosse pelo pitoresco dos nomes que ostentavam os artistas da bola: Cabumba, Caio Cambalhota, Bolota, Biffe, Bobó, Chico Gordo... E mais não digo para não tirar o apetite aos nostálgicos.
Como devem ter reparado pela amostra, e felizmente, não há incidência especial por "certos" clubes, antes se abrindo o leque das agremiações representadas, desde o velhinho Atlético ao sempre pronto a despontar Leixões.
Só no meu Belenenses há ainda muitos cromos com nomes patuscos a redescobrir, como Carneirinho e Sambinha...
Deliciem-se, que a visita vale mesmo a pena.

Sobre Camarate

Um anónimo (who else?) criticou a ausência de referências neste blogue aos 25 anos passados sobre o despenhamento do Cessna em que seguiam Sá Carneiro, Amaro da Costa e outros. Dar-lhe-ia razão pela omissão se o "Santos da Casa" fosse um espaço de exaustiva análise da actualidade e não uma modesta tribuna de debate de alguns temas, à medida do meu tempo livre e disposição.
Depois, o tom malicioso da crítica, à anónimo, pouco me predispõe a responder. No entanto, o tema merece que lhe dediquemos algumas linhas.
Para mim, Camarate foi um atentado. Por aquilo que li (e vi: "Camarate", o filme de Luís Filipe Rocha é um documento extraordinário - e credível), pela conspiração do silêncio e pela pressa do arquivamento de que deram mostras muitos políticos e magistrados de Portugal, à revelia das provas mais ou menos concludentes de que não se estava na presença de um simples acidente, levam-me a esta conclusão.
Quem é que estaria interessado em que o primeiro ministro de Portugal e o ministro da defesa morressem? Eanes, a lutar por uma reeleição? Soares, por despeito perante quem lhe fazia sombra na sua luta permanente e grotesca por um lugar de destaque na governação do país? Os militares envolvidos em negociatas obscuras, investigadas e conhecidas por Amaro da Costa? Os comunistas, desconfiados de quem dissera um dia que «o problema do comunismo em Portugal resolve-se por via administrativa»?
Pode-se especular ad infinitum sobre as motivações do crime e seus beneficiários (reais e potenciais). Pode-se até admitir, mesmo pela conjunção de acções tendentes ao arquivamento do processo, a hipótese de uma acção conjunta de diversos sectores da sociedade portuguesa interessados em que as figuras citadas desaparecessem sem fazer "mais estragos".
Uma coisa é certa: 11 de Março, 25 de Novembro, 4 de Dezembro são datas fulcrais na vida do "Portugal democrático" que continuam envoltas numa núvem de especulação e incerteza. Que tem beneficiado muitos dos principais actores políticos (e não só) dos últimos 30 anos. Que são, como se sabe, tudo menos uma história de sucesso - para o País, não para alguns.

08 dezembro 2005

Perante a morte

A morte nas palavras de dois escritores proscritos da literatura oficial do século XX:

«Escrever torna-se cada vez mais penoso. Na juventude, escrever era um acto de alegria. Tudo aquilo em que tocava, homens, coisas e deuses, tornava-se poesia e felicidade. O mundo parecia ignorar a tragédia, a morte não passava de um simples conceito, inconcebível enquanto realidade pessoal. Na velhice, tudo o que toco torna-se tragédia, mesmo as coisas que não me dizem respeito, a história dos outros. A morte faz-me sinais, serve-se dos que me rodeiam para se fazer lembrar a cada instante, para que à minha volta só exista um mundo feito à sua imagem. Por este motivo, escrever torna-se cada vez mais triste. Cada letra representa mais um passo, menos um minuto.»

Vintila Horia, “Deus nasceu no Exílio”, Ambar, Colecção Cântico Final, Porto, 2002.

«Aqui estamos mais uma vez sozinhos. Tudo isto é tão lento, tão pesado, tão triste... Dentro de pouco tempo estarei velho. Tudo então se acabará. Tanta gente que passou aqui por este quarto. Disseram coisas. Não me disseram grande coisa. Foram-se embora. Envelheceram, tornaram-se lentos e miseráveis, cada qual no seu recanto da terra.»

Louis-Ferdinand Céline, “Morte a Crédito”, Assírio e Alvim, Lisboa, 1986.

07 dezembro 2005

Abono de família para os imigrantes

Os imigrantes titulares de autorizações de permanência vão começar a receber abono de família, anunciou hoje o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira.
A notícia do “Diário Digital” não o refere mas já em Agosto o Provedor de Justiça tinha feito uma sugestão nesse sentido, que poderia implicar alteração da legislação vigente (conferir aqui). Sugestão aceite, pois que o Governo está já a preparar as alterações necessárias para alcançar tão humanitário desiderato.
O ministro anunciou ainda que «a nova política de imigração vai promover uma racionalização dos fluxos migratórios», afirmação que certamente ninguém compreende o que possa significar. Presume-se que se refira a medidas tendentes a que os controlos nas fronteiras não sejam demasiado penalizadores para quem demanda a nossa terra. Podemos então dormir descansados.

06 dezembro 2005

Novo líder dos Conservadores

O novo líder do Conservative Party, David Cameron, declarou no discurso de vitória que «the Tories must change and be in tune with today's Britain». Jim Hacker?

05 dezembro 2005

Os Cristãos-Novos vistos de Israel

A ler, este artigo do “Haaretz” sobre o fenómeno do cripto-judaísmo em Portugal, não tanto pelo rigor da análise mas para se ter uma ideia de como o fenómeno é visto de Israel. De estranhar (ou talvez não) a omissão de referências a um português de origem judaica com um certo destaque no nosso sistema político...

Ditadura cultural e meios de lhe fazer frente

Tem-se debatido ultimamente na blogosfera que comodamente podemos designar nacional o papel predominante que a esquerda detém nos meios de comunicação no mundo ocidental.
Há uns tempos lancei, entre o sério e o divertido, a ideia de uma revista que congregasse a colaboração de várias tendências nacionais (ver aqui e aqui). É curioso ler os comentários de então para vermos como esse anelo é tão ou mais forte hoje como há seis meses.
Alguns mais pragmáticos pensaram logo na questão do financiamento como factor impeditivo de concretização. Outros favoreciam a criação de um blogue colectivo. O debate mantém-se, continuando a haver mais interrogações que respostas.
Como em qualquer plano de marketing, deve-se analisar o mercado e a conjuntura. Antes de mais, a necessidade resulta da constatação da uniformização crescente (orientada à esquerda) da opinião veiculada pelos media. Os próprios espaços de opinião, outrora “últimos redutos” de alguma independência face à ideologia dominante, são cada vez mais controlados, como se viu recentemente com o DN, que afastou quatro “indesejáveis” (Blanco de Morais, Freitas da Costa, Xerez e Mendia).
A política, como bem caracterizou o Rebatet, também de plural só tem a alcunha, pois há “valores” (nomedamente monetários) que são comuns a todos os partidos: solidariedade e inclusão, igualdade e discriminação positiva (não ocorre a essas excelências que estes dois últimos são mutuamente exclusivos”!), mercado e regulação (idem!), ambiente e crescimento (idem!!!), liberdade e controlo dos extremismos (as contradições são infindáveis). Falar-se em Nação, povo português, interesse nacional, tradição, símbolos nacionais é cair sob o opróbrio do rótulo de reaccionário, fascista, que sei eu. E com dois ou três epítetos deste jaez se liquidam as chances mediáticas de quem procura defender os valores citados.
Este o enquadramento. Formas de contrariar esta tendência? O mais expedito e imediato é socorrermo-nos dos meios que temos à nossa disposição e aqui vem logo à mente a internet, como meio de fácil propagação de ideias. A propagação é fácil mas a difusão nem por isso, o risco de se funcionar entre “amigos”, num círculo fechado, é enorme, daí, como já defendemos em tempos, a necessidade de se estabelecerem pontes com outras tendências: com as inconciliáveis apenas para mostrar que existimos; com aquelas em que há valores comuns (defesa da vida, imigração limitada, soberania nacional) tem-se uma oportunidade de criar grupos informais de debate de ideias, podendo passar-se a nossa mensagem com algum êxito. A chave é não abdicarmos daquilo em que acreditamos (mal de nós e da nossa dignidade), tentando difundi-lo com uma postura construtiva, evitando radicalismos de linguagem que só dão argumentos aos “rotuladores”.
Já fui mais avesso à ideia de um blogue colectivo, embora continue com reservas quanto à capacidade de angariação de leitores em quantidade superior à audiência que terá na actualidade o ou os mais lidos no nosso campo. E a ameaça de cisões e tricas é sempre muito forte, podendo levar ao rápido colapso do projecto.
Uma revista, com maior controlo editorial e preparação prévia das matérias, tem maior possibilidade de influenciar duradouramente a opinião pública. Devagar mas com determinação. Ideias precisam-se.

04 dezembro 2005

Abram alas para o Noddy


A exemplo do nosso amigo Pedro, também eu assisti ao “Noddy Live!” no Pavilhão Atlântico, em Lisboa. O sucesso foi tremendo e tanto crianças como adultos saíram agradados da sala de espectáculos.
A Cidade dos Brinquedos, palco das aventuras, é um mundo quase pacífico, onde só as diabruras dos duendes Sonso e Mafarrico perturbam a quietude e harmonia dos habitantes. Noddy é o jovem generoso mas também ingénuo que é amiúde enganado pelos malandretes. Podemos ver aqui a temática de tantos e tantos contos de fadas hoje tidos por reaccionários, em que os heróis puros são frequentemente envolvidos em tramas gisadas por perversas personagens de nariz adunco, tal como o Mafarrico...
A série entretanto perdeu um personagem negro, após protestos de politicamente correctos “opinion makers”, acompanhados por autos-de-fé (dos bons – democráticos) dos livros de Enyd Blyton. De cor, resta a Boneca Dina, simpática personagem, embora algo apagada, sem grande intervenção nas histórias.O Sr. Lei, o simpático mantenedor da ordem, é o garante da paz na Cidade dos Brinquedos, onde, como já referimos, a harmonia e os bons sentimentos reinam. Tudo características para desagradar a muita gente que propugna o relativismo em todas as esferas da sociedade. E que no entanto continuam a agradar a miúdos e graúdos: afinal de contas, essa harmonia no seio de uma comunidade e os bons sentimentos a prevalecerem sobre o mal estão instintivamente presentes na mente da grande maioria das pessoas.

03 dezembro 2005

A entrevista de Le Pen à BBC

Ao acaso de um “zapping” antes de jantar, assisti em Bilbao à entrevista de Le Pen à BBC que tanta polémica está a dar.
A minha opinião é que mais uma vez se faz uma tempestade num copo de água. O líder da FN abordou os tumultos de Paris, referiu que todas os dias arde uma centena de automóveis em França, ou seja, aquilo que os media e os políticos do sistema referem como um regresso à calma, representa nada mais nada menos que quase 40.000 viaturas queimadas por vândalos a cada ano que passa!
Para indignação do ridículo entrevistador (que teve sempre aquela expressão de quem está extremamente incomodado por estar na presença de “tal personagem”), Le Pen lembrou o óbvio: que a grandíssima maioria dos crimes cometidos em França é obra de imigrantes. Também indignou o “impecável democrata” ao dizer que não é racista, que respeita os outros povos, mas que prefere o seu! Grande crime, este.
Le Pen foi ainda acusado, completamente fora de contexto, de ser um racista e um anti-semita. Quando não há argumentos recorre-se ao insulto gratuito. Que recurso “republicano” restava ao energúmeno, depois de Le Pen ter referido que já nos anos 50 tinha nas suas listas eleitorais negros e árabes? Reafirmou que nada tem contra a presença desses povos no seu país, desde que em número relativamente reduzido. (E outro facto, pouco conhecido, daria ainda mais força à sua argumentação: há três décadas colaborou na edição de um disco de música tradicional judaica.)
Finalmente, a questão do “point de détail”. Le Pen repetiu a famosa frase de que “as câmaras de gás são um pormenor [ou um detalhe] da Segunda Guerra Mundial, nem Churchill, nem de Gaulle, nem Estaline as mencionam nas suas memórias”. Embora haja alguma provocação, a frase, se não retirada do contexto, significa que no meio do horrror da II Guerra, com crimes cometidos por todas as partes em conflito, o drama judaico será mais um no meio de muitos. É, a meu ver, uma forma (que se presta a polémica, necessariamente) de afirmar o que devia ser óbvio: que não há povos mais merecedores do que outros de compaixão quando se fala de morte e desolação no grande conflito mundial. Pecado, portanto. E como hoje em dia certos “pecados” são tratados em tribunal, o sr. Le Pen pode já contar com mais umas sessões lá passadas.

02 dezembro 2005

Bellas Artes ou Gugenheim?

A minha estadia em Bilbao (Bilbo em basco) não me deixou muito tempo livre para explorar a cidade, de modo que as impressões que aqui ficam são bastante limitadas.
A renovação urbana da cidade nas últimas décadas (pensada e levada a cabo por um grupo de empresários, banqueiros, políticos) deu-lhe um ar menos decadente e mais virado para o futuro. A zona do porto foi alvo de grandes intervenções, o Museu Gugenheim tornou-se imagem de marca da "nova Bilbao", os prédios limpos e as avenidas rearranjadas afastaram um pouco a imagem da cidade escura e feia.
Imagem que rapidamente nos volta quando passamos pelos subúrbios, densamente povoados (Barakaldo, Sestao, etc.), com prédios extremamente feios, escuros e altos, plantados um pouco ao acaso, alguns quase "em cima" da via rápida (autopista), arvorando inclusive faixas com dizeres como "Autopista fuera", "Basta de engaños", "Basta de ruído"... O facto de a grande Bilbao ser uma zona de grande indústria contribuíu para o aumento populacional e para o crescimento destes subúrbios e para a degradação geral com o colapso e redimensionamento das actividades produtivas. O trânsito é, a meu ver, uma verdadeira praga, dado que há muitas ruas estreitas que não dão fluidez ao tráfego.
A cidade propriamente dita não tem uma grande extensão e os pontos de interesse não são numerosos: algumas igrejas, museus (o Gugenheim, já citado, Bellas Artes, Arte Sacra, Arqueológico), a zona portuária, a zona velha.
Ao contrário do que testemunhei em Barcelona com o catalão, a língua basca não tem grande utilização em Bilbao (certamente não se passará o mesmo em outras cidades e sobretudo em meio rural). Apesar de as informaçãoes gerais serem bilingues, a povoação privilegia o castelhano no dia a dia, até porque os mais velhos não beneficiaram da aprendizagem da língua (disponível já só nos anos 80). Houve uma tentativa de uniformização desta (dadas as variantes locais) e é o resultado desse trabalho que é ministrado nas escolas.
Bilbao, num aspecto particular, parece uma cidade europeia "à antiga"- quase não se vê imigrantes: um negro aqui, um asiático acolá, um ou outro ameríndio... Já para os amantes do belo sexo a cidade não está mal provida de atractivos...
O atendimento em hotéis, restaurantes, lojas, táxis é muito bom: afabilidade, prestabilidade, educação, simpatia. Achei curioso o facto de nos restaurantes, ao contrário do que é habitual em outras zonas de Espanha, as pessoas não falarem alto, não havendo aquele ruído permanente de comensais em grande animação a falar a 200 à hora.
Não vi sinais de actividades independistas ou de simpatizantes do terrorismo etarra, a única manifestação (com não mais de 20 pessoas) que encontrei era a respeito da situação do Sahara Ocidental.
Lamentavelmente não arranjei tempo para visitar o Museu de Bellas Artes, com uma colecção alargada em termos temporais (Van Dyck, El Greco, Cézanne...), que preferiria ao modernismo do Gugenheim - questão de gosto e sensibilidade estética.
As minhas compras limitaram-se às secções de discos (três CDs de compositores bascos que desconhecia mais a edição comemorativa dos 25 anos - estou velho! - do histórico "Ocean Rain" dos Echo and The Bunnymen), livros (infantis para os meus petizes e um sobre Bilderberg) e brinquedos... Já que falamos em livros, as edições de não-ficção mais em destaque não surpreendem pelos temas: Franco, guerra civil, ETA, independentismo basco, islamismo - e Sudoku.
Ao contrário de Barcelona, Bilbao, embora não deixe uma recordação desagradável, não é uma cidade que tenha ficado no roteiro dos lugares a revisitar.

01 dezembro 2005

De regresso

De regresso do País Basco, quero antes de mais saudar este dia, que devia ser de grande orgulho para todos os portugueses autênticos. A este respeito, podem ler o que publiquei há um ano.
Amanhã deixar-vos-ei as minhas impressões de Bilbao, sendo que não tive muito tempo livre para fulanar pela urbe. O tempo também não ajudou (chuva e algum frio).
Até amanhã e viva Portugal!