13 março 2006

Horizonte

De súbito, por entre as brumas do desânimo, divisou-se a linha do "Horizonte"...

To close or not to close

Como é de calcular, uma decisão como a de encerrar este blogue não é tomada de ânimo leve e, como tal, os incentivos generosos que tenho recebido não a alteram. O que não quer dizer que não os tenha em consideração, longe disso. Mas seria também uma falta de respeito para com os que por aqui passam dizer um dia que fecho e no outro que já não fecho. Não se brinca com os fregueses e muito menos com as suas expectativas.
Pese a reacção quase imediata de muitos leitores, nem um só focou, creio que por gentileza e boa educação, o que para mim é flagrante: que este blogue há já vários meses (e não semanas) carece de inspiração. Os postais sucedem-se, monotonamente, sem nada que exalte especialmente quem escreve e, presumo, quem lê. Quando releio o que escrevia no meu antigo poiso e o comparo com o que venho deixando por aqui, o contraste é flagrante. Será uma desadaptação de imigrante??? Brincadeiras à parte, é efectivamente um caso de desinspiração. E de falta de tempo.
Sou um indivíduo exigente consigo próprio, tanto neste mister como no trabalho ou nas relações inter-pessoais. Se me meto num projecto é para o levar a cabo com esse nível de exigência. Se escrevo um postal, devo previamente analisar um mínimo sobre o tema em apreço, de outra forma estarei a servir de câmara de eco a uma notícia, apondo-lhe um ou outro comentário mais ou menos a atirar para o demagógico (sinto que já o fiz várias vezes), quiçá para confortar os leitores azedados com o politicamente correcto que os (nos) circunda.
A falta de tempo não se reflecte só na possibilidade reduzida de ler e estudar mais antes de escrever um texto, reflecte-se também no menor (ou, presentemente, quase nenhum) tempo dedicado a transcrever passagens de livros, sejam ensaios ou romances, poesia ou história, algo que outrora enriquecia bastante o blogue, dando pistas aos leitores, permitindo os seus comentários sobre temas menos candentes da actualidade mas não menos inspiradores para quem se orgulha da cultura nacional e ocidental. E para quem gosta de pensar, debater. E que me enriqueceu não poucas vezes, abrindo horizontes.
Em resumo: não me sentindo ao nível de exigência (nem perto dele) que requeiro para esta empresa, não sinto que seja correcto, como escrevi ontem, deixar este espaço num estado semi-vegetativo.
Dito isto, não fechei nenhuma porta. Nem é correcto falar-se, como alguns fizeram (certamente imbuídos das melhores intenções), em desistência. Foi palavra que não empreguei, nem o costumo fazer na minha vida. Trata-se de uma pausa, sem duração definida. Poderei reactivar o blogue, ou não. Outra hipótese, mais real, será abrir um novo: com menos actualizações, com mais textos próprios e mais extensos. É para aí que estou virado de momento.
E sabem uma coisa? Escrever este postal entusiasmou-me: sei que tenho os melhores leitores do mundo.

12 março 2006

Finito

Qualquer leitor mais ou menos atento ao que se escreve por aqui já reparou na falta de fôlego deste blogue de há uns tempos a esta parte. Cansaço, desinteresse, falta de tempo, desmotivação, problemas familiares, profissionais e agora até a frequência de um curso universitário de um semestre levam-me a tomar a decisão de suspender este blogue.
Criei o "Santos da Casa" com o entusiasmo de quem se sentiu estimulado pela leitura de alguns blogues de grande qualidade, de cujos autores aliás sempre recebi incentivos. Não quereria por nada que este espaço continuasse activo por obrigação, num estado semi-vegetativo. Felizmente a blogosfera de qualidade está muito bem representada em Portugal. Não vou fazer referências a nenhum blogue em particular, quem por aqui foi passando sabe bem quais são as minhas maiores simpatias.
Vou continuar leitor atento e comentador activo dos meus blogues preferidos. Vêmo-nos por aí.
Para algum dia reactivar este blogue ou criar um novo é preciso que sinta o entusiasmo que tinha em Outubro de 2004.
Um abraço forte a todos os meus leitores e amigos.

10 março 2006

Televisões

Umberto Eco, com quem não me identifico especialmente, interrogado sobre o que pensava da televisão, disse acertadamente que o que lhe fazia impressão no que ao pequeno écran diz respeito era o tempo que os intelectuais dispendiam a falar dele - ou pregados a ele.
Eu penso o mesmo, não só dos intelectuais (que em boa percentagem estimulam o nosso intelecto em bem reduzida medida, dados os parti pris estéticos e ideológicos que ostentam) como de todas as pessoas de cultura e bom gosto, conhecendo muito exemplos neste grupo que efectivamente torram horas do seu precioso tempo vidrados aos 51 cm.
Não sou daqueles que nunca (ou dizem que nunca) vêem televisão. Gosto de ver uma boa partida de futebol, embora raramente esteja 90 minutos atento ao desafio (excepto se o Belém for um dos contendores), um bom filme (embora não veja mais que 2 num mês, normalmente escolhidos a dedo na programação do Cabo), às vezes uma ópera, alguns documentários. Noticiários vejo rarissimamente: além do sensacionalismo ambiente da maior parte, prefiro chegar às notícias pela leitura de jornais, revistas ou internet (blogues, sobretudo!). Assim, posso filtrar o que me interessa e não estar dependente do alinhamento caprichoso do telejornal.
Muitas vezes fico desfasado com questões da actualidade, confesso. Mas não me importo muito, evito seguir a política nacional, cujo acompanhamento permanente só serviria para me irritar solenemente; tento apenas não perder o fio à meada, mas do parlamentarismo não há nada de positivo a esperar por isso para quê saber das tricas, insultos, polémicas entre políticos na verdade tão assemelhados...
Às vezes, nomeadamente no emprego, pois não escolhemos os colegas de trabalho, pareço um bicho raro, pois nem sei do que é que as pessoas estão a falar, seja da última discussão no parlamento, seja da última produção da TVI (aí então a minha ignorância é total), seja ainda do que certo dirigente de certa agremiação desportiva pouco recomendável disse de um seu rival.
Prefiro estar, como disse, algo desfasado destas actualidades. Se há tão pouco tempo livre, que é repartido entre família e hobbies, se nunca hei-de ler todas as "Vidas Paralelas" de Plutarco, para que é que hei-de gastar horas a ler o editorial deste ou daquele pasquim, ou a seguir os sucessos atrás referidos? De qualquer modo já me sinto desfasado desta sociedade, trata-se apenas de fazer corresponder o sentimento à prática...

09 março 2006

Pura poesia

Com um abraço para o Mendo.














"Tabu", de Friedrich Murnau (1931).

O deserto...

Agora que o avançado Ceará regressou ao Restelo, lembrei-me de uma reportagem que a RTP N fez em tempos sobre o Vilafranquense, o clube mais representativo do concelho de Vila Franca de Xira (pelo menos desde que o Alverca abandonou o futebol profissional), mas em franca decadência.
No intervalo de um jogo, a jornalista entrevista um adepto, que lamenta:
- Há uns anos estas bancadas estavam cheias, agora é o que vê, quase ninguém, parece o deserto do Ceará.
- Quer dizer, do Sara?
- Não, não, o deserto do Ceará.
- Mas Ceará fica no Brasil, não é?
- No Brasil, ó senhora jornalista, Ceará, o deserto do Ceará, em África!

Há dez anos...

... era notícia a chegada à Presidência da República de um senhor com cinco nomes.
Mas o então director do agora defunto "O Dia", Silva Resende, falava de outra

NOTÍCIA

O jornal Tribune Juive, que se publica em França e é porta-voz das comunidades judaicas fora de Israel e principalmente as ligadas às lojas maçónicas, embandeira em arco com a eleição de Jorge Sampaio para a presidência da República em Portugal. E dá à notícia foros de sensacionalismo: «Jorge Bensaúde de Castillo Branco Sampaio é o Primeiro Presidente português judeu desde a Inquisição» .Penso que os Portugueses, em geral, desconheciam no actual presidente essa espécie de dupla nacionalidade que os judeus hoje reclamam desde que se instaurou o Estado de Israel: como em geral desconheciam a totalidade dos seus apelidos que reflectem essa ascendência hebraica, aliás de velhas tradições em Portugal.Conhecendo se a solidariedade que desde sempre reinou entre os judeus fazendo deles o único povo que ao longo dos milénios resistiu a qualquer miscigenação, ficará decifrado o mistério dessa candidatura, os seus estranhas tempos de intervenção, a surpresa de certos apoios e a certeza de vitória que desde o primeiro momento animava os seus oráculos.Nestas e noutras questões, os judeus não costumam perder. Evidentemente, a Inquisição é aqui metida como o Pilatos no Credo, pois que a República se fundou em Portugal em 1910; mas como a Tribune Juive nada publica em vão, quer significar que à cabeça do Estado em Portugal é a primeira vez que desde a Inquisição figura um homem de ascendência judaica a qual — sublinha o jornal — prenuncia uma lua de mel diplomática entre Portugal e Israel. E acrescenta: «estas relações eram já excelentes sob os sucessivos mandatos do irmão Mário Soares».E continua o mesmo jornal: «Sampaio visitou já duas vezes Tel Aviv. E a sua primeira permanência em Israel constituiu para ele verdadeira jornada iniciática pois que, a exemplo da maioria dos judeus portugueses, não tinha recebido nenhuma educação judaica».Não falta aqui o próprio testemunho de Sampaio dirigido a Benyamin Oran, representante diplomático em Lisboa: «quando visitei Israel senti alguma coisa de muito forte a vibrar dentro de mim e posso dizer que descobri então dentro de mim a minha condição de judeu». Para completar a descoberta, a notícia, que certamente a maioria dos portugueses desconhecem, refere que Sampaio milita desde a juventude na extrema esquerda e que foi nessa qualidade que o elegeram para a Comissão dos Direitos do Homem do Conselho da Europa. E aqui está como estes dados, postos festivamente na Tribune Juive, foram estranhamente sonegados na imprensa portuguesa.

Silva Resende, "O Dia", 26.06.1996.

Postal para o Buiça...

... e para todos os que gostam de Pink Floyd e/ou de costas...















Recomendação: este site tem canções prontinhas a descarregar para o vosso computador, a maior parte bootlegs, ou seja, gravações-pirata raríssimas. E pelo menos uma vez por semana incluem-se novos temas para guardar.

06 março 2006

Killing is fun

Uma excelente reflexão (devidamente documentada com exemplos vídeo) sobre a violência gratuita de alguns soldados americanos no Iraque e o delírio que neles provoca o assassinato de iraquianos.
Guerra de libertação, promoção da democracia, so they say.

Vai um patinho?















(Desenho de Côté, "Le Soleil", Canadá.)

05 março 2006

In Memoriam

A cinco dias de completar 52 anos de idade, morreu no passado dia 2 o poeta e jornalista Fernando Tavares Rodrigues, cuja poesia lírica impressionou gerações de leitores e foi musicada entre outros por José Campos e Sousa.
Aqui fica em jeito de homenagem a sua

CARTA DE AMOR

Para te dizer tão-só que te queria
Como se o tempo fosse um sentimento
bastava o teu sorriso de um outro dia
nesse instante em que fomos um momento.
Dizer amor como se fosse proibido
entre os meus braços enlaçar-te mais
como um livro devorado e nunca lido.
Será pecado, amor, amar-te demais?
Esperar como se fosse (des) esperar-te,
essa certeza de te ter antes de ter.
Ensaiar sozinho a nossa arte
de fazer amor antes de ser.
Adivinhar nos olhos que não vejo
a sede dessa boca que não canta
e deitar-me ao teu lado como o Tejo
aos pés dessa Lisboa que ele encanta.
Sentir falta de ti por tu não estares
talvez por não saber se tu existes
(percorrendo em silêncio esses altares
em sacrifícios pagãos de olhos tristes).
Ausência, sim. Amor visto por dentro,
certezas ao contrário, por estar só.
Pesadelo no meu sonho noite adentro
quando, ao meu lado, dorme o que não sou.
E, afinal, depois o que ficou
das noites perdidas à procura
de um resto de virtude que passou
por nós em co(r)pos de loucura?
Apenas mais um corpo que marcou
a esperança disfarçada de aventura...
(Da estupidez dos dias já estou farto,
das noites repetidas já cansado.
Mas, afinal, meu Deus, quando é que parto
para começar, enfim, este meu fado?)
No fim deste caminho de pecados
feito de desencontros e de encantos,
de palavras e de corpos já usados
onde ficamos sós, sempre, entre tantos...
Que fique como um dedo a nossa marca
e do que foi um beijo o nosso cheiro
Tesouro que não somos. Fique a arca
que guarde o que vivemos por inteiro.

04 março 2006

União Europeia das Repúblicas Soviéticas

Um antigo dissidente da URSS, Vladimir Bukovsky, alertou em Bruxelas para o facto de a UE se estar a tornar um monstro totalitário, uma nova URSS.
Bukovsky teve acesso, em 1992, a muitos documentos soviéticos classificados, tendo descoberto a existência de uma conspiração para tornar a então CEE em uma organização socialista: líderes de partidos de esquerda europeus, alarmados pela revolução liberal thatcheriana, ter-se-ão conluiado com Gorbatchev para promover a ideia de uma Europa federalista. A URSS estretanto desmoronou-se mas o projecto federal europeu só tem ganho força.
A ler obrigatoriamente, aqui.

02 março 2006

A URSS por detrás do atentado ao Papa

Não se pode dizer que constitua uma surpresa a revelação, por parte de uma comissão parlamentar italiana, de que a URRS foi responsável pelo atentado ao papa João Paulo II, em 1981. A inquietação do Kremlin face aos protestos fortemente politizados do sindicato Solidarnosc era crescente e era conhecido o apoio do Papa à luta contra o comunismo.
O seu exemplo frutificou no seu próprio país e teve a sua máxima expressão na coragem do padre Popiełuszko, que nos seus sermões criticava ferozmente o comunismo. Essa atitude custou-lhe a vida, em 1984, em mais um atentado do KGB.
Mas o efeito bola de neve foi imparável e cinco anos depois começava a desmoronar-se o mundo comunista. Muito graças a homens como os citados.

Corneille, Brasillach e os fantasmas

A reedição do "Corneille" de Robert Brasillach já faz ranger os dentes a muita gente! Ora vejam vocês mesmos a crítica de Pierre Assouline. Já pus a minha colherada nos comentários...

(Via "Abrupto".)