27 novembro 2005

Ausência

Parto amanhã em trabalho para Bilbao, de onde só regressarei na quinta-feira, dia da Independência. Por esse motivo, este blogue faz uma pausa, necessária até para retemperar forças e motivação.
Infelizmente vou perder a apresentação do livro de poemas de Natal de Rodrigo Emílio, bem como o jantar que se lhe segue, com a presença sempre entusiasmante de José Campos e Sousa. Quem por cá ficar, não perca. Detalhes (e inscrição), no "Nova Frente".
Até breve.

26 novembro 2005

Rebate de Natal

Rebate de Natal — I
Os sinos da velha Goa
rebatem, todos, à toa,
num uníssono que voa
— que reboa — até Lisboa...

... E os seus sons jamais soçobram.

(Nessa voz que nos povoa
de sinos como os de Goa,
diz lá, Fernando Pessoa:

— POR QUEM é que OS SINOS DOBRAM?...)

Tocam sinos, em Lisboa,
por sinos que já não tocam...
(Lembro Goa,
tendo em conta
que de Goa
fiquei órfão.

... Mas não choro só por Goa
— que, a par da perda de Goa,
mais perdições se recortam...!)

Nessa voz que não perdoa,
e em que ecoa o sursum cordam,
diz lá, Fernando Pessoa:

— POR QUEM é que OS SINOS DOBRAM?...
Ai campanários de Goa,
que nem d’entre brumas afloram!...

(Conquanto o dobre te doa,
diz tu, Fernando Pessoa:
de que longe
vem bronze
dos acordes
que os acordam...!?)

À mercê de “cara ou c’roa?”,
cinco séc’los se revogam...
O Tejo — virou lagoa;
este solar — virou sótão
que a solidão sobrevoa
e só d’onde abrolhos brotam...

Ai, sinos dos céus de Goa!...
Velho mastro... velha proa...
velha Goa..., velho órgão...

Nesse canto que de Goa
a Diu, Damão, te apregoa,
diz lá, Fernando Pessoa:

— POR QUEM é que OS SINOS DOBRAM?...

(Natal de 1980)
Rodrigo Emílio, "Pequeno Presépio de Poemas de Natal", Antília, 2005.

25 novembro 2005

Canal de histórias

O blogue "Combustões" já nos caracterizou sumariamente a emissão que o Canal História dedicou a evocar a memória de Franco e do franquismo.
Foi, de facto, um mau serviço prestado ao rigor histórico e a um mínimo de independência de análise. Além das conclusões anedóticas que o Miguel Castelo-Branco listou, podemos acrescentar mais umas quantas, para que fiquem com um quadro ainda mais elucidativo sobre esta jornada de mistificação:
- para um comentador, o franquismo assentava em quatro pilares: o exército, a Igreja, a grande burguesia e a corrupção!
- o mesmo, algo incomodado com a questão do desenvolvimento económico franquista, declarou que este decorreu não de Franco mas apesar dele...
- no filme de uma hora que era suposto dar um enquadramento ao tema, falou-se do apoio da Itália e da Alemanha aos nacionalistas mas nem menção do apoio soviético aos republicanos! Nem "conselheiros militares" soviéticos (que passaram a decidir quase em exclusivo o rumo das operações militares no campo republicano), nem milhões do Banco de Espanha recambiados para Moscovo em troca da "generosa" ajuda estalinista, nem fuzilamentos frequentes dos republicanos que ousavam pôr em causa a predominância soviética no seu campo, nem cooperativas anarquistas destruídas pelos comunistas - nada, um branqueamento total;
- escusado dizer que também nada foi referido das exacções praticadas pelos republicanos sobre os representantes da Igreja ainda antes de a Guerra Civil começar; apesar de se falar da greve nas Astúrias, o espectador mal informado deve achar que na Espanha republicana a vida decorreu sem problemas de maior;
- Franco quis entrar na II Guerra e foi Hitler que se não mostrou interessado! Também nada se disse sobre o facto de Salazar ter insistido junto de Franco para que não desse permissão aos alemães para entrarem em território espanhol para aceder ao Mediterrâneo (após mais uma conversa frustrada com Franco, Hitler desabafou que «preferia arrancar os dentes todos a ter que falar com Franco novamente»!). Também ficámos a "saber" que a Falange era mais germânica (sic) que o próprio regime nazi!

25 de Novembro

«Estão a fazer-me sinais, não sei, penso que posso continuar. Não? Serão problemas técnicos?» (Fim de transmissão, seguida da exibição de um filme com Danny Kaye.)
Esta cena caricata protagonizada pelo militar Duran Clemente em directo na RTP, no dia 25 de Novembro de 1975, ficou como um símbolo do fim da aventura revolucionária, iniciada em 25 de Abril de 1974 e que entrou em perfeito delírio a partir de 28 de Setembro do mesmo ano, com o auge no 11 de Março de 1975.
Sugiro aos meus leitores a releitura do que escrevi nas datas assinaladas, pois acho que, modéstia à parte, são um bom resumo do ambiente da época e das implicaçãoes para o nosso futuro colectivo.
O Comandante Jaime Neves ficou na história como aquele que, passe a expressão, acagaçou completamente os golpistas de extrema-esquerda, à cabeça dos seus comandos. Anos depois, aí por volta de 1979, tinha eu dez anos, houve "sarrafusca" no Estádio do Restelo, após um roubo "daqueles". A malta azul fez uma espera ao árbitro e depois a polícia tentou desmobilizar os indignados adeptos. Do meio da confusão que se gerou sobressaíu o grito de uma senhora toda aperaltada: «chamem o Jaime Neves!».

24 novembro 2005

Internazionale

A equipa do Marítimo SC que derrotou na passada segunda-feira o meu Belenenses por 1-0 contou com apenas um português no onze titular (os azuis alinharam com seis). Não sei qual será o grau de integração (!) do pobre Briguel no ambiente multicultural que já é imagem de marca do clube que recebe uns dois milhões de euros anuais do governo regional, tendo portanto dez milhões de sócios involuntários (os contribuintes).
Cinco argentinos, dois brasileiros, um camaronês, um português, um colombiano e um uruguaio: onze estrangeiros constituíam ontem a equipa titular do Inter de Milão frente ao Artmedia, um pouco excessivo mesmo para um clube chamado Internazionale, graceja o "Corriere della Sera".
À indignação do jornal "Padania" reagiram responsáveis do clube, debitando a litania habitual sobre racismo, mestiçagem, multiculturalidade, bla, bla, bla. Para quem ainda tem ilusões sobre a Alleanza Nazionale, exemplares serão as palavras do seu deputado Nemmeno Ignazio La Russa: «como adepto interista aceitarei tudo para vencer um título, inclusive uma equipa com onze clandestinos». Blague ou não, estas palavras reflectem bem o estado de deliquescência a que chegámos.

Presidenciais

Como já por aqui confessei, sigo a política portuguesa com muito pouco interesse e a maior parte do que vou acompanhando é via blogues. Convém não estar completamente desfasado do que se vai passando mas há muita coisa que me passa ao lado.
Intrigas, insultos, guerrilha permanente, interesses dos partidos acima (muito acima) do interesse nacional, negócios obscuros - todas as taras da democracia encontram a sua viva confirmação na política portuguesa.
Como monárquico a quem a realização de eleições presidenciais horroriza manifestamente, alheio-me das campanhas, debates, artigos de fundo, polémicas que constituem o cortejo fúnebre da pátria que cada eleição confirma. A ânsia de poder é tão grande, a defesa intransigente de interesses mascarada em defesa intransigente de princípios e convicções, levam ao desespero os actores desta triste comédia, recorrendo estes a toda a sorte de truques de retórica, acusações contra os oponentes numa cavalgada alucinante para o abismo. A certa altura vale tudo para ganhar mais uns votitos.
Quem ainda acredita que a democracia representativa pode defender o interesse das nações sofre de um estado avançado de cegueira ou hipocrisia; no primeiro caso, os ingénuos, alguns deles eventualmente bem intencionados; no segundo, os que beneficiam directamente deste estado de coisas. Com ambos estamos bem servidos.

23 novembro 2005

Arrepiante

Escolas que ensinam as crianças sobre actos homossexuais da mesma forma que abordam a sexualidade heterossexual; livros que promovem a homossexualidade adoptados nas escolas primárias; pais que reclamam da educação que recebem os seus filhos nas escolas acusados de homofobia e levados a tribunal.
Cenário de (arrepiante) ficção? Não, realidade vivida neste momento no Canadá.
(Via "Letras com Garfos".)

Incursão futebolística: memória selectiva













Embora possa ferir as suceptibilidades de alguns amigos benfiquistas que por aqui passam, pelo que vai escrito de seguida, vejo-me forçado a fazer uma pequena incursão desportiva neste blogue regra geral sorumbaticamente empenhado em debater questões de política internacional, de história ou música clássica.
Ontem navegava por um blogue desportivo que tem uma foto de Feher e uma legenda com qualquer coisa do tipo “eterna memória”. Não há que pôr em causa a comoção que causou a morte do jovem futebolista em pleno relvado do D. Afonso Hennriques (numa altura em que se multiplicam as bancadas com nomes de patrocinadores, que dizer do bom gosto dos vitorianos que votaram no nome do fundador da nacionalidade para baptizar o estádio?). Mas tal como há vítimas e vítimas ao longo da história, também em Portugal parece haver vítimas com maior peso que outras.
E lembro-me, claro, do jovem (25 anos) e talentoso futebolista Hugo Cunha, falecido há seis meses. Na altura pertencia aos quadros da U. Leiria mas aprendi a admirá-lo como jogador quando fazia parte daquela grande equipa vitoriana que Augusto Inácio construíu e que, à falta de resultados de maior impacto, deliciou os amantes da bola com o seu futebol tecnicista, geométrico e agradável. Era realmente um belo plantel, com nomes como Palatsi, Bessa, Rogério Matias, Nuno Assis, Pedro Mendes, Romeu (agora a mostrar a sua raça no Belenenses) e o nosso Hugo Cunha. Ficaram na minha memória duas estupendas vitórias frente ao Porto e Boavista (ambos por 2-0), tendo nesta última partida Romeu marcado, de calcanhar, aquele que veio a ser considerado o melhor golo dessa época.
Pobre Hugo Cunha, que não jogou no Benfica e que, apesar de português, é muito menos lembrado que um húngaro.
Para muita gente, a começar pelos jornais desportivos, o Benfica é uma nação, sendo os seus sucessos tão ou mais importantes que os das selecções nacionais. Lembram-se do alarido com que a vitória de um espanhol na Volta a Portugal foi celebrada, por ser do Benfica, sendo o derrotado um dos melhores ciclistas portugueses da altura, Vítor Gamito?
Também havia um belenense que dizia que era português por acaso e belenense por convicção. O fanatismo não conhece cores mas a repercussão que o benfiquismo tem é perfeitamente doentia e bem espelhada num livro que teve pouco eco (“et pour cause”), “Benfica Super-Star”, de Júlio Vieira, um conjunto de contos delicioso que nos traz o ambiente fanático que se vivia nos anos 60 em torno do emblema da águia.
Outros jovens jogadores que morreram no auge da sua carreira foram sendo mais ou menos esquecidos: o belenense Pepe, à época considerado o melhor jogador português; Pavão, do FC Porto, falecido no decorrer de um encontro no Estádio das Antas; ou ainda o infortunado João Pedro, da CUF, onde era companheiro do então quase desconhecido Manuel Fernandes, e que também se finou em pleno relvado.
Que descansem em paz e que o seu exemplo de dedicação inspire os jogadores de hoje, muitos dos quais só pensam nos cifrões, nos carros de alta cilindrada e… em pouco empenho.

22 novembro 2005

Encontrada solução para o problema dos "jovens"

«O que faz falta é dar poder à malta», dizia o bardo revolucionário, entre outras coisas que "faziam falta". Analisando o problema da integração dos "jovens" imigrantes, o "Independent" (jornal óptimo na denúncia das práticas sionistas e bushistas, mas regra geral de um conformismo aterrador) crê ter encontrado o problema: discriminação positiva! Ora leiam.
A comparação com os EUA, em que há décadas se pratica a imposição de quotas nas universidades e nas empresas e se implementou o "busing" (transporte escolar de alunos para fora dos seus bairros de residência, de modo a existirem turmas mistas - racialmente falando, bem entendido) é comovente para quem fala de como evitar que certos bairros sejam postos a ferro e fogo, algo que não sucede nos EUA desde que a "boa nova" da discriminação positiva foi anunciada às massas...
«O que faz falta é discriminar a malta!»

O selo

Foi posto a circular há pouco tempo um selo conjunto da Alemanha e de Israel. Do lado esquerdo está representada a bandeira do estado hebreu, do direito a da Alemanha, unindo-as um pedaço de arame farpado, simbolizando o holocausto.
São incontáveis os contributos da RFA e posteriormente da Alemanha reunificada para a consolidação de Israel: contributos materiais, antes de mais, mas também morais: a eterna culpa arvorada pelos teutões concede uma autoridade moral a Israel que leva o estado hebreu a beneficiar de ajuda financeira, militar, etc.
Ao contrário de outros países, como a Turquia em relação aos arménios, a Alemanha fez contrição pelo seu passado - mas persiste e continua, numa exploração despudorada do sentimento de culpa que continua a ser inculcado ao seu povo desde os bancos da escola, para o proveito insaciável de Israel.
Não há dúvida que, e usando as palavras de um escritor judeu, o holocausto é cada vez mais uma indústria.

"Pequeno Presépio de Poemas de Natal"


A Antília Editora convida V.Exa. para o lançamento do livro "Pequeno Presépio de Poemas de Natal" de Rodrigo Emílio, no Círculo Eça de Queiroz, sito no Largo Rafael Bordalo Pinheiro, n.º 4, em Lisboa, dia 30 de Novembro, às 19 horas. A apresentação da obra será feita pelo poeta e crítico António Manuel Couto Viana.
A obra inclui oitenta e cinco poemas de Natal, escritos por Rodrigo Emílio entre 1959 e 2003, sendo estes — na sua grande maioria — rigorosamente inéditos. Apresenta-se ainda um amplo estudo panorâmico do autor, com o título: “O Tema da Natividade na Poesia Portuguesa, a nacionalização poética do Natal e a religiosidade e regionalidade inscritas no mesmo, enquanto motivo de inspiração criadora”, e um prefácio do poeta e crítico António Manuel Couto Viana. Segundo este, "Pequeno Presépio de Poemas de Natal" vem a ser: «Mais um livro fascinante do poeta que na quadra festiva a aproximar-se breve para a nossa comoção cristã (e cito versos de Rodrigo Emílio) nos toca «no presépio/ como prenda», magnífica, «de Natal.».
Antília Editora Lda.Rua 15 de Novembro, 43 - 2.º4100-421 Porto
Email: antiliaeditora@gmail.com
Leia, ouça, conheça e encomende Rodrigo Emílio em www.rodrigoemilio.com.

20 novembro 2005

Memória de Francisco Franco

O diário “El Mundo” de ontem, a propósito dos 30 anos do passamento do Generalíssimo Franco, publica uma sondagem interessante.
Ficamos a saber que se 5,3% dos inquiridos têm uma imagem “muito boa” do ditador (9,8% entre os maiores de 65 anos), 11,6% têm uma imagem “boa” e 25,1% “regular”. Ou seja, mais de 40% dos inquiridos têm uma imagem não negativa de Franco. Certamente que os desmandos democráticos, desde a plutocracia galopante, passando pela corrupção (material e de costumes), deixam muita gente com saudades, se não do regime, pelo menos de alguns dos seus aspectos que reputam mais positivos e, quiçá, exemplares a nível da conduta de homens de Estado e da convivência em sociedade.
Também curioso é o facto de 36,5% dos inquiridos afirmarem que a qualidade de vida dos espanhóis melhorou durante o consulado franquista (50,2% dizem que não), sendo essa percentagem de 26% entre os habituais votantes da Izquierda Unida! Contra factos nem o preconceito ideológico tem por vezes argumentos.
Também significativo o facto de serem mais (41,3%) que menos (25,5%) os que acham que a política do actual governo em relação à Guerra Civil abre feridas do passado. Como se escreve noutra página do referido diário, Felipe González, com todos os seus defeitos, não praticou esta política vingativa, maniqueísta e basicamente odienta.
Publica-se ainda uma fotografia de uma estátua equestre de Franco em Santader, uma das cinco que ainda se erigem em terras de Espanha. Até quando?

Testamento Político de José António Primo de Rivera

«Condenado à morte, peço a Deus não que impeça de chegar esse momento, mas que me conserve a decorosa resignação com que o aguardo e, ao julgar a minha alma, não tome em conta a medida dos meus merecimentos, mas a sua infinita misericórdia.
Possui-me o escrúpulo, de ser vaidade e excesso de apego às coisas da Terra o querer deixar nesta conjuntura o exame de alguns dos meus actos; porém, como por outro lado arrastei a fé de muitos dos meus camaradas em medida muito superior ao meu valor (demasiado bem conhecido por mim, ao ponto de ditar-me esta frase com a mais simples e contrita sinceridade) e como, também levei muitos deles a arrostar riscos e responsabilidades enormes, parecia-me injusta gratidão, abandonar a todos sem nenhuma espécie de explicação.
Não é mister repetir-se agora o que tantas vezes dissemos e escrevemos sobre o que nós, fundadores da Falange Espanhola, entendiamos que ela fosse. Espanta-me que três anos passados, a imensa maioria dos nossos companheiros persista em julgar-nos, sem ter de modo algum começado a compreender-nos e até sem ter procurado nem aceite a mínima informação. Se a Falange se consolidar duradouramente, espero que todos percebam a dor de se ter perdido tanto sangue por não termos aberto uma brecha de serena atenção entre a sanha de um lado e a antipatia do outro. Que esse sangue vertido me perdoe a parte que tive em provocá-lo, que os camaradas que me precederam no sacrifício me acolham como o último de entre eles.
Ontem, pela última vez, expliquei, perante o tribunal que me julgava, o que é a Falange. Como em tantas ocasiões, repassei os velhos textos da nossa familiar doutrina. Uma vez mais, observei que muitas faces, ao princípio hostis, se iluminavam, primeiro com assombro, logo com simpatia. Nos seus rostos parecia-me ler esta frase: «Se tivéssemos sabido o que era isto não estaríamos aqui.» E certamente não teríamos estado ali, nem eu diante de um Tribunal popular, nem os outros matando-se pelos campos de Espanha. Não era já, sem embargo, tempo de o evitar, e limitei-me a retribuir a lealdade e a valentia dos meus bem amados camaradas, ganhando para eles a atenção respeitosa dos seus inimigos.
A isto entendi, e não a granjear com galhardia de ouropel a fama póstuma de herói. Não me fiz responsável de tudo nem me ajustei a nenhuma outra variante do padrão romântico. Defendi-me com os melhores recursos do meu ofício de advogado, tão profundamente querido, e cultivado com tanta assiduidade. Talvez não faltem comentadores póstumos que me acusem de não ter optado pela fanfarronada. Que cada um pense o que quiser. Para mim, além de não ser primeiro actor enquanto houve, seria monstruoso e falso entregar sem defesa uma vida que ainda poderia ser útil e que Deus não concedeu para queimá-la em holocausto à vaidade, como um castelo de fogos de artifício. Mas, como o dever de defesa me aconselhou não só certos silêncios mas também certas acusações fundadas em suspeitas de me ter eu isolado numa região que até ao fim se encontrou submissa, declaro que tal dúvida não está comprovada por mim, e que se pode sinceramente alimentá-la no meu espírito a avidez de explicações exasperadas pela solidão, agora, frente à morte, não pode nem deve ser mantida.
Outro assunto me falta rectificar. (...) Até há cinco dias aquando soube do processo instruído contra mim não tive conhecimento das declarações que me atribuíam, porque nem os jornais que as trouxeram nem nenhum outro me eram acessíveis. Ao lê-las agora afirmo que entre os diversos parágrafos que se dão como meus, desigualmente fiéis na interpretação do meu pensamento, há um que nego por absoluto: o que acusa os meus camaradas da Falange, de cooperar no movimento insurreccional com «mercenários trazidos de fora». Jamais disse algo de semelhante e ontem declarei-o rotundamente perante o tribunal, ainda que declará-lo não me favorecesse. Não posso injuriar forças militares que prestaram à Espanha em África heróicos serviços. Não posso lançar daqui reprovações a camaradas que ignoro se estão agora sábia ou erroneamente dirigidos, mas que, com certeza tratam de interpretar com a melhor fé apesar da incomunicabilidade que nos separa, os meus ensinamentos e doutrina de sempre. Queira Deus que a sua ardorosa ingenuidade não seja nunca aproveitado noutro serviço que o da Grande Espanha que sonha a Falange. Oxalá que fosse meu o último sangue espanhol vertido nas discórdias civis. Oxalá encontrasse já em paz o povo espanhol, tão rico em boas qualidades naturais, a Pátria, o Pão, a Justiça.
Creio que nada mais importa dizer a respeito da minha vida pública. Quanto à minha morte próxima, espero-a sem jactância mas sem lamento, porque nunca é alegre morrer na minha idade. Aceita-a Deus Nosso Senhor no que tenha de sacrifício para compensar o que tenha havido de egoísta e vão em muito da minha vida. Perdoo de toda a minha alma a quantos me tenham podido fazer mal ou ofender, sem nenhuma excepção e rogo me perdoem todos aqueles a quem deva a reparação de algum agravo grande ou pequeno...»

(Tradução de Ângelo B. César)
In «Agora», n.º 332, pág. 7, 25.09.1967.

Ode a José António Primo de Rivera

«Ao meu amigo Humberto Lima Alves
que andou por terras de Espanha na
Cruzada pelo Ocidente.


Rajada de cinco tiros
Cravou-lhe o tronco do peito
Que ficou incendiado
E o fez cair sobre a sombra
Num círculo iluminado.

A sua camisa azul,
Com cinco flechas bordadas
Desfez-se em cinza poída.
José António! José António!
O eco de Cara al Sol
Voltou de novo a ter vida.

Pelos caminhos iberos...
Pelas estradas romanas
Secam as rosas dando ais...
Na estrada de Santiago
Há cinco estrelas a mais.

Europa, madre e madrinha!
Bandeiras, cravos e loiros
Desfolham-se sobre a fronte
Deste príncipe perfeito.
José António! José António!
Com cinco tiros pelas costas,
As cinco chagas em sangue
São cinco flechas no peito!»

Azinhal Abelho.

In «Agora», n.º 42, 02.12.1961, pág. 3.

18 novembro 2005

Limpeza étnica

Há uns três anos a revista "Time" publicava um artigo sobre Joanesburgo. Comentava-se o facto de a população branca ter vindo, a partir do momento em que o ANC ganhou as primeiras eleições "um homem, um voto", a abandonar o centro da cidade. As causas, como é bem de ver, prendiam-se com a violência incontrolável de que a comunidade era alvo, desde os "simples" roubos às violações, que se tornaram uma verdadeira praga para as mulheres brancas naquele país.
Mas a revista não perdia muito tempo com estas minudências, antes salientando com evidente satisfação que o êxodo da população branca tinha tornado Joanesburgo uma cidade verdadeiramente... africana! O racismo latente de que o articulista não se apercebeu sequer prende-se com o facto de que muitos afrikaners se assumiam como africanos, sendo no continente que eles se sentiam em casa; para eles o facto de serem brancos não os excluía da condição de africanos; mas para os arautos do politicamente correcto, num assomo quase lepenista, «A África para os africanos» - negros, claro.
O outro comentário que o triste artigo merece refere-se ao facto de, na prática, a revista de referência jubilar com o que se assemelha a uma limpeza étnica: se a comunidade branca era alvo de crimes os mais diversos, que a levaram a debandar Joanesburgo, qual a diferença entre esta situação e as expulsões de que têm vindo a ser alvo os camponeses brancos no Zimbabué? O resultado prático não é exactamente o mesmo? E, quem sabe, a intenção dos actos? Pois a impotência da polícia não configura uma complacência com a violência por parte das autoridades?
Extrapolando para o caso europeu, em particular francês, veremos com o tempo se o que tem vindo a suceder na África do Sul não será um case study de movimentação de populações forçada pela violência de comunidades hostis.

Violência étnica em França

Um facto recente cuidadosamente ocultado pelos meios de comunicação social: a invasão de campo protagonizada por adeptos tunisinos a meio da segunda parte do encontro amigável (!) entre a Tunísia e a RD Congo, disputado em Paris no passado dia 11.
Numa altura em que os subúrbios daquela cidade (e não só) se encontravam a ferro e fogo, alguns adeptos tunisinos dedicaram-se a lamentáveis actos de violência, inclusive agredindo jogadores congoleses.
Qual teria sido a repercussão mediática se tais actos tivessem sido praticados por adeptos de uma selecção europeia contra jogadores de uma selecção africana?
E, já que falamos em racismo, que dizer dos “jovens” que em plenos tumultos parisienses gritavam: «Sarkozy, sale juif»?

17 novembro 2005

Comentários abertos a todos

Informa-se que a partir de hoje não é necessário estar-se registado no Blogger para se poder comentar neste blogue. Espera-se assim facilitar a vida aos potenciais alvitradores, que têm escasseado por estas bandas.
Agradece-se que quem opte por comentar como "Anonymous" deixe o nome no fim do comentário, se assim o entender.

Liberalismo e decadência

O blogue "Arte da Fuga" publicou excertos de declarações ou reflexões de Winston Churchill, tentando mostrar como o "bulldog" não era propriamente o arquétipo do liberal.
Uma das frases chamou-me particularmente a atenção: «I do not want to see impaired the vigor of competition, but we can do much to mitigate the consequences of failure. We want to draw a line below which we will not allow persons to live and labor, yet above which they may compete with all the strength of their manhood. We want to have free compethion upwards; we decline to allow free competidon to run downwards. We do not want to pull down the structures of science and civilization, but to spread a net over the abyss.».
Quando observamos as consequências da globalização sobre as sociedades mais desenvolvidas só podemos dar razão aos receios de Churchill: a abolição de fronteiras com países com condições de vida e regalias sociais menos generosas tem conduzido ao aumento do desemprego nos países mais avançados e ao abaixamento médio das condições de contratação de pessoal por parte das empresas. Precisamente aquilo que Churchill, legitimamente, rejeitava.

16 novembro 2005

Forza, (vera) Italia!

Decididamente a esquerda italiana não consegue engolir a relativização que Silvio Berlusconi faz da ditadura de Mussolini face a outras ditaduras do séc. XX. Já aqui mostrámos a nossa plena concordância com Berlusconi, fundamentando o nosso ponto de vista com o recurso a um livro (entre muitos) de um autor pouco suspeito de simpatias fascistas.
Os comunistas reciclados (?) do diário "L'Unità" voltam à carga, certamente pouco satisfeitos de verem Estaline e Fidel Castro no cartaz da Forza Italia...

Quiz musical

Convido os meus leitores melómanos a testarem os seus conhecimentos musicais respondendo a este teste. Algumas das questões requerem que tenham o som do vosso computador ligado.
Obtive 9 em 10 (como sou um simples amador, tive dificuldade nas duas questões que envolviam interpretar uma pauta mas tive sorte numa delas!) Fico à espera de saber as vossas pontuações, em especial a do AA.

15 novembro 2005

A verdade escondida sobre o 11 de Setembro

As histórias mal contadas sobre o 11 de Setembro de 2001 são mais que muitas e já aqui deixámos algumas questões sem resposta oficial.
Vem agora a público uma investigação de Eric Laurent intitulada "A verdade escondida sobre o 11 de Setembro". O recomendável site "Rinascita" faz uma longa recensão da obra, que se aconselha vivamente. De entre os factos mais estranhos podemos destacar os seguintes:
- o anormal número de transacções financeiras efectuadas imediatamente antes de 11 de Setembro;
- o responsável pela comissão de inquérito aos atentados, Thomas Kean, tivera como sócios dois sauditas suspeitos de financiar a Al-Qaeda, um dos quais até salvara da bancarrota a sociedade petrolífera do actual presidente dos USA;
- o número de pessoas a bordo dos aviões que colidiram com as Torres Gémeas não corresponde ao número oficial das companhias aéreas nem ao que vem reportado no relatório final da comissão de inquérito;
- este relatório também omite o facto de Bin Laden ter estado em recuperação no hospital americano do Dubai apenas três meses antes dos atentados e ter recebido a visita do responsável local da CIA, Larry Mitchell.
A ler na íntegra.

14 novembro 2005

Reflexão sobre a blogosfera portuguesa

Tendo um blogue há treze meses, lendo regularmente blogues há cerca de ano e meio, creio que é uma boa altura para reflectir um pouco sobre este fenómeno, em particular sobre o caso português.
Não pretendendo analisar em detalhe os blogues de maior destaque no nosso país, poderemos interrogar-nos se por cá a blogosfera tem um impacto e uma influência tão grande como nos dizem que já está a acontecer nos EUA.
A resposta imediata será que não: o grau de penetração da internet não é tão elevado por cá; a sociedade civil também é mais passiva; os media são proporcionalmente em menor número e podem, por isso, filtrar mais o impacto dos blogues.
Os blogues mais agressivos tentam passar uma mensagem política e ideológica, entrando em choque frequente com o outro campo: são já da praxe as trocas de mimos e as ironias cruzadas entre os blogues liberais e os de esquerda (frequentemente extrema-esquerda). Já os de tendência nacionalista e monárquica funcionam de certa forma em circuito fechado, tendo a mensagem alguma dificuldade em sair do círculo restrito dos seus leitores mais empenhados ideologicamente. Funciona aqui a regra da minoria em conjunção com a regra do silenciamento quase generalizado, votando ao ostracismo e colando a etiqueta de extremista a muita gente que o não é mas que põe o dedo na ferida do politicamente correcto.
Constata-se que, pese as tricas mencionadas, existe um certo “bloco central” ideológico que agrega algumas “causas comuns” ou “valores básicos” que, na prática, a esquerda conseguiu ao longo das últimas décadas impor aos liberais. Isto é mais patente quando se comemoram certas datas, que são evocadas por ambos os “blocos” de uma forma e num tom semelhantes.
Em última análise, verifica-se na blogosfera mais política aquilo que Jim Hacker dizia dos jornais na série “Yes, Prime Minister” (um verdadeiro manual de pragmatismo político num regime democrático): «os jornais acalentam os preconceitos de quem os lê» - ou seja, quem concorda com o que se lá escreve sente-se consolado por encontrar eco às suas opiniões e quem está contra sente reforçada a sua caracterização do “inimigo”.
Como sair deste impasse? Na verdade, penso que os blogues mais “mainstream” não têm interesse em fugir ao status quo, pois vão contribuindo para a bipolarização da opinião, excluindo as franjas marginais; para estas o rumo não é fácil de seguir: ou se remetem à estigmatização da maioria ou tentam lutar contra o silenciamento e o preconceito, tentando fazer pontes, construtivamente, pacientemente, sem abdicação de princípios – se realmente muitos clamam que fazem propostas de puro bom senso, que o comum dos cidadãos em alguns casos até comunga, porquê cair na armadilha da radicalização? Está aqui a chave do futuro.

A Corneta do Diabo

Alguns blogueiros, como este vosso servidor, mudam de alojamento. Outros, como o nosso amigo Magalhães e Santos, mudam de designação. É assim que "O Jogral" cede lugar a "A Corneta do Diabo".
A qualidade é a habitual (muito boa) e a irregularidade de actualizações promete passar a coisa do passado. Passem por lá e leiam a lenda dos Degolados de Montemor-o-Velho ou como até há não muitos anos se aprendia a amar a Pátria.

13 novembro 2005

Ossip Mandelstam, poeta, vítima do comunismo

O escritor russo Ossip Mandelstam (1891-1937) é uma das inúmeras vítimas do comunismo soviético.
Importunado pela máquina repressora desde 1929, tendo vivido na Crimeia («sob o poder dos brancos», invocava-se) o poeta nunca mais teve sossego e viveu até à morte sob o medo e a revolta.
O seu poema «Velha Crimeia» foi o primeiro a denunciar a fome na Ucrânia (devido à colectivização forçada, morreram milhões de camponeses em poucos anos). O autor estava perfeitamente consciente do risco que corria com tal obra (bem como com o poema, abaixo reproduzido, em que fala do “montanheiro do Kremlin” – obviamente Estaline): «estou pronto para morrer» confidenciou à poetisa e amiga Anna Akhmátova. A deportação seguiu-se e, de exílio forçado em exílio forçado, nunca mais o largou nos poucos anos que teve de vida. «Neste momento, sem qualquer culpa nova, tiraram-me tudo: o direito à vida, ao trabalho, ao tratamento médico. Estou na situação de um cão... Sou sombra. Não existo. Só tenho o direito de morrer. Impelem-me a mim e à minha mulher ao suicídio. É inútil dirigir-me à União dos Escritores. Lavarão daí as suas mãos.»
Em Maio de 1937 volta por breve tempo a Moscovo. «As pessoas também mudaram, são todas como que profanadas.» Morre em Dezembro de 1938, num campo de trânsito perto de Vladivostok. De fome.

Ajuda-me Senhor! A chegar à madrugada,
Temo pela tua escrava, pela vida...
A noite em Petersburgo é no caixão dormida.
(Outubro de 1931)

Vivemos sem sentir o país sob os pés,
Nem a dez passos ouvimos o que se diz,
E quando chegamos enfim à meia fala
O montanheiro do Krémlin lá vem à baila.
Dedos gordurosos como vérmina gorda,
As palavras certas como pesos de arroba.
Riem-se-lhe os bigodes de barata,
Reluzem-lhe os canos da bota alta. (...)
(Novembro de 1933)

Ainda não morreste, inda não estás sozinho:
A companheirinha-mendiga
No vale magnânimo e com a bruma, o frio,
A tempestade – está contigo.

Na pobreza opulenta, miséria poderosa,
Vive tranquilo e consolado.
Benditas são as noites e os dias, e o labor
Do belo-verbo é sem pecado.

Desgraçado é quem de si mesmo é a sombra,
A quem assusta o ladrido,
O vento ceifa. É pobre quem pede esmola à sombra
Meio morto e ferido.
(Janeiro de 1937).

(Notas biográficas e poemas seleccionados retirados do volume “Guarda minha fala para sempre” de Ossip Mandelstam, Assírio e Alvim, 1996.)

Paridade non stop

Diz-nos o JN de ontem que a ministra da Infância e da Família da Noruega anunciou que as empresas privadas que se recusem (repare-se na imposição) a dar paridade às mulheres nos respectivos conselhos de administração poderão, nem mais nem menos, vir a ser desmanteladas.
A esquerda, vitoriosa nas recentes eleições legislativas, mostra assim as suas garras regulamentadoras. Será isto um estado liberal de responsabilidade social, como deseja o triste Jospin para a França? Nos meandros da retórica oca vai-se apertando o cerco do “planeta prisão” em que nos querem encerrar.

12 novembro 2005

Pânico?

Aquando da I Guerra do Golfo muitos portugueses acudiram em pânico aos supermercados para se aprovisionarem em bens essenciais mais duradouros, como arroz, massas, conservas em lata. O que levou muitos dos nossos conterrâneos a ser tomados pela histeria de uma ameaça potencial ao nosso país é um mistério, explicável talvez apenas pelo grande destaque mediático que a situação no terreno estava a ter desde que as tropas de Saddam invadiram o Koweit. Eu, que à época ainda andava todos os dias de transportes públicos, fiquei surpreendido pelos detalhes que as pessoas conheciam: das forças militares no terreno, das opções que se punham à Arábia Saudita e outras questões que uma população geralmente satisfeita por conhecer o que se passa intra-muros não costuma explorar.
Após o 11 de Setembro de 2001, em particular depois da histeria (mais uma) com o antrax, “alguém” encontrou um pó suspeito em Algés. Teriam os émulos de Bin Laden preparado alguma patifaria pelas bandas da Marginal?
E agora, que parece haver indícios (enfim, segundo o “Expresso”...) de Portugal estar na rota terrorista islâmica, como vão reagir os portugueses? Possivelmente com indiferença, que com tantas ameaças não concretizadas o povo já encolhe os ombros. Numa altura em que se calhar devia andar mais alerta. Talvez o vetusto candidato a PR até tenha razão e devamos «dialogar com aqueles que nos são estranhos» (um eufemismo espantoso)?...

11 novembro 2005

Renda, dinheiro, acções, cosmopolitismo!

O estimado Manuel Azinhal trouxe-nos uns versos de Guerra Junqueiro, que se recomendam. Logo intervieram contra os mesmos "os dos costume". Em homenagem a estes últimos aqui deixo a minha modestíssima contribuição:

Ah, se Junqueiro vivesse hoje
Que versos nos não daria,
Sobre Buiça coevo e Buiça regicida,
E sobre o progresso suicida.

Sobre liberais da terceira geração,
De telemóvel na mão.
E jogadores na bolsa de valores
Mai’las negociatas de corredores.

Sobre o paraíso na terra
(Não o comunista – o capitalista é que está na berra),
E o homem moderno desenraízado:
Um apátrida globalizado.

Os media ao serviço da esquerda

Sob o título "Os media como instrumento da propaganda de esquerda", "O Insurgente" relata-nos a forma como as principais cadeias de TV francesas estão a ocultar a verdadeira dimensão dos distúrbios urbanos provocados por jovens imigrantes.
O director da TCI, por exemplo, afirma que «a política em França está a pender para a direita» e que ele não pretende dar mais proeminência aos políticos de direita só «porque mostrámos na televisão carros a arder».
Suponho que, quando há distúrbios provocados por "alter-munidialistas", a TCI não se faz rogada em mostrar imagens, primeiro porque não são imigrantes a provocá-los e depois porque, apesar de a violência nunca causar boa impressão junto do cidadão médio, a contestação à globalização capitalista e ao imperialismo americano reforça a agenda política - da esquerda, naturalmente.
Na época da informação sensacionalista, só nos pode fazer rir a afirmação hipócrita de que «o jornalismo não é apenas uma questão de ligar as câmaras e deixá-las a filmar. É necessário reflectir sobre aquilo que se está a mostrar» (in "The Guardian").
Como dizia um amigo desta casa, «para a esquerda, o cão de Pavlov ainda é o cidadão ideal.» E uma das formas de condicionar o cidadão é o controlo mediático da informação. Um dos lemas do Grande Irmão orwelliano era, precisamente, «Ignorância é Força».

10 novembro 2005

A blow for Mr. Blair

O Paulo fez, e muito bem, uma comparação entre o seguidismo dos nossos deputados face às indicações de voto oficiais do partido a que pertencem e a independência de que não páram de dar mostras os deputados do Labour, num desafio constante à liderança de Tony Blair e às suas medidas mais controversas relativamente ao combate ao terrorismo.
Neste contexto, o chumbo na Câmara dos Comuns das propostas blairistas (o primeiro desde 1997) representou para o arrogante PM a derrota do seu "Patriot Act". A reboque da luta contra o terrorismo, preparavam-se medidas de atropelo às liberdades a que os britânicos estão habituados, na linha daquilo que Bush e os seus compinchas fizeram nos EUA, praticamente sem oposição.
E aqui chegamos ao ponto inicial: no ambiente de histeria que se seguiu aos atentados de 11 de Setembro de 2001, a clique neo-con conseguiu aprovar medidas impensáveis de limitação das liberdades, totalmente à revelia das tradições daquele país. O pretexto foi o terrorismo: para invadir o Afeganistão, para invadir o Iraque, para tornar os EUA num país concentracionário. E quase sem oposição. «Tal-qual como cá», diria o Paulo.

Tempos difíceis para Ahmadinejad

As explosivas declarações de Ahmadinejad, o novo presidente iraniano, apelando à destruição de Israel ainda estão nos ouvidos de muitos. Já aqui deixámos a nossa visão sobre o assunto, realçando o extremar de posições entre o Irão e os EUA desde o famoso discurso "bushiano" sobre o "eixo do mal".
Segundo observa o "Independent", alguns conservadores iranianos receiam que o presidente esteja a instigar uma espécie de revolução a partir das estruturas do Estado, substituindo a velha geração de dirigentes que vem do tempo da Revolução Islâmica por uma nova geração de radicais. A esta situação delicada junta-se a luta que está a opor o parlamento à presidência, patente numa série de rejeições de candidatos a Ministro do Petróleo, num meio de uma série de acusações de corrupção e enriquecimento ilícito.
A frustração da juventude iraniana com a impotência demonstrada pelo moderado Khatami durante os seus dois mandatos gerou uma certa apatia na sociedade, inteligentemente aproveitada pelos novos radicais, que vão sem dúvida tentar inverter os poucos avanços sociais que ocorreram durante a presidência de Khatami.

08 novembro 2005

Vergonha

(Um gulag na ex-URSS, em 1938.)

Os CTT vão assinalar o aniversário do nascimento de Álvaro Cunhal com a edição de um selo e um bloco filatélico.
Pretende-se, ao que parece, realçar «o papel do líder comunista junto da juventude e destacar a sua faceta de pedagogo».
Recomenda-se à empresa ainda pública que tenha um mínimo de pudor e que se abstenha de insultar as dezenas de milhões de vítimas de regimes que o "histórico líder" sempre se absteve de criticar.

Liberdade de informação

aqui brincámos com a tomada de posição do grupo Prisa na Media Capital, a que pertence a TVI. De passagem por Lisboa, o presidente da Prisa, Juan Luís Cebrián, fez questão de salientar que o grupo tem um «compromisso com a liberdade de informação».
É caso para dizer que quando as coisas são evidentes não é necessário estar sempre a mencioná-las. Já falava o mentor de Sir Humphrey Appleby, Sir Arnold (da série "Yes, Minister"), no princípio da relação inversa: «quanto menos se quer fazer algo, mais nisso se fala»... E todos conhecemos a "liberdade de informação" do El País, diário de que Cebrián foi director: trata-se mais propriamente da liberdade de informar dentro dos cânones politicamente correctos definidos pela cartilha da esquerda.
A coisa promete.

Crimes sem fim

Bombas nucleares, napalm, urânio empobrecido, fósforo. Não parecem ter fim os meios utilizados pelos EUA na sua campanha de décadas de incessante combate pela propagação dos ideias de democracia, liberdade e justiça.
Mais um exemplo, aqui.

Rogo

Pede-se encarecidamente aos leitores que têm blogue para que alterem o link que no mesmo têm do meu blogue para o novo "Santos da Casa".

Welcome!

A exemplo de outros amigos, lá me decidi por abandonar o Weblog e recolher-me ao gratuito Blogger. Os meus mais antigos leitores recordar-se-ão certamente de uma tentativa anterior de imigração para as Américas, na altura, o Brasil. Espero que desta vez tudo corra bem e que fique aqui alojado por muito tempo.
O Weblog tem um interface simpático mas tem também algumas desvantagens:
- é pago (mínimo de 70€ por ano);
- os "layouts" disponibilizados são escassos.
Sendo assim, cá fico à espera das vossas visitas e sugestões.