Reflexão sobre a blogosfera portuguesa
Tendo um blogue há treze meses, lendo regularmente blogues há cerca de ano e meio, creio que é uma boa altura para reflectir um pouco sobre este fenómeno, em particular sobre o caso português.
Não pretendendo analisar em detalhe os blogues de maior destaque no nosso país, poderemos interrogar-nos se por cá a blogosfera tem um impacto e uma influência tão grande como nos dizem que já está a acontecer nos EUA.
A resposta imediata será que não: o grau de penetração da internet não é tão elevado por cá; a sociedade civil também é mais passiva; os media são proporcionalmente em menor número e podem, por isso, filtrar mais o impacto dos blogues.
Os blogues mais agressivos tentam passar uma mensagem política e ideológica, entrando em choque frequente com o outro campo: são já da praxe as trocas de mimos e as ironias cruzadas entre os blogues liberais e os de esquerda (frequentemente extrema-esquerda). Já os de tendência nacionalista e monárquica funcionam de certa forma em circuito fechado, tendo a mensagem alguma dificuldade em sair do círculo restrito dos seus leitores mais empenhados ideologicamente. Funciona aqui a regra da minoria em conjunção com a regra do silenciamento quase generalizado, votando ao ostracismo e colando a etiqueta de extremista a muita gente que o não é mas que põe o dedo na ferida do politicamente correcto.
Constata-se que, pese as tricas mencionadas, existe um certo “bloco central” ideológico que agrega algumas “causas comuns” ou “valores básicos” que, na prática, a esquerda conseguiu ao longo das últimas décadas impor aos liberais. Isto é mais patente quando se comemoram certas datas, que são evocadas por ambos os “blocos” de uma forma e num tom semelhantes.
Em última análise, verifica-se na blogosfera mais política aquilo que Jim Hacker dizia dos jornais na série “Yes, Prime Minister” (um verdadeiro manual de pragmatismo político num regime democrático): «os jornais acalentam os preconceitos de quem os lê» - ou seja, quem concorda com o que se lá escreve sente-se consolado por encontrar eco às suas opiniões e quem está contra sente reforçada a sua caracterização do “inimigo”.
Como sair deste impasse? Na verdade, penso que os blogues mais “mainstream” não têm interesse em fugir ao status quo, pois vão contribuindo para a bipolarização da opinião, excluindo as franjas marginais; para estas o rumo não é fácil de seguir: ou se remetem à estigmatização da maioria ou tentam lutar contra o silenciamento e o preconceito, tentando fazer pontes, construtivamente, pacientemente, sem abdicação de princípios – se realmente muitos clamam que fazem propostas de puro bom senso, que o comum dos cidadãos em alguns casos até comunga, porquê cair na armadilha da radicalização? Está aqui a chave do futuro.
Não pretendendo analisar em detalhe os blogues de maior destaque no nosso país, poderemos interrogar-nos se por cá a blogosfera tem um impacto e uma influência tão grande como nos dizem que já está a acontecer nos EUA.
A resposta imediata será que não: o grau de penetração da internet não é tão elevado por cá; a sociedade civil também é mais passiva; os media são proporcionalmente em menor número e podem, por isso, filtrar mais o impacto dos blogues.
Os blogues mais agressivos tentam passar uma mensagem política e ideológica, entrando em choque frequente com o outro campo: são já da praxe as trocas de mimos e as ironias cruzadas entre os blogues liberais e os de esquerda (frequentemente extrema-esquerda). Já os de tendência nacionalista e monárquica funcionam de certa forma em circuito fechado, tendo a mensagem alguma dificuldade em sair do círculo restrito dos seus leitores mais empenhados ideologicamente. Funciona aqui a regra da minoria em conjunção com a regra do silenciamento quase generalizado, votando ao ostracismo e colando a etiqueta de extremista a muita gente que o não é mas que põe o dedo na ferida do politicamente correcto.
Constata-se que, pese as tricas mencionadas, existe um certo “bloco central” ideológico que agrega algumas “causas comuns” ou “valores básicos” que, na prática, a esquerda conseguiu ao longo das últimas décadas impor aos liberais. Isto é mais patente quando se comemoram certas datas, que são evocadas por ambos os “blocos” de uma forma e num tom semelhantes.
Em última análise, verifica-se na blogosfera mais política aquilo que Jim Hacker dizia dos jornais na série “Yes, Prime Minister” (um verdadeiro manual de pragmatismo político num regime democrático): «os jornais acalentam os preconceitos de quem os lê» - ou seja, quem concorda com o que se lá escreve sente-se consolado por encontrar eco às suas opiniões e quem está contra sente reforçada a sua caracterização do “inimigo”.
Como sair deste impasse? Na verdade, penso que os blogues mais “mainstream” não têm interesse em fugir ao status quo, pois vão contribuindo para a bipolarização da opinião, excluindo as franjas marginais; para estas o rumo não é fácil de seguir: ou se remetem à estigmatização da maioria ou tentam lutar contra o silenciamento e o preconceito, tentando fazer pontes, construtivamente, pacientemente, sem abdicação de princípios – se realmente muitos clamam que fazem propostas de puro bom senso, que o comum dos cidadãos em alguns casos até comunga, porquê cair na armadilha da radicalização? Está aqui a chave do futuro.
1 Comments:
Caro FGSantos
Um excelente texto para reflectir e tentar (pobre de mim) enquadrar-me. Se me permite opinar, direi que estamos a navegar num mar de perplexidades. Seremos, talvez, pioneiros duma realidade que se tornará desmedida.Para que serve o meu blogue, pergunta que todos fazem?
Um diário compulsivo? Um exercício de pura vaidade? Um teste para outros voos? Vício? Não serve para nada?
E quanto aos visitantes. Ler blogues para quê? Escrita alternativa? Fuga à censura do políticamente correcto?
Como vê, caro amigo, hoje acordei cheio de dúvidas. E o seu artigo acrescentou-as.
Um abraço.
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