09 março 2006

Há dez anos...

... era notícia a chegada à Presidência da República de um senhor com cinco nomes.
Mas o então director do agora defunto "O Dia", Silva Resende, falava de outra

NOTÍCIA

O jornal Tribune Juive, que se publica em França e é porta-voz das comunidades judaicas fora de Israel e principalmente as ligadas às lojas maçónicas, embandeira em arco com a eleição de Jorge Sampaio para a presidência da República em Portugal. E dá à notícia foros de sensacionalismo: «Jorge Bensaúde de Castillo Branco Sampaio é o Primeiro Presidente português judeu desde a Inquisição» .Penso que os Portugueses, em geral, desconheciam no actual presidente essa espécie de dupla nacionalidade que os judeus hoje reclamam desde que se instaurou o Estado de Israel: como em geral desconheciam a totalidade dos seus apelidos que reflectem essa ascendência hebraica, aliás de velhas tradições em Portugal.Conhecendo se a solidariedade que desde sempre reinou entre os judeus fazendo deles o único povo que ao longo dos milénios resistiu a qualquer miscigenação, ficará decifrado o mistério dessa candidatura, os seus estranhas tempos de intervenção, a surpresa de certos apoios e a certeza de vitória que desde o primeiro momento animava os seus oráculos.Nestas e noutras questões, os judeus não costumam perder. Evidentemente, a Inquisição é aqui metida como o Pilatos no Credo, pois que a República se fundou em Portugal em 1910; mas como a Tribune Juive nada publica em vão, quer significar que à cabeça do Estado em Portugal é a primeira vez que desde a Inquisição figura um homem de ascendência judaica a qual — sublinha o jornal — prenuncia uma lua de mel diplomática entre Portugal e Israel. E acrescenta: «estas relações eram já excelentes sob os sucessivos mandatos do irmão Mário Soares».E continua o mesmo jornal: «Sampaio visitou já duas vezes Tel Aviv. E a sua primeira permanência em Israel constituiu para ele verdadeira jornada iniciática pois que, a exemplo da maioria dos judeus portugueses, não tinha recebido nenhuma educação judaica».Não falta aqui o próprio testemunho de Sampaio dirigido a Benyamin Oran, representante diplomático em Lisboa: «quando visitei Israel senti alguma coisa de muito forte a vibrar dentro de mim e posso dizer que descobri então dentro de mim a minha condição de judeu». Para completar a descoberta, a notícia, que certamente a maioria dos portugueses desconhecem, refere que Sampaio milita desde a juventude na extrema esquerda e que foi nessa qualidade que o elegeram para a Comissão dos Direitos do Homem do Conselho da Europa. E aqui está como estes dados, postos festivamente na Tribune Juive, foram estranhamente sonegados na imprensa portuguesa.

Silva Resende, "O Dia", 26.06.1996.

4 Comments:

Blogger Mendo Ramires said...

É sempre bom recordar este notável e corajoso artigo. Bem lembrado!

09 março, 2006 13:09  
Blogger vs said...

O sr.Resende é personagem nada, mas mesmo nada, do meu agrado.

Mas mesmo nada.

09 março, 2006 19:57  
Blogger Flávio Santos said...

I wonder why?...

10 março, 2006 09:22  
Blogger JSM said...

Caro FGSantos
Detestava o Silva Resende e Você também o devia detestar, quanto mais não fosse por causa do chamado 'caso Carlitos'. Fez uma evolução interessante em termos políticos mas não deixou de ser quem era. De qualquer modo o artigo é muito bem 'esgalhado'. No entanto, para os monárquicos, não existem melhores nem piores Presidentes da República. Eles são lá postos para fazerem o 'serviço'. Este foi dos mais diligentes, portanto dos mais venenosos. Foi secretário-geral da RIA enquanto jovem estudante. Membro activo do MES, a seguir ao 25 de Abril. Deve ter sido dos que apoiou de início aquele movimento inexistente - a Fretilin. Um dos prováveis responsáveis morais pela ocupação de Timor pela Indonésia e pelos flagelos que se seguiram.
O Jorge das medalhas que sai medalhado!
Um abraço monárquico.

12 março, 2006 00:54  

Enviar um comentário

<< Home