26 novembro 2005

Rebate de Natal

Rebate de Natal — I
Os sinos da velha Goa
rebatem, todos, à toa,
num uníssono que voa
— que reboa — até Lisboa...

... E os seus sons jamais soçobram.

(Nessa voz que nos povoa
de sinos como os de Goa,
diz lá, Fernando Pessoa:

— POR QUEM é que OS SINOS DOBRAM?...)

Tocam sinos, em Lisboa,
por sinos que já não tocam...
(Lembro Goa,
tendo em conta
que de Goa
fiquei órfão.

... Mas não choro só por Goa
— que, a par da perda de Goa,
mais perdições se recortam...!)

Nessa voz que não perdoa,
e em que ecoa o sursum cordam,
diz lá, Fernando Pessoa:

— POR QUEM é que OS SINOS DOBRAM?...
Ai campanários de Goa,
que nem d’entre brumas afloram!...

(Conquanto o dobre te doa,
diz tu, Fernando Pessoa:
de que longe
vem bronze
dos acordes
que os acordam...!?)

À mercê de “cara ou c’roa?”,
cinco séc’los se revogam...
O Tejo — virou lagoa;
este solar — virou sótão
que a solidão sobrevoa
e só d’onde abrolhos brotam...

Ai, sinos dos céus de Goa!...
Velho mastro... velha proa...
velha Goa..., velho órgão...

Nesse canto que de Goa
a Diu, Damão, te apregoa,
diz lá, Fernando Pessoa:

— POR QUEM é que OS SINOS DOBRAM?...

(Natal de 1980)
Rodrigo Emílio, "Pequeno Presépio de Poemas de Natal", Antília, 2005.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Fantástico! E que pena...
Obrigado por ter publicado.
Interregno(JSM)

26 novembro, 2005 22:27  
Anonymous Anónimo said...

Mas, já Toda a Gente tem o Livro, menos eu?...

27 novembro, 2005 01:56  
Blogger Flávio Santos said...

Caro Mendo, tentei enviar-te um e-mail a este respeito, sem sucesso. Confirma por mail, sff, o teu endereço electrónico. Obrigado.

27 novembro, 2005 11:24  
Anonymous Anónimo said...

Caro FG Santos:
Obrigado pela atenção. Foi, apenas, um motivo para fazer um pouco de humor... De qualquer forma, o Amigo Nonas já me explicou a situação (perfeitamente lógica, aliás).
Tenho o 'e-mail' avariado.
Um abraço e boa-viagem.

27 novembro, 2005 17:55  

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