18 novembro 2005

Limpeza étnica

Há uns três anos a revista "Time" publicava um artigo sobre Joanesburgo. Comentava-se o facto de a população branca ter vindo, a partir do momento em que o ANC ganhou as primeiras eleições "um homem, um voto", a abandonar o centro da cidade. As causas, como é bem de ver, prendiam-se com a violência incontrolável de que a comunidade era alvo, desde os "simples" roubos às violações, que se tornaram uma verdadeira praga para as mulheres brancas naquele país.
Mas a revista não perdia muito tempo com estas minudências, antes salientando com evidente satisfação que o êxodo da população branca tinha tornado Joanesburgo uma cidade verdadeiramente... africana! O racismo latente de que o articulista não se apercebeu sequer prende-se com o facto de que muitos afrikaners se assumiam como africanos, sendo no continente que eles se sentiam em casa; para eles o facto de serem brancos não os excluía da condição de africanos; mas para os arautos do politicamente correcto, num assomo quase lepenista, «A África para os africanos» - negros, claro.
O outro comentário que o triste artigo merece refere-se ao facto de, na prática, a revista de referência jubilar com o que se assemelha a uma limpeza étnica: se a comunidade branca era alvo de crimes os mais diversos, que a levaram a debandar Joanesburgo, qual a diferença entre esta situação e as expulsões de que têm vindo a ser alvo os camponeses brancos no Zimbabué? O resultado prático não é exactamente o mesmo? E, quem sabe, a intenção dos actos? Pois a impotência da polícia não configura uma complacência com a violência por parte das autoridades?
Extrapolando para o caso europeu, em particular francês, veremos com o tempo se o que tem vindo a suceder na África do Sul não será um case study de movimentação de populações forçada pela violência de comunidades hostis.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Isso são só "casos de polícia".

NC

18 novembro, 2005 17:18  

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