29 janeiro 2006

O primeiro museu árabe sobre o Holocausto

Em Nazaré, no norte de Israel, existe o único museu árabe dedicado ao Holocausto. Inaugurado em Março do ano passado, não conseguiu atrair até hoje mais de 2000 visitantes. O fundador, Khaled Mahameed, passou a ser muito mal visto por vizinhos e pela própria família, passando por traidor à causa árabe e palestiniana ao evocar um factor-chave para a criação do estado sionista, legitimando-a.
Numa altura em que as palavras de Mahmoud Ahmadinejad, presidente iraniano, pondo em causa a própria existência tanto do estado israelita como do Holocausto, causam enorme consternação no mundo “civilizado”, levando até a um discurso de Kofi Annan no sentido de que será como que desumano pôr em causa a existência de tal tragédia, ganha expressão esta tentativa de apaziguamento de tensões entre árabes e palestinos. Que não tem, como se vê, grande sucesso.
Repare-se na legenda da fotografia que acompanha a notícia da BBC News para se ver como a luta pelo apuramento do que efectivamente se passou durante a II Guerra Mundial tem ainda um longo caminho a percorrer, cada vez mais espinhoso à medida que se constata a ineficácia ao nível da opinião pública de cada vez maiores restrições à simples investigação histórica.
Note-se que, pese as reservas aqui deixadas, aplaudimos os esforços sinceros tanto de palestinos como de israelitas tendentes à convivência o mais sã possível entre ambos, de que um dos mais simbólicos é a orquestra, fundada pelo judeu de origem argentina e grande maestro e pianista Daniel Baremboïm, orquestra essa composta por jovens músicos dos dois povos.

Maldita neve!

Estava eu a preparar-me para sair de casa em direcção ao Estádio do Restelo quando começou a nevar na localidade onde resido, no concelho de Oeiras. Espectáculo que não devo ter muitas mais hipóteses de voltar a ver por estas bandas mas que, com os 0ºC que se faziam e bem sentir, me fez perder uma grande demonstração do meu Belenenses, que trucidou o Penafiel por 5-0 (apesar de último, esta equipa ainda não tinha sofrido tantos golos neste campeonato e na jornada passada até roubou dois pontos ao Sp. Braga).
Soube que por essa mesma hora (15.15) nevava intensamente no Estádio do Restelo e que não mais de 500 heróis desafiaram o frio. Felizmente foram recompensados.
Maldita neve!

28 janeiro 2006

Mozart e Maria Antonieta

Das muitas histórias que se pode contar do jovem Mozart, esse prodígio que aprendeu a ler música antes de aprender a ler tout court, uma das minhas preferidas tem a ver com Antónia, a filha da imperatriz Maria Teresa e futura raínha de França sob o nome Maria Antonieta.
O jovem Mozart teve, em 1762, a oportunidade de tocar perante as majestades, em Viena. Após um recital de cerca de três horas, que repartiu com a sua irmã, o jovem Wolfgang escorregou e caíu. Antónia ajudou-o a levantar-se e deu-lhe um beijo; Mozart, reconhecido, disse-lhe: «é muito gentil, quero casar consigo». Tinham ambos 6 anos de idade.

27 janeiro 2006

O Terceiro Reich em ruínas

Um site muito interessante, este "Third Reich in Ruins", colecção de fotografias de locais da Alemanha e Áustria ao tempo do nazismo e hoje, coligidas pelo filho de um oficial americano que por lá andou na II Guerra Mundial. Um exemplo interessante é o da visita do ex-rei Eduardo VIII (o tal que abdicou e casou com a americana Wallis Simpson) a Hitler, em 1937:

Outro exemplo é o do campo de concentração de Mauthausen (que ao que parece já nem os historiadores dizem que foi de "extermínio" mas ainda assim apresenta uma "câmara de gás"), que visitei em 1990. A sinistra "Escada da Morte", que os prisioneiros tinham que subir carregados de pedras, impressionou-me bastante, até porque os degraus são, diria sadicamente, muito altos e, portanto, extremamente difíceis de subir.

Mas façam as vossas próprias pesquisas, que o site abunda em documentos fotográficos de inegável interesse.

Mozart

Mesmo ao indivíduo mais indiferente à música clássica não terão passado despercebidas as homenagens ao grande compositor austríaco pelos 250 anos do seu nascimento.
O canal por cabo "Mezzo" está hoje a transmitir uma maratona de 24 horas só com música de Mozart, a Antena 2 também lhe dedica uma emissão especial (e a nossa muito estimada "King FM", de Seattle, sem se limitar à obra de Mozart, está a transmitir mais obras suas que habitualmente), jornais abordam o tema e até em centros comerciais ressoam, por entre a algazarra habitual, as notas imortais do génio de Salzburg....
Não é fácil encontrar algo de novo para dizer sobre o compositor mais estudado e apreciado de sempre. Talvez recomendar aos melómanos que se não limitem a escutar as obras mais divulgadas e se aventurem por outras, como a magnífica Grande Missa KWV427 ou as belas sonatas para piano e violino.
Boas audições.

26 janeiro 2006

Terroristas no poder

No meio das análises habitualmente pouco imaginativas que os nossos blogues de orientação liberal fazem do Médio Oriente, realce-se a habitual excepção, a "Causa Liberal", ao evocar "outros" terroristas que também chegaram ao poder na Palestina: aqui.

A vitória do Hamas

Apesar de ainda se não dispor de resultados finais, é já claro que o Hamas é o grande vencedor das eleições legislativas palestinianas. Aqui ficam algumas reflexões sobre o tema:
- A Autoridade Palestiniana, pese todas as dificuldades inerentes à convivência com Israel, consegue realizar eleições livres, quase sem conflitos e sem manipulações eleitorais. Uma lição para o mundo árabe.
- A serenidade do presidente Mahmoud Abbas é de louvar. Apelou à calma e à aceitação dos resultados. Deu a entender que a vitória dos fundamentalistas não quer necessariamente dizer que se vai entrar em guerra declarada com o estado sionista.
- O Hamas cumpre, de facto, uma trégua militar há já cerca de um ano. E tendo em conta que os assassinatos selctivos por parte de Israel foram traumáticos e decapitaram uma parte importante da direcção do movimento, essa trégua é, diríamos, quase um milagre.
- A Fatah paga pelo uso indevido de muitos fundos de ajuda, tanto da diáspora como da UE e de estados do Golfo. A corrupção no seio da AP era conhecida e condenada pela população, a consequência está à vista. Muitos dos que votaram no Hamas fizeram-no não tanto por arreigadas convicções fundamentalistas mas por desejarem uma mudança do status quo.
- O Hamas é bem visto pela população mais carenciada pela ajuda que lhe concede, seja alimentar, seja a nível dos cuidados de saúde. Está bem implantado no terreno.
- Israel, passado o momento inicial de espanto, reforçará as medidas de segurança passivas, nomedamente levará a construção do muro dito de segurança por diante.
- A Fatah vai passar por um período de convulsões internas, com os diversos grupos a degladiarem-se e a acusarem-se mutuamente pelo desastre eleitoral.
- A população palestiniana anseia por uma vida mais normal, que passará pela satisfação das necessidades básicas e por viver em alguma segurança. Uma hipotética vaga de agressões contra Israel será sempre condenada pela grande maioria. O Hamas terá de aprender a institucionalizar-se. Veremos como reagirão os ultras.

25 janeiro 2006

Massas domesticadas

Este desenho de Konk não é dedicado a ninguém em particular, mas, a quem a carapuça servir, que a enfie.

"A Casa de Sarto" alvo de ataque soez

Os nossos amigos de "A Casa de Sarto" foram vítimas do ataque grotesco de uma tal "Católica Praticante" (na caixa de comentários deste postal). A dita senhora, certamente incomodada pelo tradicionalismo vigente naquela casa, decide atacar a suposta ideologia dos seus autores, vindo à baila - já adivinharam - palavras como nazi, fascista, xenófobo e outras do género.
Não espanta o ataque, tão habitual ele é entre tantos que passam a vida a louvar a suposta "grandeza moral" da democracia, mordendo-se na verdade por os que não admiram este sistema de governo poderem com maior ou menor dificuldade expressar os seus pontos de vista heterodoxos. É velha máxima de "liberdade zero para os inimigos da liberdade". Já dizia o outro que «quando ouço vivas à liberdade vou logo à janela ver quem é que vai preso»...
Mas, como disse, por aqui nada de novo. O que, não sendo realmente uma novidade, me admira ainda assim é a incapacidade voluntária em tentar perceber o ponto de vista alheio. O Sarto bem pode argumentar que os seus arquivos demonstram a sua não adesão a ideários racistas ou filo-nazis que não adianta. Basta ter uma ligação a um site com nome "característico" para estar feito o quadro do fascista encapotado. Terrorismo ideológico, pois então. Diabolização (excusez du mot, Mme CP!) de quem nos incomoda com as suas ideias. E viva a liberdade!

24 janeiro 2006

Controlo de pensamento

Todos conhecemos "n" casos de acontecimentos políticos, nomeadamente no século passado, cujas versões oficiais são tudo menos convincentes. Daí à imposição de “verdades” históricas foi um passo já dado por algumas “democracias” propagadoras dos ideais de liberdade.
Uma imprensa quase sempre servil, um sistema de ensino que martela à garotada interpretações restritivas dos factos históricos, toldando a capacidade de interpretação dos estudantes – exemplos claros de uma vaga crescente de controlo de pensamento, à maneira do “thought control” orwelliano
No Reino Unido temos agora o caso escandaloso da busca entre estudantes de opiniões anti-consensuais de factos recentes como os atentados de 11 de Setembro. Uma aluna que explanou teorias contrárias à verdade oficial foi chamada à parte e veladamente ameaçada.
Sinais dos tempos: atentados cada vez mais frequentes à liberdade de expressão e, reactivamente, importância cada vez maior das fontes de informação alternativa.

23 janeiro 2006

Sobre as presidenciais

Passando por cima da brincadeira que foi o postal anterior (memorável mesmo foi de facto o grande jogo), debrucemo-nos então sobre as eleições de ontem. Seja ou não por defeito profissional, vou falar de alguns dados estatísticos, de entre os muitos que se podem analisar aqui.
- A soma dos votos brancos (58.868), nulos (43.405) e abstenção (3.301.589) é superior (3.403.862) aos votos obtidos pelo vencedor Cavaco Silva (2.745.491). Este facto por si só revela o entusiasmo que esta eleição gerou entre os eleitores.
- Embora o mentor Lenine criticasse "A Doença Infantil do Comunismo - O Radicalismo de Esquerda", não é abuso de maior catalogar o PCP entre os extremismos de esquerda, o que coloca esta faixa do espectro político em 14,34% do total dos votos expressos, percentagem exactamente igual à do venerando candidato, cujas declarações públicas do último ano também o não afastariam grandemente daquela companhia.
- Este último mais o seu ex-compagnon de route, que corporizam e de que maneira a traição abrilina de abandono das ex-colónias, somam 35,06%, dando uma imagem bem pálida da força actual do PS, actual maioria governamental.
- O vencedor, regado a milhões de ecus durante o seu consulado de 10 anos, devidamente "pagos" com o abandono ó quão alegre de soberania em favor dos eurocratas de Bruxelas e de destruição de boa parte do aparelho produtivo, simbolizou para muita gente a nostalgia pelo período de desafogo económico que se viveu naquele período. Cada vez mais o eleitor vota com os bolsos, como se diz que sucede nos EUA: ora, há 4/5 anos quanto é que eu tinha e quanto é que tenho hoje? Contas feitas, voto depositado.
- O candidato raivoso lá passou a fasquia dos 5%, assegurando financiamento da campanha. Sim, que no fim de contas o "bago" é que conta. Materialismo dialéctico.
- A erosão do comunismo no Alentejo é um fenómeno sobretudo demográfico e de substituição de gerações. Como diria Keynes, «no longo prazo estamos todos mortos».
- Daqui a cinco anos há mais, havendo de permeio comemorações da instauração do regime em 1910 que se antevêem grotescas e branqueadoras dos crimes da I República (e da III, já agora) e exaltadoras dos supostos feitos republicanos. De outro modo, como continuar a justificar a blindagem constitucional da «forma republicana de governo»?

Uma noite memorável

Memorável a noite televisiva de ontem. De facto, muitos dos tele-espectadores que se sentaram defronte do pequeno ecrã puderam usufruir de momentos incomparáveis. Falo, claro está, da transmissão do derby basco entre Real Sociedad e Athletic Bilbao (3-3), trazido até nós pela Sporttv. Jogado a um ritmo frenético, de parada e resposta, com incerteza no marcador até ao final, o confronto eterno entre as duas potências futebolísticas bascas foi de arromba.
Há efectivamente alturas em que ver televisão é tudo menos deprimente.

22 janeiro 2006

Sugestões para o dia de hoje


Algumas sugestões para o dia de hoje:
- Recolhimento junto à estátua de D. Carlos, defronte do Palácio da Ajuda, a 10 dias de mais um 1 de Fevereiro, data de ignomínia na nossa história.
- Recolhimento junto ao monumento dos caídos em África, a Pedrouços, Lisboa. Altura para relembrar todas as traições e abandono de compromissos seculares.
- Ler e reler “Frei Luís de Sousa”, de Almeida Garrett. Constatar o que é o amor pátrio e a intransigência face aos interesses anti-nacionais. Perceber o sentido da palavra “honra”.
- Passear por qualquer rincão característico da nossa bela terra, sentir a construção laboriosa dos nossos antepassados, a harmonia que existia entre as actividades humanas e a natureza e como ela tão bem caracterizava o nosso povo, do lavrador ao pescador, do artesão ao almocreve. O tempo em que os únicos subsídios que existiam eram o esforço, o suor do rosto, o trabalho enobrecedor.

Merkel e Putin

Estranhei, estranhei muito. Mas vinda do Paulo, dei a notícia como certa: Angela Merkel declarara que Putin era «um democrata sem mácula». Afinal, o nosso amigo leu a notícia do DN demasiado depressa. Na edição de segunda feira, pág. 18, confirmei-o, o que também pode ser atestado na edição online, onde se lê: «Para marcar a diferença em relação ao anterior chanceler, que considerou Putin "um democrata sem mácula", Angela Merkel tem agendados encontros na embaixada da Alemanha em Moscovo com activistas dos direitos humanos, jornalistas, artistas e políticos da oposição.»
Conclusão: o nosso estimado amigo não é um leitor “sem mácula”... E abaixo Putin!

21 janeiro 2006

O Triunfo dos Porcos

Ficção ou realidade? Será que os demolidores do Ocidente só descansam quando os poucos resistentes estiverem encerrados numa espécie de reserva índia? Ou em campos de concentração?

A esquerda anglo-saxónica e o comunismo

A propósito de uma reconciliação tardia do Jansenista com Bob Dylan, por este não se ter feito porta-voz dos comunistas americanos, comentei que «aquilo a que comodamente podemos chamar a esquerda dos países anglo-saxónicos não tem uma relação tão ambígua com o comunismo como a dos países latinos. Como Joan Baez, que em paralelo com Nixon, criticava o regime soviético sem meias palavras.» Não por acaso, essa clareza de posições face ao comunismo em países como os EUA, a Inglaterra, a Holanda, contribuiu para a sua expressão mínima, sem qualquer eco na população.
Já em França, Portugal, Espanha, Itália a esquerda dita democrática sempre alinhou com o comunismo quando lhe conveio e mesmo culturalmente gosta de encontrar afinidades com aqueles que nunca se chocaram com os crimes soviéticos, chineses, cambodjanos e muitos outros. Gosta de falar de “causas comuns”, de “ícones comuns”, na luta contra a “exploração”, o “racismo”, o “fascismo”, etc., etc.
Por falar em Cambodja: em 1996 estive no sul de Inglaterra (Portsmouth, Winchester, Arundel...). Certo dia, ao pequeno almoço, folheava o “Guardian”, sempre fiel aos trabalhistas. Na primeira página noticiava-se (o que se veio a verificar falso) que Pol Pot, o sanguinário líder dos khmers vermelhos, teria falecido em consequência de uma picadela do mosquito da malária. A caricatura que acompanhava a notícia mostrava um insecto todo satisfeito, exclamando: «I got the bastard”!

19 janeiro 2006

Monarquia do Norte

Há 87 anos Henrique de Paiva Couceiro proclamava a Monarquia do Norte, num gesto que constituiu a última e frustrada tentativa do grande português de restaurar a monarquia no nosso país e acabar de vez com a república.
Após 25 dias de luta a Monarquia do Norte era derrubada, esfumando-se os sonhos de restauração. A decadência pátria podia continuar.
Para memória fica a gesta heróica de Couceiro, homem de fibra, de patriotismo impecável e clarividência notável.

Globalização e descaracterização nacional

Há uns anos, quando ainda era líder do MSI (Movimento Sociale Italiano), Gianfranco Fini declarou qualquer coisa como «a Europa independente cultural e politicamente morreu com o fim da II Guerra Mundial». Escusado relembrar o escândalo que estas palavras provocaram. Fini queria obviamente salientar o papel a seu ver nocivo que a promoção da cultura e dos valores dos EUA tiveram no modo de vida, nas atitudes, na cultura (em sentido lato) europeias.
Já o seu ex-mentor Benito Mussolini proclamara que «no dia em que a Alemanha, um país de assassinos, invadir a Europa, será o fim da sua civilização».
Vem este preâmbulo a propósito da análise que o nosso caro Viriato faz do papel da globalização na degradação da cultura portuguesa, do sentir português, que subscrevemos no geral, pese alguma pertinência do nosso amigo Corcunda na sua análise.
Nenhum país vive isolado e ao longo da sua história o nosso deu mostras mais que suficientes disso mesmo. Ao encontrar-se com outras culturas, ao assimilar componentes destas na sua própria vivência, Portugal tornou-se um dos países mais abertos do seu tempo. A par da difusão da fé, como habitualmente estavam objectivos de expansão comercial, de conquista de mercados. Como hoje.
Qual será então a ameaça que a “globalização” representa para um país pequeno como o nosso e que sempre esteve aberto ao Mundo? Por um lado, isso mesmo: o facto de, hoje, sermos um país pequeno; por outro, como qualquer outro país europeu, asiático, africano, estarmos imersos num mundo cada vez mais homogéneo, o que não tem paralelo na história: desde o que vestimos ao que consumimos (um habitante de Serzedelo é capaz de comer ao pequeno almoço os mesmo “corn flakes” que um habitante de Mumbay) e, sobretudo, ao que fazemos (o trabalho tem hoje em dia praticamente os mesmos moldes em toda a parte, seja na indústria, seja nos serviços, com procedimentos e normas homogéneos, com ferramentas e utensílios homogéneos, com práticas empresariais homogéneas) é toda uma vivência cada vez menos particularizada. As excepções que os próprios actores políticos e económicos admitem são mais uma concessão simbólica aos localismos que uma prática convicta.
A constituição de grandes blocos comerciais (Mercosul) e comerciais-políticos (UE) mais tende a agravar a situação, dado que constituem sub-homogeneizações dentro da homogeneização global, diluindo cada vez mais todos os apports genuínos que cada país pode dar à civilização.
A tecnologia é, assim, um meio de prossecução dessa homogeneização, permitindo contactos permanentes entre todas as partes do mundo. O homem-nómada-económico é uma realidade. Será por isso que Karl Marx, insuspeito de anti-semitismo, dizia que «o judeu liberta-se na precisa medida em que o cristão se torna judeu»?

18 janeiro 2006

Novo blogue

Pensar o nacionalismo e a Pátria à luz dos problemas coevos é o que se propõe o nóvel blogue "Estado Novo". Pretende este espaço constituir um lugar de debate e discussão, um fórum para uma reflexão alargada sobre o nacionalismo e as suas diversas manifestações.
Passem por lá e participem. Da discussão nasce a luz.

E-leitorado

Uma constatação: desde que emigrei para o Blogger perdi um quarto da minha audiência média (de 100 para 75 leitores diários). Nesta nova casa raramente passo os 100 leitores diários, quando na anterior cheguei, nos melhores dias, a 170.
Pode ser por inércia de alguns, por não ter a publicidade dos postais mais recentes que existe no Weblog, ou, muito simplesmente, por este blogue estar a perder interesse, o que não é de excluir (reina aliás alguma apatia na blogosfera nacional, com poucos comentários, nenhumas polémicas).
Será que se passou o mesmo com o Pedro e o Patrick?

Os crimes do regime de Allende

Recomendo-vos este excelente resumo do ambiente de terror e tentativa de imposição de um estado comunista no Chile, com todo o cortejo habitual de violência, discricionaridade, selvajaria, desumanidade.
A propaganda de esquerda continua a dar uma imagem idílica de Allende, pobre idealista socialista derrubado pelos pérfidos militares reaccionários apoiados pelos EUA. Um pouco como em Portugal, onde a ideologia dominante zurze sem fim o Estado Novo e ignora o caos social, económico, cívico da I República, assim como os seus crimes.
(Via "O Insurgente".)

17 janeiro 2006

Torga sempre presente

O Jorge Ferreira houve por bem evocar os onze anos sobre a morte de Miguel Torga, com uma breve nota biográfica e dois poemas.
Há um ano também o homenageámos, não por acaso com um poema de nome "Pátria".
A melhor homenagem é continuar a ler o grande escritor transmontano e a divulgar a sua obra.

O lobby em acção

Sem surpresa, a Noruega abandonou a ideia de constituir um embargo à importação de bens produzidos em territórios ocupados aos palestinos por Israel, cedendo a pressões dos EUA.
Mais uma vez o lobby judaico mostra a sua força e capacidade de interferência na política de outros países, uma capacidade de facto extraordinária para um país de 6 milhões de habitantes. Outro exemplo bem recente foi o abandono por parte da Bélgica da possibilidade de levar a tribunal Ariel Sharon, caso o carniceiro de Sabra e Chatilla entrasse em território do reino.
Este artigo, que muitos reputarão como radical pelo site de onde é extraído, reflecte bem a indignação do mundo árabe perante a complacência com que Israel é tratado nos grandes areópagos internacionais, seja pelo tratamento que reserva aos palestinos, seja pela desprezo que mostra face às resoluções da ONU, seja ainda pela sua capacidade nuclear não contestada.

Um mimo

Um sujeito que se assina "amilcar" comentou um texto que publiquei no antigo endereço deste blogue. Reproduzo-o a seguir, por constituir um momento extraordinário na história da blogosfera lusa:
«nao ao cavaquinho, es um ladrao seu cabrao, faxista, o povo unido ja mais sera vensido, nos nao te vamos por a representar o nosso pais tu es um burro nao tens tomates nem nome para presidente se ouvece uma amiasa de bomba tu fuchias, animal, cobarde, deus queira que percas nao ao cavaco mentiroso»

13 janeiro 2006

Limpeza étnica e sobrevivência do estado israelita

Imagine que, para instalarem electricidade na sua casa, lhe exigiam cinco vezes o salário anual médio nacional. O mais provável era que se mudasse para outro local. É precisamente aquilo que acontece a muitas famílias palestinianas que vivem perto de Jerusalém, naquilo que configura uma manobra perversa, mas eficaz, de limpeza étnica.
É também uma forma de permitir a expansão de dois colonatos judaicos nas cercanias da cidade santa.
E, para quem ainda fala de Sharon como o homem da paz, nada como ler este artigo, em que se demonstra claramente que a retirada militar de Gaza, bem como a possível retirada de algumas zonas da Cisjordânia, resulta simplesmente da constatação do desequilíbrio demográfico tendencialmente crescente entre a população de origem árabe e a população judaica. Retirada essa consolidada com a construção do ignóbil muro, que em algumas zonas chega a cercar populações árabes de várias dezenas de milhar de pessoas em benefício de colonatos com algumas dezenas de residentes judeus.

12 janeiro 2006

O casamento

Num texto notável, o nosso amigo Corcunda disseca as taras de propostas de sociedade que podemos resumir como puramente materialistas, posto que centram as suas preocupações de mudança na questão da redistribuição, não curando de reflectir sobre o que gera o produto que se quer redistribuir ("gera" em sentido abrangente, incluindo questões de ética) e, à boa maneira marxista, concentram todas as variáveis de sociedade no que é material.
A sociedade “moderna” resume-se, assim, a um conjunto de indivíduos, desejavelmente sem grandes vínculos ao passado e às tradições, cada qual lutando pelo seu quinhão no bolo de riqueza por ela gerado. O “homo economicus”, em suma.
Esta visão gera rancores ou ressentimentos pelos que não ascendem, não necessariamente na medida do seu valor mas porque “é justo” (justiça social). Nada de apelo ao esforço individual, apenas direitos, não deveres.
Ontem, ao acaso de um zapping, deparei com um número de “rap”, em que os dois “cantores”, entre múltiplas reclamações da sociedade e ressentimentos em barda, clamavam: «se houvesse democracia, eu não seria uma minoria»…
Também Kafka, numa passagem brilhante de “O Processo”, representa um indivíduo a ser chicoteado. Mas o seu desejo não era de que houvesse justiça na sociedade mas sim que um dia, por ascensão social, se pudesse alcandorar à função de chicoteador! Na mesma obra Josef. K indaga sobre um quadro representando um juiz nas alturas, com a balança da justiça na mão; claro que, assim, no ar, a balança nunca poderia estar equilibrada!
Materialismo e justiça assente em princípios abstractos e quantas vezes utópicos representam bem a modernidade em que vivemos. O casamento “possível” entre o capitalismo e o ideário marxista.

11 janeiro 2006

Um homem do nosso tempo

Foi comunista. Abandonou o partido na sequência do golpe falhado de 1991, o qual estava de resto perfeitamente em linha com a coerência comunista de luta contra a "reacção", as "tentativas imperialistas" e as "manobras da NATO". Ah! Mas os "ventos da história" eram outros e havia já meios mais "civilizados" de lutar pelo socialismo.
Entra, assim, no PS. Ascensão fulgurante, culminada com a atribuição da pasta da Economia, depois acumulada com a das Finanças. Gestão perfeitamente ruinosa dos fundos públicos, crescimento desmesurado da despesa, contribuindo fortemente para mergulhar o país na recessão.
Representante local da Iberdrola, com a missão de promover a expansão desta em Portugal. Um já longo historial de defesa de interesses espanhóis em detrimento do interesse nacional. Para quem foi internacionalista e se recauchutou em agente espanhol o interesse nacional deve ter a mesma relevância que saber o tempo que vai fazer amanhã em Katmandu.
Ganhou em 2004 cerca de 240 mil euros em actividades de consultoria; metade daquela verba foi-lhe paga pelo BCP.
É um Miguel de Vasconcelos dos tempos modernos.

10 janeiro 2006

"Santos da Casa" em "O Diabo"

Walter Ventura, de "O Diabo", entendeu que este blogue tem mérito suficiente para ser incluído na sua coluna "Os Meus Blogues". O texto reproduzido na edição de hoje é este.
Agradecemos a distinção, que entendemos como um estímulo para continuar o trabalho empreendido desde Outubro de 2004, em prol dos valores que achamos que devem ser defendidos intransigentemente, sempre com a Pátria em mente.

Da crueldade sobre os animais

O nosso amigo Paulo abordou ontem a questão da crueldade sobre os animais, fazendo ver que quem se preocupa em preservar a vida dos bichos dá mostras de ser civilizado.
Uma escola primária que frequentei tinha um recreio enorme, com muitos espaços verdes, caminhos e recantos. Um dia, não sei porquê, apareceu por lá um pato. Alguns miúdos logo se apressaram a fazer toda a sorte de judiarias ao pobre animal, com uma crueldade que ainda hoje me arrepia. É uma cena que me marcou para toda a vida, ver a desafortunada criatura ser massacrada pela maldade de meia dúzia de garotos.
Ao reflectir sobre a crueldade humana, que atingiu no século passado cúmulos nunca vistos, tanto em "requinte" como em extensão, pode parecer de somenos a questão do sofrimento animal. Mas este, se provocado deliberadamente, é para mim um sinal de que "o outro" está à esquina, dada a selvajaria inerente àquele. Daí, sem dúvida, o Paulo ter referido o termo "civilizado".
Aliás, dois escritores da maior dimensão artística, Dostoievski e Orwell, deram exemplos disto mesmo nos seus livros. O primeiro em "Crime e Castigo", o segundo em "Animal Farm", relatam o sofrimento de um cavalo, atingindo o paroxismo dificilmente suportável para o leitor.
Numa era reduzida ao económico, os animais são tratados a esse nível, como mercadoria; a forma como é efectuado o transporte de animais para abate, a indústria alimentar em larga escala, são bem disso o reflexo.
Surgem, por reacção, atitudes contrárias a esta "desumanização dos animais". Mas a forma como se manifestam é por vezes ridícula: quem se não lembra dos militantes da Greenpeace a verberar os pescadores de cachalotes açorianos, acusando-os de "assassinos", eles que lutavam pela vida, um mester de vários séculos de existência.
A humanidade avançou em termos tecnológicos de uma forma nunca vista, o conforto alargou-se a largos espectros da população, o chamado bem-estar é uma realidade para mais de dois terços dos habitantes do mundo dito desenvolvido. Em paralelo, por muito que isso desagrade ao Weltanschauung de muitos intelectuais e utopistas prêt-à-porter, o "animal homem" é o mesmo - com os mesmos instintos, as mesmas necessidades básicas, as mesmas pulsões, a mesma capacidade de agir nobre e desinteressadamente como de participar em atrocidades sem fim. A sociedade civilizada tem o dever de controlar as suas pulsões mais nocivas. Só assim merecerá o epíteto "civilizada".

Buscas

O site "Technorati", muito útil para pesquisas na internet, nomeadamente de referências a blogues, costuma listar os temas ou nomes mais procurados pelos internautas. Essa lista costuma incluir nomes de membros da Administração Busharon, actrizes de cinema e outras "lascas" de estalo.
À hora a que escrevo este postal os nomes mais pesquisados são:
1. Macworld
2. “Howard Stern”
3. Apple
4. Alito
5. “Jt Leroy”
6. “James Frey”
7. CES
8. “Cavaco Silva”
9. “Emily Stern”
10. “Bob Herbert”
Repararam bem no oitavo nome mais pesquisado? Se o octogenário egocêntrico e caquético sabe disto leva uma patada enorme no seu orgulho brontossáurico... Mas é esse mesmo orgulho que o impede de se esconder num poço... de Boliqueime!

08 janeiro 2006

Tertúlia blogueira

O grande acontecimento a nível da blogosfera neste ano que agora principia é naturalmente o aparecimento do “Jantar das Quartas”, blogue colectivo que agrupa personalidades de grande talento e sem quaisquer receios de obediência ao politicamente correcto.
Em particular, permite-nos, finalmente!, poder fruir a prosa de Mendo Ramires e Eurico de Barros, não limitadas às caixas de comentários onde habitualmente nos chegavam.
Tendo já expressado algumas reservas quanto à viabilidade de blogues colectivos, permito-me listar de seguida alguns dos riscos inerentes aos mesmos:
- quanto maior o número de colaboradores, maior a tendência para textos curtos, pois caso contrário a densidade de textos diária poderá levar à dispersão dos leitores;
- não havendo coordenação de edição, pode-se dar o caso de num dia determinado haver quinze postais e noutro um ou dois; pode também haver análises sobre um tema específico por mais de um participante em sentido relativamente próximo, sem grande valor acrescentado;
- há sempre o risco de alguma “anarquia”, alternando-se textos mais reflexivos com textos curtos ou humorísticos, recensões literárias com alusões futebolísticas...
- dir-me-ão que esse risco existe num blogue individual, o que é verdade; mas aí a individualidade do seu autor está necessariamente expressa na multiplicidade de preocupações do seu autor.
No caso deste nóvel projecto, transparece um ambiente descontraído, sem grandes linhas de rumo que não a livre expressão de opiniões, gostos, afectos e desdéns (como diria Rodrigo Emílio), precisamente aquilo que caracteriza uma tertúlia entre amigos. Que assim se vê alargada a algumas centenas (espera-se) de leitores, que assim darão o seu “apport”, a sua nota de discordância, a sua aprovação, o seu quê de comentário em voz mais alta, como por vezes sucede entre comensais.
Boa sorte para o projecto!

Luta pelo direito à vida na Eslováquia

Está na forja a elaboração de um tratado entre o Vaticano e a Eslováquia no sentido de que neste país, onde o aborto é legal até às 12 semanas de gestação, seja possível aos médicos a objecção de consciência, não sendo, assim, os partidários da vida obrigados a praticar um aborto.
Claro que as reacções não se fizeram esperar, nomedamente a nível da UE, alegando-se que os direitos das mulheres estarão a ser violados. Do direito à vida, nem uma palavra de democrática indignação.

Sem comentários

«Desfrute as diferenças. Aproveite a variedade. Descubra outras formas. Encontre-se com "Raças", um ciclo de cinema no qual perceberá os benefícios de se integrar noutras culturas.»

In revista "Zapping TV Cabo", nº34, pág. 64.

07 janeiro 2006

Sobre revolucionários

Hoje, numa biblioteca, deparei com um livro que não conhecia: a autora era Vera Lagoa e o título "Revolucionários que conheci". Trata-se, de certa forma, de um ajuste de contas da autora com alguns pseudo-revolucionários que se acomodaram sem queixas de maior com o Estado Novo e que depois da Abrilada se encheram de "brios" revolucionários, renegando amizades comprometedoras.
Lagoa não poupa os nomes, lá se falando de Stau Monteiro, Urbano Tavares Rodrigues e muitos outros.
Suponho que a obra deve ser mais ou menos inencontrável, se calhar mesmo em alfarrabistas. Alguém tem uma pista que me possa dar?

06 janeiro 2006

Os sinais

Os responsáveis políticos de uma sociedade, pelos seus actos, dão sinais à população. Pelos princípios que advogam tentam moldar a sua visão das coisas.
Um presidente que conceda indultos a criminosos condenados apenas porque "é Natal", ou festejamos x anos da Abrilada, está a dar um sinal claro: o de que, «por razões humanitárias» (sic), se perdoa a quem prevaricou, dando a entender a futuros prevaricadores (ou - e quantas vezes - aos presentes, quando saem da cadeia) que, «por razões humanitárias», os actos condenáveis que possam vir a cometer nunca terão a sanção prevista na lei, supondo que esta é a aplicada pelos juízes.
A ideologia de esquerda tem múltiplas perversidades mas sem dúvida uma das mais degradantes é a de invocar motivos humanitários para contemporizar com criminosos, votando ao desprezo as suas vítimas, para as quais não há preocupações dessa índole. Sendo a sociedade culpada de tantos males, vamos lá facilitar a vida às suas "vítimas" (os que cometem crimes), não nos preocupando com os "culpados" (as vítimas desses crimes). É a total inversão de valores e da ordem natural das coisas. É o mundo em que vivemos.

05 janeiro 2006

Príncipe Valente


Outro personagem mítico: Prince Valiant, de Harold Foster. Autor minucioso, Foster traz-nos uma Idade Média de intrépidos e destemidos guerreiros em luta constante com o mal.
O ambiente das histórias é geralmente pouco tenso, abundando episódios cómicos.
A bela Aleta, mulher de Valiant, dá um tom sedutor às aventuras.

Rip Kirby

Rip Kirby e Honey, da genial criação de Alex Raymond. Personagem que hoje seria politicamente incorrecto, com saídas como esta: «foi um bem para a sociedade a morte deste bandido».
A mulher de Alex Raymond fazia recortes de revistas de moda, com base nos quais o desenhador caracterizava as personagens femininas.

Banda desenhada clássica americana e franco-belga

Animada discussão gerou este postal do “Sexo dos Anjos”. Terçaram-se argumentos sobre os méritos da banda desenhada franco-belga e da banda desenhada clássica americana. Sendo apreciador de ambas, pendo claramente a favor desta última, por vários motivos:
- histórias regra geral “mais sérias”: dado que se publicavam em vinhetas diárias nos jornais de maior expansão, destinavam-se a um público mais adulto, mais exigente;
- os desenhadores tinham maior qualidade: a afirmação é polémica mas para mim basta atentar no “poder” das imagens a preto e branco dos autores americanos e comparar com a profusão de cores, tantas delas berrantes, da BD franco-belga para se chegar a esta constatação;
- onde se nota melhor esta diferença é no desenho dos rostos: na BD clássica americana há um trabalho notável de caracterização física dos personagens, sendo a expressão de cada um única e extraordinariamente viva; na BD franco-belga os rostos são quase sempre estereotipados, sem grandes variações de personagem para personagem;
- a BD franco-belga é incrivelmente puritana: raramente se representam mulheres e casais são ainda mais raros; são frequentes os pares de amigos (Tintin / Haddock, Blake / Mortimore, Astérix / Obélix, Spirou / Fantásio; até com os animais: Clorofila e Minimum!); na BD clássica americana as mulheres têm um papel marcante (histórias de Rip Kirby, Flash Gordon, Príncipe Valente, Mandrake, Fantasma, Cisko Kid, etc.) e são frequentes as cenas amorosas, algumas delas mesmo voluptuosas; o desenho a corpo inteiro não poupa detalhes de seios, coxas, etc., com naturalidade e sem falsos pruridos. (Na capa acima reproduzida do Mundo de Aventuras nº 34 - de 1950! - uma cena de sedução a Flash Gordon.)
Em última análise, como é óbvio, é tudo uma questão de gosto. E nesta breve nota não falamos de grandes artistas europeus que não pertencem à escola franco-belga, como os espanhóis Jesús Blasco (Cuto) e Arturo del Castillo, o magnífico Franco Caprioli (que teve grande divulgação entre nós nas páginas do Cavaleiro Andante) e, porque não referi-los, grandes autores portugueses como Eduardo Teixeira Coelho (recentemente falecido), Vítor Péon, Augusto Trigo e muitos outros.
Para os nostálgicos da BD antiga existe este site de divulgação e venda de revistas portuguesas históricas como o já citado Cavaleiro Andante, o Mundo de Aventuras (publicado initerruptamente entre 1949 e 1987!), o Mosquito, o Papagaio, o Zorro, Tintin, Spirou, etc., etc. Reproduzem-se primeiras páginas de muitos exemplares, o que já dá para abrir o apetite. A fruir.

Fotografia do dia

Fila para abastecimento de gasolina no segundo país do mundo mais rico em recursos petrolíferos, o Iraque.

(Fonte: Al-Quds Al Arabi, Londres, 4/1/06.)

03 janeiro 2006

Um aristocrata do desespero

«Je ne suis pas du passé, je suis de la vie.»

Natural de Paris. Ferido três vezes na guerra de 14. Influenciado por Nietzsche e amante da literatura inglesa. Esteticamente decadente. Andou pelo surrealismo mas em breve se incompatibilizou com a clique de Breton. Adere ao PPF de Doriot, descobre-se fascista e acredita na Europa nova. Dirige a NRF. Esconde-se após a Libertação de Paris. Mergulha nas leituras místicas hindus. A ideia do suicídio, que sempre o perseguiu desde tenra idade, materializa-se aos 52 anos de vida. Chamava-se Pierre Drieu la Rochelle e nasceu há 103 anos.
A sua obra é cada vez mais valorizada mesmo por quem não sente afinidades com as suas ideias. Mérito também de Louis Malle, que realizou em 1963, “Le Feu Follet”, adaptação de umas das obras mais pessoais de Drieu (a par de “Récit Secret” e do “Journal”), com um fantástico Maurice Ronnet. A FNAC em Portugal nem uma obra sua tem para amostra. Uma vitória da democracia.

02 janeiro 2006

Os blogues do ano

Os exercícios de atribuição de mérito aos “blogues do ano” são sempre um pouco ociosos e injustos, posto que atribuem méritos a alguns mas acabam por cometer injustiças (por omissão) a muitos outros.
Há um ano limitei-me a citar, sem hierarquias, os blogues que mais apreciava. (A propósito, ao reler esse texto quer-me parecer que estava a escrever melhor por essa altura.)
Em relação a 2005 vou mesmo estabelecer algumas listas de “preferidos”, uma espécie de best-off que, repito, será necessariamente injusta para muitos dos omitidos.

Melhores blogues:
1- Nova Frente
2- O Sexo dos Anjos
3- O Misantropo Enjaulado

Melhor serviço à língua portuguesa:
1 - Nova Frente
2 – Dragoscópio
3 – O Jansenista

Melhores novos blogues:
1 - O Misantropo Enjaulado
2 – Batalha Final
3 – Euro-Ultramarino

Blogues liberais:
1- Tomarpartido
2- A Arte da Fuga
3- O Insurgente

Prémio “Se escrevessem mais estavam entre os melhores”:
1 – Pena e Espada
2 – Blogville
3 – Super Flumina

Trabalho de fundo / reflexão:
1 – O Pasquim da Reacção
2 – A Casa de Sarto
3 – Batalha Final

Espírito Monárquico:
1 – Interregno
2 – Último Reduto
3 – O Velho da Montanha

Literatura:
- Humanae Litterae

Desfeita do ano:
- O fim do Porta Bandeira

01 janeiro 2006

Ano novo, vida velha

Em 1869, tendo conhecimento que Julie Schumann se iria casar em breve, Johannes Brahms, pegando em versos de “Harzreise im Winter”, de Goethe, musicou-os e ofereceu-os como uma canção de núpcias (trata-se da Rapsódia para Contralto, op. 53).
O tema escolhido não parece nada indicado para um acontecimento festivo como um casamento, pois narra os tormentos de um viandante em busca da própria identidade.
Mesmo para quem a língua alemã seja estranha, não deixará de se reconhecer a extraordinária musicalidade e expressividade destes versos:

Ach, wer heilet die Schmerzen
Dess, dem Balsam zu Gift ward?
Der sich Menchenhass
Aus der Fülle der Liebe trank!

(Ah, quem irá consolar as mágoas
Daquele a quem o bálsamo se tornou veneno?
Que da plenitude do amor
Bebeu o ódio dos homens!)

Quem leu o “Werther” não deixará de encontrar similutes de sensações e sentimentos entre esta obra e os versos acima reproduzidos. E que dizer deste verso:

Erst verachtet, nun ein Verächter

(Outrora desdenhado, agora desdenhador)

e desta frase do “Werther”: «cada vez se tornava mais intratável e ríspido, à medida que se tornava mais infeliz»?

Ocorreu-me o contexto em que Brahms compôs a obra citada pelo espírito subjacente à euforia de que é rodeada a comemoração do Ano Novo, que regra geral me deprime, não só porque acontecimentos relativamente recentes ocorridos nesta altura do ano me provocam esse sentimento, como por achar disparatado que a simples mudança de uma página do calendário propicie por si só que as agruras deste mundo se tornem menos amargas e, sem efectiva acção dos homens, se espere a chegada de uma nova era.
Dito isto, as minhas desculpas aos meus leitores mais optimistas (ou preguiçosos, como diria o Paulo) e votos de um bom ano.