Da crueldade sobre os animais
O nosso amigo Paulo abordou ontem a questão da crueldade sobre os animais, fazendo ver que quem se preocupa em preservar a vida dos bichos dá mostras de ser civilizado.
Uma escola primária que frequentei tinha um recreio enorme, com muitos espaços verdes, caminhos e recantos. Um dia, não sei porquê, apareceu por lá um pato. Alguns miúdos logo se apressaram a fazer toda a sorte de judiarias ao pobre animal, com uma crueldade que ainda hoje me arrepia. É uma cena que me marcou para toda a vida, ver a desafortunada criatura ser massacrada pela maldade de meia dúzia de garotos.
Ao reflectir sobre a crueldade humana, que atingiu no século passado cúmulos nunca vistos, tanto em "requinte" como em extensão, pode parecer de somenos a questão do sofrimento animal. Mas este, se provocado deliberadamente, é para mim um sinal de que "o outro" está à esquina, dada a selvajaria inerente àquele. Daí, sem dúvida, o Paulo ter referido o termo "civilizado".
Aliás, dois escritores da maior dimensão artística, Dostoievski e Orwell, deram exemplos disto mesmo nos seus livros. O primeiro em "Crime e Castigo", o segundo em "Animal Farm", relatam o sofrimento de um cavalo, atingindo o paroxismo dificilmente suportável para o leitor.
Numa era reduzida ao económico, os animais são tratados a esse nível, como mercadoria; a forma como é efectuado o transporte de animais para abate, a indústria alimentar em larga escala, são bem disso o reflexo.
Surgem, por reacção, atitudes contrárias a esta "desumanização dos animais". Mas a forma como se manifestam é por vezes ridícula: quem se não lembra dos militantes da Greenpeace a verberar os pescadores de cachalotes açorianos, acusando-os de "assassinos", eles que lutavam pela vida, um mester de vários séculos de existência.
A humanidade avançou em termos tecnológicos de uma forma nunca vista, o conforto alargou-se a largos espectros da população, o chamado bem-estar é uma realidade para mais de dois terços dos habitantes do mundo dito desenvolvido. Em paralelo, por muito que isso desagrade ao Weltanschauung de muitos intelectuais e utopistas prêt-à-porter, o "animal homem" é o mesmo - com os mesmos instintos, as mesmas necessidades básicas, as mesmas pulsões, a mesma capacidade de agir nobre e desinteressadamente como de participar em atrocidades sem fim. A sociedade civilizada tem o dever de controlar as suas pulsões mais nocivas. Só assim merecerá o epíteto "civilizada".
Uma escola primária que frequentei tinha um recreio enorme, com muitos espaços verdes, caminhos e recantos. Um dia, não sei porquê, apareceu por lá um pato. Alguns miúdos logo se apressaram a fazer toda a sorte de judiarias ao pobre animal, com uma crueldade que ainda hoje me arrepia. É uma cena que me marcou para toda a vida, ver a desafortunada criatura ser massacrada pela maldade de meia dúzia de garotos.
Ao reflectir sobre a crueldade humana, que atingiu no século passado cúmulos nunca vistos, tanto em "requinte" como em extensão, pode parecer de somenos a questão do sofrimento animal. Mas este, se provocado deliberadamente, é para mim um sinal de que "o outro" está à esquina, dada a selvajaria inerente àquele. Daí, sem dúvida, o Paulo ter referido o termo "civilizado".
Aliás, dois escritores da maior dimensão artística, Dostoievski e Orwell, deram exemplos disto mesmo nos seus livros. O primeiro em "Crime e Castigo", o segundo em "Animal Farm", relatam o sofrimento de um cavalo, atingindo o paroxismo dificilmente suportável para o leitor.
Numa era reduzida ao económico, os animais são tratados a esse nível, como mercadoria; a forma como é efectuado o transporte de animais para abate, a indústria alimentar em larga escala, são bem disso o reflexo.
Surgem, por reacção, atitudes contrárias a esta "desumanização dos animais". Mas a forma como se manifestam é por vezes ridícula: quem se não lembra dos militantes da Greenpeace a verberar os pescadores de cachalotes açorianos, acusando-os de "assassinos", eles que lutavam pela vida, um mester de vários séculos de existência.
A humanidade avançou em termos tecnológicos de uma forma nunca vista, o conforto alargou-se a largos espectros da população, o chamado bem-estar é uma realidade para mais de dois terços dos habitantes do mundo dito desenvolvido. Em paralelo, por muito que isso desagrade ao Weltanschauung de muitos intelectuais e utopistas prêt-à-porter, o "animal homem" é o mesmo - com os mesmos instintos, as mesmas necessidades básicas, as mesmas pulsões, a mesma capacidade de agir nobre e desinteressadamente como de participar em atrocidades sem fim. A sociedade civilizada tem o dever de controlar as suas pulsões mais nocivas. Só assim merecerá o epíteto "civilizada".
2 Comments:
Obrigado, caro Mendo!
Agora, com o "Jantar das Quartas", mais candidatos se perfilam para aparecer nas páginas d' "O Diabo"...
É de facto uma questão importantíssima! Já Burke achava que as sociedades podiam ser medidas no seu grau de civilidade pela forma como tratam os animais... Eu concordo em absoluto!
O perigo está na ideia de Direitos dos Animais, que é uma ideia muito perigosa... Eu prefiro deveres dos homens para com a Criação, do que direitos criados por vontade, que podem ser mudados quando se quiser!
Quando tiver tempo explico em detalhe...
Um abraço
Enviar um comentário
<< Home