20 novembro 2005

Testamento Político de José António Primo de Rivera

«Condenado à morte, peço a Deus não que impeça de chegar esse momento, mas que me conserve a decorosa resignação com que o aguardo e, ao julgar a minha alma, não tome em conta a medida dos meus merecimentos, mas a sua infinita misericórdia.
Possui-me o escrúpulo, de ser vaidade e excesso de apego às coisas da Terra o querer deixar nesta conjuntura o exame de alguns dos meus actos; porém, como por outro lado arrastei a fé de muitos dos meus camaradas em medida muito superior ao meu valor (demasiado bem conhecido por mim, ao ponto de ditar-me esta frase com a mais simples e contrita sinceridade) e como, também levei muitos deles a arrostar riscos e responsabilidades enormes, parecia-me injusta gratidão, abandonar a todos sem nenhuma espécie de explicação.
Não é mister repetir-se agora o que tantas vezes dissemos e escrevemos sobre o que nós, fundadores da Falange Espanhola, entendiamos que ela fosse. Espanta-me que três anos passados, a imensa maioria dos nossos companheiros persista em julgar-nos, sem ter de modo algum começado a compreender-nos e até sem ter procurado nem aceite a mínima informação. Se a Falange se consolidar duradouramente, espero que todos percebam a dor de se ter perdido tanto sangue por não termos aberto uma brecha de serena atenção entre a sanha de um lado e a antipatia do outro. Que esse sangue vertido me perdoe a parte que tive em provocá-lo, que os camaradas que me precederam no sacrifício me acolham como o último de entre eles.
Ontem, pela última vez, expliquei, perante o tribunal que me julgava, o que é a Falange. Como em tantas ocasiões, repassei os velhos textos da nossa familiar doutrina. Uma vez mais, observei que muitas faces, ao princípio hostis, se iluminavam, primeiro com assombro, logo com simpatia. Nos seus rostos parecia-me ler esta frase: «Se tivéssemos sabido o que era isto não estaríamos aqui.» E certamente não teríamos estado ali, nem eu diante de um Tribunal popular, nem os outros matando-se pelos campos de Espanha. Não era já, sem embargo, tempo de o evitar, e limitei-me a retribuir a lealdade e a valentia dos meus bem amados camaradas, ganhando para eles a atenção respeitosa dos seus inimigos.
A isto entendi, e não a granjear com galhardia de ouropel a fama póstuma de herói. Não me fiz responsável de tudo nem me ajustei a nenhuma outra variante do padrão romântico. Defendi-me com os melhores recursos do meu ofício de advogado, tão profundamente querido, e cultivado com tanta assiduidade. Talvez não faltem comentadores póstumos que me acusem de não ter optado pela fanfarronada. Que cada um pense o que quiser. Para mim, além de não ser primeiro actor enquanto houve, seria monstruoso e falso entregar sem defesa uma vida que ainda poderia ser útil e que Deus não concedeu para queimá-la em holocausto à vaidade, como um castelo de fogos de artifício. Mas, como o dever de defesa me aconselhou não só certos silêncios mas também certas acusações fundadas em suspeitas de me ter eu isolado numa região que até ao fim se encontrou submissa, declaro que tal dúvida não está comprovada por mim, e que se pode sinceramente alimentá-la no meu espírito a avidez de explicações exasperadas pela solidão, agora, frente à morte, não pode nem deve ser mantida.
Outro assunto me falta rectificar. (...) Até há cinco dias aquando soube do processo instruído contra mim não tive conhecimento das declarações que me atribuíam, porque nem os jornais que as trouxeram nem nenhum outro me eram acessíveis. Ao lê-las agora afirmo que entre os diversos parágrafos que se dão como meus, desigualmente fiéis na interpretação do meu pensamento, há um que nego por absoluto: o que acusa os meus camaradas da Falange, de cooperar no movimento insurreccional com «mercenários trazidos de fora». Jamais disse algo de semelhante e ontem declarei-o rotundamente perante o tribunal, ainda que declará-lo não me favorecesse. Não posso injuriar forças militares que prestaram à Espanha em África heróicos serviços. Não posso lançar daqui reprovações a camaradas que ignoro se estão agora sábia ou erroneamente dirigidos, mas que, com certeza tratam de interpretar com a melhor fé apesar da incomunicabilidade que nos separa, os meus ensinamentos e doutrina de sempre. Queira Deus que a sua ardorosa ingenuidade não seja nunca aproveitado noutro serviço que o da Grande Espanha que sonha a Falange. Oxalá que fosse meu o último sangue espanhol vertido nas discórdias civis. Oxalá encontrasse já em paz o povo espanhol, tão rico em boas qualidades naturais, a Pátria, o Pão, a Justiça.
Creio que nada mais importa dizer a respeito da minha vida pública. Quanto à minha morte próxima, espero-a sem jactância mas sem lamento, porque nunca é alegre morrer na minha idade. Aceita-a Deus Nosso Senhor no que tenha de sacrifício para compensar o que tenha havido de egoísta e vão em muito da minha vida. Perdoo de toda a minha alma a quantos me tenham podido fazer mal ou ofender, sem nenhuma excepção e rogo me perdoem todos aqueles a quem deva a reparação de algum agravo grande ou pequeno...»

(Tradução de Ângelo B. César)
In «Agora», n.º 332, pág. 7, 25.09.1967.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Hombre cabal, hombre bueno.

20 novembro, 2005 13:22  
Anonymous Anónimo said...

José António Primo de Rivera - Presente!

\o

20 novembro, 2005 16:47  
Anonymous Anónimo said...

José António
\o
Presente!

Legionário

21 novembro, 2005 10:41  

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