13 março 2006

Horizonte

De súbito, por entre as brumas do desânimo, divisou-se a linha do "Horizonte"...

To close or not to close

Como é de calcular, uma decisão como a de encerrar este blogue não é tomada de ânimo leve e, como tal, os incentivos generosos que tenho recebido não a alteram. O que não quer dizer que não os tenha em consideração, longe disso. Mas seria também uma falta de respeito para com os que por aqui passam dizer um dia que fecho e no outro que já não fecho. Não se brinca com os fregueses e muito menos com as suas expectativas.
Pese a reacção quase imediata de muitos leitores, nem um só focou, creio que por gentileza e boa educação, o que para mim é flagrante: que este blogue há já vários meses (e não semanas) carece de inspiração. Os postais sucedem-se, monotonamente, sem nada que exalte especialmente quem escreve e, presumo, quem lê. Quando releio o que escrevia no meu antigo poiso e o comparo com o que venho deixando por aqui, o contraste é flagrante. Será uma desadaptação de imigrante??? Brincadeiras à parte, é efectivamente um caso de desinspiração. E de falta de tempo.
Sou um indivíduo exigente consigo próprio, tanto neste mister como no trabalho ou nas relações inter-pessoais. Se me meto num projecto é para o levar a cabo com esse nível de exigência. Se escrevo um postal, devo previamente analisar um mínimo sobre o tema em apreço, de outra forma estarei a servir de câmara de eco a uma notícia, apondo-lhe um ou outro comentário mais ou menos a atirar para o demagógico (sinto que já o fiz várias vezes), quiçá para confortar os leitores azedados com o politicamente correcto que os (nos) circunda.
A falta de tempo não se reflecte só na possibilidade reduzida de ler e estudar mais antes de escrever um texto, reflecte-se também no menor (ou, presentemente, quase nenhum) tempo dedicado a transcrever passagens de livros, sejam ensaios ou romances, poesia ou história, algo que outrora enriquecia bastante o blogue, dando pistas aos leitores, permitindo os seus comentários sobre temas menos candentes da actualidade mas não menos inspiradores para quem se orgulha da cultura nacional e ocidental. E para quem gosta de pensar, debater. E que me enriqueceu não poucas vezes, abrindo horizontes.
Em resumo: não me sentindo ao nível de exigência (nem perto dele) que requeiro para esta empresa, não sinto que seja correcto, como escrevi ontem, deixar este espaço num estado semi-vegetativo.
Dito isto, não fechei nenhuma porta. Nem é correcto falar-se, como alguns fizeram (certamente imbuídos das melhores intenções), em desistência. Foi palavra que não empreguei, nem o costumo fazer na minha vida. Trata-se de uma pausa, sem duração definida. Poderei reactivar o blogue, ou não. Outra hipótese, mais real, será abrir um novo: com menos actualizações, com mais textos próprios e mais extensos. É para aí que estou virado de momento.
E sabem uma coisa? Escrever este postal entusiasmou-me: sei que tenho os melhores leitores do mundo.

12 março 2006

Finito

Qualquer leitor mais ou menos atento ao que se escreve por aqui já reparou na falta de fôlego deste blogue de há uns tempos a esta parte. Cansaço, desinteresse, falta de tempo, desmotivação, problemas familiares, profissionais e agora até a frequência de um curso universitário de um semestre levam-me a tomar a decisão de suspender este blogue.
Criei o "Santos da Casa" com o entusiasmo de quem se sentiu estimulado pela leitura de alguns blogues de grande qualidade, de cujos autores aliás sempre recebi incentivos. Não quereria por nada que este espaço continuasse activo por obrigação, num estado semi-vegetativo. Felizmente a blogosfera de qualidade está muito bem representada em Portugal. Não vou fazer referências a nenhum blogue em particular, quem por aqui foi passando sabe bem quais são as minhas maiores simpatias.
Vou continuar leitor atento e comentador activo dos meus blogues preferidos. Vêmo-nos por aí.
Para algum dia reactivar este blogue ou criar um novo é preciso que sinta o entusiasmo que tinha em Outubro de 2004.
Um abraço forte a todos os meus leitores e amigos.

10 março 2006

Televisões

Umberto Eco, com quem não me identifico especialmente, interrogado sobre o que pensava da televisão, disse acertadamente que o que lhe fazia impressão no que ao pequeno écran diz respeito era o tempo que os intelectuais dispendiam a falar dele - ou pregados a ele.
Eu penso o mesmo, não só dos intelectuais (que em boa percentagem estimulam o nosso intelecto em bem reduzida medida, dados os parti pris estéticos e ideológicos que ostentam) como de todas as pessoas de cultura e bom gosto, conhecendo muito exemplos neste grupo que efectivamente torram horas do seu precioso tempo vidrados aos 51 cm.
Não sou daqueles que nunca (ou dizem que nunca) vêem televisão. Gosto de ver uma boa partida de futebol, embora raramente esteja 90 minutos atento ao desafio (excepto se o Belém for um dos contendores), um bom filme (embora não veja mais que 2 num mês, normalmente escolhidos a dedo na programação do Cabo), às vezes uma ópera, alguns documentários. Noticiários vejo rarissimamente: além do sensacionalismo ambiente da maior parte, prefiro chegar às notícias pela leitura de jornais, revistas ou internet (blogues, sobretudo!). Assim, posso filtrar o que me interessa e não estar dependente do alinhamento caprichoso do telejornal.
Muitas vezes fico desfasado com questões da actualidade, confesso. Mas não me importo muito, evito seguir a política nacional, cujo acompanhamento permanente só serviria para me irritar solenemente; tento apenas não perder o fio à meada, mas do parlamentarismo não há nada de positivo a esperar por isso para quê saber das tricas, insultos, polémicas entre políticos na verdade tão assemelhados...
Às vezes, nomeadamente no emprego, pois não escolhemos os colegas de trabalho, pareço um bicho raro, pois nem sei do que é que as pessoas estão a falar, seja da última discussão no parlamento, seja da última produção da TVI (aí então a minha ignorância é total), seja ainda do que certo dirigente de certa agremiação desportiva pouco recomendável disse de um seu rival.
Prefiro estar, como disse, algo desfasado destas actualidades. Se há tão pouco tempo livre, que é repartido entre família e hobbies, se nunca hei-de ler todas as "Vidas Paralelas" de Plutarco, para que é que hei-de gastar horas a ler o editorial deste ou daquele pasquim, ou a seguir os sucessos atrás referidos? De qualquer modo já me sinto desfasado desta sociedade, trata-se apenas de fazer corresponder o sentimento à prática...

09 março 2006

Pura poesia

Com um abraço para o Mendo.














"Tabu", de Friedrich Murnau (1931).

O deserto...

Agora que o avançado Ceará regressou ao Restelo, lembrei-me de uma reportagem que a RTP N fez em tempos sobre o Vilafranquense, o clube mais representativo do concelho de Vila Franca de Xira (pelo menos desde que o Alverca abandonou o futebol profissional), mas em franca decadência.
No intervalo de um jogo, a jornalista entrevista um adepto, que lamenta:
- Há uns anos estas bancadas estavam cheias, agora é o que vê, quase ninguém, parece o deserto do Ceará.
- Quer dizer, do Sara?
- Não, não, o deserto do Ceará.
- Mas Ceará fica no Brasil, não é?
- No Brasil, ó senhora jornalista, Ceará, o deserto do Ceará, em África!

Há dez anos...

... era notícia a chegada à Presidência da República de um senhor com cinco nomes.
Mas o então director do agora defunto "O Dia", Silva Resende, falava de outra

NOTÍCIA

O jornal Tribune Juive, que se publica em França e é porta-voz das comunidades judaicas fora de Israel e principalmente as ligadas às lojas maçónicas, embandeira em arco com a eleição de Jorge Sampaio para a presidência da República em Portugal. E dá à notícia foros de sensacionalismo: «Jorge Bensaúde de Castillo Branco Sampaio é o Primeiro Presidente português judeu desde a Inquisição» .Penso que os Portugueses, em geral, desconheciam no actual presidente essa espécie de dupla nacionalidade que os judeus hoje reclamam desde que se instaurou o Estado de Israel: como em geral desconheciam a totalidade dos seus apelidos que reflectem essa ascendência hebraica, aliás de velhas tradições em Portugal.Conhecendo se a solidariedade que desde sempre reinou entre os judeus fazendo deles o único povo que ao longo dos milénios resistiu a qualquer miscigenação, ficará decifrado o mistério dessa candidatura, os seus estranhas tempos de intervenção, a surpresa de certos apoios e a certeza de vitória que desde o primeiro momento animava os seus oráculos.Nestas e noutras questões, os judeus não costumam perder. Evidentemente, a Inquisição é aqui metida como o Pilatos no Credo, pois que a República se fundou em Portugal em 1910; mas como a Tribune Juive nada publica em vão, quer significar que à cabeça do Estado em Portugal é a primeira vez que desde a Inquisição figura um homem de ascendência judaica a qual — sublinha o jornal — prenuncia uma lua de mel diplomática entre Portugal e Israel. E acrescenta: «estas relações eram já excelentes sob os sucessivos mandatos do irmão Mário Soares».E continua o mesmo jornal: «Sampaio visitou já duas vezes Tel Aviv. E a sua primeira permanência em Israel constituiu para ele verdadeira jornada iniciática pois que, a exemplo da maioria dos judeus portugueses, não tinha recebido nenhuma educação judaica».Não falta aqui o próprio testemunho de Sampaio dirigido a Benyamin Oran, representante diplomático em Lisboa: «quando visitei Israel senti alguma coisa de muito forte a vibrar dentro de mim e posso dizer que descobri então dentro de mim a minha condição de judeu». Para completar a descoberta, a notícia, que certamente a maioria dos portugueses desconhecem, refere que Sampaio milita desde a juventude na extrema esquerda e que foi nessa qualidade que o elegeram para a Comissão dos Direitos do Homem do Conselho da Europa. E aqui está como estes dados, postos festivamente na Tribune Juive, foram estranhamente sonegados na imprensa portuguesa.

Silva Resende, "O Dia", 26.06.1996.

Postal para o Buiça...

... e para todos os que gostam de Pink Floyd e/ou de costas...















Recomendação: este site tem canções prontinhas a descarregar para o vosso computador, a maior parte bootlegs, ou seja, gravações-pirata raríssimas. E pelo menos uma vez por semana incluem-se novos temas para guardar.

06 março 2006

Killing is fun

Uma excelente reflexão (devidamente documentada com exemplos vídeo) sobre a violência gratuita de alguns soldados americanos no Iraque e o delírio que neles provoca o assassinato de iraquianos.
Guerra de libertação, promoção da democracia, so they say.

Vai um patinho?















(Desenho de Côté, "Le Soleil", Canadá.)

05 março 2006

In Memoriam

A cinco dias de completar 52 anos de idade, morreu no passado dia 2 o poeta e jornalista Fernando Tavares Rodrigues, cuja poesia lírica impressionou gerações de leitores e foi musicada entre outros por José Campos e Sousa.
Aqui fica em jeito de homenagem a sua

CARTA DE AMOR

Para te dizer tão-só que te queria
Como se o tempo fosse um sentimento
bastava o teu sorriso de um outro dia
nesse instante em que fomos um momento.
Dizer amor como se fosse proibido
entre os meus braços enlaçar-te mais
como um livro devorado e nunca lido.
Será pecado, amor, amar-te demais?
Esperar como se fosse (des) esperar-te,
essa certeza de te ter antes de ter.
Ensaiar sozinho a nossa arte
de fazer amor antes de ser.
Adivinhar nos olhos que não vejo
a sede dessa boca que não canta
e deitar-me ao teu lado como o Tejo
aos pés dessa Lisboa que ele encanta.
Sentir falta de ti por tu não estares
talvez por não saber se tu existes
(percorrendo em silêncio esses altares
em sacrifícios pagãos de olhos tristes).
Ausência, sim. Amor visto por dentro,
certezas ao contrário, por estar só.
Pesadelo no meu sonho noite adentro
quando, ao meu lado, dorme o que não sou.
E, afinal, depois o que ficou
das noites perdidas à procura
de um resto de virtude que passou
por nós em co(r)pos de loucura?
Apenas mais um corpo que marcou
a esperança disfarçada de aventura...
(Da estupidez dos dias já estou farto,
das noites repetidas já cansado.
Mas, afinal, meu Deus, quando é que parto
para começar, enfim, este meu fado?)
No fim deste caminho de pecados
feito de desencontros e de encantos,
de palavras e de corpos já usados
onde ficamos sós, sempre, entre tantos...
Que fique como um dedo a nossa marca
e do que foi um beijo o nosso cheiro
Tesouro que não somos. Fique a arca
que guarde o que vivemos por inteiro.

04 março 2006

União Europeia das Repúblicas Soviéticas

Um antigo dissidente da URSS, Vladimir Bukovsky, alertou em Bruxelas para o facto de a UE se estar a tornar um monstro totalitário, uma nova URSS.
Bukovsky teve acesso, em 1992, a muitos documentos soviéticos classificados, tendo descoberto a existência de uma conspiração para tornar a então CEE em uma organização socialista: líderes de partidos de esquerda europeus, alarmados pela revolução liberal thatcheriana, ter-se-ão conluiado com Gorbatchev para promover a ideia de uma Europa federalista. A URSS estretanto desmoronou-se mas o projecto federal europeu só tem ganho força.
A ler obrigatoriamente, aqui.

02 março 2006

A URSS por detrás do atentado ao Papa

Não se pode dizer que constitua uma surpresa a revelação, por parte de uma comissão parlamentar italiana, de que a URRS foi responsável pelo atentado ao papa João Paulo II, em 1981. A inquietação do Kremlin face aos protestos fortemente politizados do sindicato Solidarnosc era crescente e era conhecido o apoio do Papa à luta contra o comunismo.
O seu exemplo frutificou no seu próprio país e teve a sua máxima expressão na coragem do padre Popiełuszko, que nos seus sermões criticava ferozmente o comunismo. Essa atitude custou-lhe a vida, em 1984, em mais um atentado do KGB.
Mas o efeito bola de neve foi imparável e cinco anos depois começava a desmoronar-se o mundo comunista. Muito graças a homens como os citados.

Corneille, Brasillach e os fantasmas

A reedição do "Corneille" de Robert Brasillach já faz ranger os dentes a muita gente! Ora vejam vocês mesmos a crítica de Pierre Assouline. Já pus a minha colherada nos comentários...

(Via "Abrupto".)

28 fevereiro 2006

Nacionalismo(s) e Nação

As discussões blogosféricas sobre nacionalismo não são constantes mas mesmo assim frequentes. Como habitualmente os equívocos são mais que muitos pois cada qual tem um entendimento diferente sobre o tema.
Confesso que o facto de não ser crente dificulta a minha adesão ao tríptico "Deus, Pátria, Rei". A hierarquia a este subjacente coloca a Pátria num plano inferior ao da divindade. Se o compreendo perfeitamente à luz do papel da religião católica em toda a história de Portugal, não deixo de crer que para um nacionalista a Pátria deve vir primeiro. De outra forma poder-se-ia cair na tentação de alianças com outros países católicos com intenções menos claras a nosso respeito. Conjunturalmente pode ser bem mais benéfica para Portugal uma aliança com a India, por exemplo, que com Espanha- tudo depende dos dados de momento e das condições de afirmação da independência.
Hoje, muitos nacionalistas hesitantes ou ex-nacionalistas realçam os horrores, as arbitrariedades, as insanidades que o apego à ideologia nacionalista terá provocado. A questão que se deve pôr é se esses horrores e essas arbitrariedades são um exclusivo do nacionalismo ou se, como parece evidente, não foram apanágio de todas as ideologias no poder no século passado. A resposta positiva a esta interrogação deve-nos fazer suplantar este limiar da análise.
Para mim, qualquer reflexão sobre o nacionalismo deve ater-se, antes de mais, à essência da portugalidade: que singularidade tem a nossa Nação que lhe permitiu numa primeira fase assegurar a independência em um contexto altamente desfavorável, mantendo-a séculos a fio em contextos sempre desfavoráveis ou bastante problemáticos para a sua afirmação política e cultural.
Se, como salientava Franco Nogueira, a Nação é o quadro ideal para a afirmação das liberdades dos seus habitantes, só este factor deveria impelir os patriotas para a sua defesa integral e intransigente. A crescente integração económica e política no espaço europeu, a descolonização desastrosa e sem qualquer compensação futura para o civilizador de 500 anos, a imigração crescente e facilitada - são exemplos de ameaças actuais e gravíssimas à integridade da Nação. Tudo isto num contexto de desagregação dos valores tradicionais e enformadores da nossa essência portuguesa. Temos assim um quadro dos mais críticos para quem não desistiu de crer na viabilidade política, económica, social, cultural da pátria portuguesa.
Sendo as forças que laboram no sentido da dissolução dos traços distintivos de todas as nações extremamente poderosas e actuando as mais das vezes na sombra, torna-se o combate contra elas crítico e amiúde deixa uma sensação de impotência.
Se para encetar um caminho se deve dar um primeiro passo, há que saber que caminho é que se pretende fazer. Sendo a tradição renovada constantemente, como ensinava Sardinha, há que buscar os traços distintivos da portugalidade. Um bom exemplo dessa renovação são as relações com África: se até há trinta e um anos essas relações deviam ser estimuladas por África representar mais de 90 por cento do nosso território, hoje, apertados numa faixa de terra, deveremos pautar essas relações mais no âmbito económico, controlando os fluxos humanos provenientes de África, posto que ameaçadores da nossa identidade a médio prazo.
Também me parece difícil, como faz um confrade, encontrar pistas para o futuro de Portugal centrando a reflexão sobre filosofia política anglo-saxónica, deixando para segundo plano a tradição política nacional e os seus ensinamentos, ou raciocinando num quadro estático, alheio às mudanças em volta (de que o exemplo africano acima exposto é paradigmático).
Outros, ainda mais estrangeirados, buscam a salvação de Portugal fora das fronteiras nacionais, numa mítica Europa à qual somos em grande medida alheios. Há até movimentos neo-pagãos, tentando apagar com um traço dois milénios de cristianismo. Nada disto quer dizer que não devamos ter sólidas relações com outros países europeus, antes que não o devemos fazer abdicando da nossa independência (política e cultural - aqui, cultural em sentido amplo).
A realidade é o que é, não o que queremos que seja e não é fugindo-lhe que vamos ter um bom contributo para continuar Portugal.

27 fevereiro 2006

Demagogia barata

Será que se os assassinos do transexual portuense não fossem "uns pretitos marados ali de um centro de correcção", mas skinheads, não haveria já manifestações de desagravo, com os colectivos anti-racistas à cabeça, com o primeiro ministro a depositar uma coroa de flores sobre o túmulo da vítima, com o presidente a oferecer-nos um interminável (e intragável) discurso sobre a intolerância, o racismo, as lições do passado que se não aprendem, a necessidade de maior vigilância democrática?...
Mas apesar de não ter sido isso o que passou, certamente que a culpa não deixa de ser dos portugueses, que marginalizam os “jovens”, que lhes não dão maiores possibilidades de inserção...
Quantos aos colectivos de invertidos, será que se o assassinado fosse um skinhead promoveriam iniciativas tendentes a que os agrupamentos de cabeças rapadas tivessem maiores apoios? Que lhes fossem proporcionadas maiores oportunidades de emprego?
Que seria dos democratas profissionais e dos agitadores sinistro-extremistas sem a demagogia?

"O Insurgente" está de parabéns

O blogue “O Insurgente” comemora neste dia o seu primeiro aniversário. Não sendo grande adepto de blogues colectivos, sou leitor diário deste, com grande proveito.
Independentemente das divergências ideológicas, aprecio o espírito livre dos blogueiros daquela casa, em particular (que me desculpem os outros) do André Azevedo Alves, espírito descomplexadamente direitista, sem receios de desagradar ao politicamente correcto, o que vai sendo inabitual pelos dias que correm. O AAA alimenta ainda uma espécie de “BE Watch”, mantendo-nos a par das manigâncias dos extremistas (gabo-lhe a paciência por conseguir ler tanta sandice emanada por aquela malta).
Para quem não aprecia as matérias económicas o blogue pode por vezes desencorajar (até porque às vezes as discussões parecem ficar um pouco em circuito fechado, uma troca de ideias entre liberais). Ao mesmo tempo, as matérias culturais estão um pouco marginalizadas (fica aqui uma sugestão de melhoria).
Ironia da ironias, num blogue mais ou menos favorável à política bushista, o nome evoca irresistivelmente o que a imprensa chama àqueles senhores que andam diariamente empenhados em rebentar com oleodutos, matar polícias e população civil em geral no Iraque.
Muitos parabéns a todos os insurgentes pelo espaço de liberdade e inteligência que nos oferecem há 365 dias.

25 fevereiro 2006

Manuel Monteiro está de volta

Volta e meia ele dá notícias. Ele, é Manuel Monteiro, líder do PND e ex-líder do PP. Já nos primórdios do meu blogue disse o que achava do seu percurso político. A certa altura, Monteiro pareceu tentar agarrar-se a tudo o que lhe desse protagonismo. Os 40.000 votos do PND nas últimas legislativas foram o seu maior fiasco até agora.
Mas Monteiro sempre gostou de temas “fracturantes” (palavrão horroroso hoje muito em voga). E muitas vezes acerta nas críticas que faz. Não serei eu a lamentar que haja alguém que pretenda «a eliminação de toda a base programática e ideológica da Constituição, bem como a discussão da alteração profunda do sistema político português».
É verdade que o partido em que MM se formou politicamente, o CDS, foi o único a votar contra a Constituição da República em 1976. A AD conseguiu empurrar o Conselho da Revolução para o caixote do lixo da história, em 1982, ao passo que o PSD maioritário de Cavaco acabou com a irreversibilidade das nacionalizações, em finais dos anos 80 (!). De aí para cá as alterações constitucionais têm servido basicamente para prostituir o País, atirando-o para os braços de Bruxelas, a quem passámos a esmolar desavergonhadamente, enquanto liquidávamos alegremente os sectores produtivos tradicionais.
Mas a classe política e o dogma da «longa resistência do povo português ao fascismo», esses continuam bem defendidos na Constituição. Continuamos com um parlamento disparatadamente pletórico em termos de número de deputados, a lei eleitoral exige reforma mas ninguém se decide – e, claro, como em qualquer regime sustentado pr uma revolução, o dogma desta está logo plasmado no preâmbulo.
Aguardemos, então, para ver o resultado da démarche de Manuel Monteiro.

Tempos de Reconquista


Força, D. Mendo!

A Torre de Ramires

Destacou-se inicialmente, neste estranho mundo da blogosfera, pelos comentários pertinentes que ia deixando aqui e ali em blogues que por comodidade podemos classificar como nacionalistas. Pertinentes e encorajadores, diga-se.
Os amigos iam-no pressionando para abrir o seu próprio blogue. Motivos pessoais e (pressentia-se) alguma azelhice informática (mal de que também sofre este vosso criado) foram adiando o projecto. Meteu-se então no colectivo "Jantar das Quartas", onde pôde então deixar uns nacos da sua boa prosa, da sua cultura (nunca adejada aos quatro ventos, antes discretamente citada como sugestão aos seus leitores e sua inspiração estética).
E, inseperadamente, surge agora a solo, em "A Torre de Ramires". Falamos, claro, do nosso estimado Mendo Ramires, que assim vai contribuindo para continuar Portugal: cultural e, claro, politicamente.
Boa sorte para o projecto são os votos desta casa.

24 fevereiro 2006

Hor radio lige nu

Num dia como hoje que foi para mim uma maratona quase non-stop de despacho de trabalho (incrível como nos esfolamos a uma sexta-feira para depois poder gozar a pontezita da ordem...), tive uma grande ajuda made in Denmark: fez-me companhia durante largas horas a "DR Klassisk", emissora de música clássica. De Brahms a Mozart, passando pela monumental 7ª Sinfonia de Anton Bruckner, pelo dinamarquês Carl Nielsen e pelo genial compositor contemporâneo György Kurtag (que ouço precisamente neste momento), fruí um dia de grande música.
Fica então o conselho para os nossos amigos melómanos: venham aqui, depois escolham "DR Klassisk". Para seguir a programação deverão ver aqui.

23 fevereiro 2006

Sarajevo, 26 de Dezembro de 1992

Sarajevo, 26 de Dezembro de 1992

Querida Tia,

Não te escrevíamos há séculos porque nada, nem sequer um pássaro, podia entrar ou sair de Sarajevo. O aeroporto foi encerrado, bem como a estrada de Kiseljak, onde os combates têm sido ferozes – tudo isto significa que nem uma grama de comida entrou em Sarajevo. Parece impossível que ninguém nos ajude, não podemos acreditar. Há tiroteio por todo o lado e mesmo os que estão “do nosso lado” castigam-nos ao nada nos trazer para comer. Mas já ninguém consegue pensar com sensatez e seja o que for que venha a suceder temos que o aceitar pois não temos alternativa. Por aqui a situação não muda e o mais insuportável de tudo é que nada mexe. Estivemos sem água e electricidade durante três semanas. Foi terrível. No Verão não demos tanta importância à situação, estava calor e os dias eram longos, mas agora faz muito frio. O frio vai direito aos ossos mesmo que vistas três camisolas, três pares de meias e três pares de calças. Pessoas vagueiam como zombies, andam pela cidade mexendo em caixotes do lixo, buscando água e lenha. E já ninguém parece reparar nas explosões à nossa volta ou nas balas dos snipers, pois só uma ideia atormenta as pessoas: alimentarem-se e aquecerem-se. Todas as árvores da cidade, em todos os parques, avenidas, cemitérios, foram cortadas; assim, além de ser uma cidade bombardeada e queimada, seremos também uma cidade sem árvores. E ninguém mexe um dedo. Nos hospitais, velhos e crianças sofrem atrozmente com o frio pois não há cobertores suficientes nem mesmo para eles. É terrível, terrível. Há momentos em que penso enlouquecer e interrogo-me como é que outras pessoas arranjam forças para continuar...

Nadira

In “Letters from Sarajevo – Voices of a besieged city”, de Anna Cataldi, Element Books, 1994. (Tradução da versão inglesa: “Santos da Casa”.)

O pesadelo bósnio

Entre 1992 e 1995 morreram 200.000 pessoas na Bósnia. Locais como Sarajevo, Mostar, Tuzla, Srebrenica passaram a ser conhecidos de todos pelas piores razões. Radovan Karadzic (que fez a própria casa, em Sarajevo, ir pelos ares) foi o rosto político, Ratko Mladic o rosto militar da agressão sérvia contra a população bósnia.
O cerco a Sarajevo, que durou 43 intermináveis meses, fica nos anais da bestialidade em solo europeu. Os tristemente célebres snipers passavam o tempo a tentar atingir qualquer infeliz que passasse pelas ruas mais desabrigadas da urbe. Alguns vinham de diversas cidades da Sérvia ao fim de semana, para passar umas horas no "tiro ao bósnio". As crianças não escapavam: em uma ocasião, uma mulher que levava o filho pela mão foi atingida na perna, para não morrer de imediato; seguidamente foi a vez de o filho ser atingido, mortalmente; após darem tempo à infeliz mãe para sentir o horror da morte do filho, mataram-na de vez.
A guerra trouxe para a Bósnia os fundamentalistas muçulmanos, até aí sem qualquer importância na vida da república (tal como sucedeu na Chechénia). E pôs na lama o conceito de "nacionalismo", empregue por um punhado de bárbaros órfãos do comunismo titista e sedentos de vingança pelas agressões croatas na Segunda Guerra Mundial.

Herança cultural em ruínas

Em 25 de Agosto de 1992 a barbárie sérvia atingia um dos seus paroxismos: a destruição da biblioteca de Sarajevo. Consumidos pelas chamas foram mais de 150.000 livros raros, manuscritos e documentos do governo otomano.
O ataque à herança cultutral do povo bósnio tivera amplo sucesso.
Na noite do ataque, Aida Buturovic dirigiu-se apressadamente à biblioteca, tentando salvar o maior número possível de livros. Após ter recolhido alguns volumes dirigiu-se a casa; nunca lá chegou: morreu na sequência de uma explosão.

22 anos, um palmo de terra, uma cruz

15 segundos entre a vida e a morte

(Sarajevo, Abril de 1993.)

A RACE UNDER SNIPER FIRE
I went to work, I worked in the Head Office of the Bosnia and Herzegovina Railroad Company and every day leaving for work and coming back I had to cross an avenue. It wasn't a street, but an avenue, I don't know how many meters wide. A sniper was always shooting at that avenue, killing people, injuring them, and I thought how to cross. I stayed in between the houses. One quick glance to my watch. When the first bullet was shot I counted the seconds to the next bullet. Some 15 to 20 seconds. And so I was ready when the shot was fired to run across the avenue and I had to do it in 15 seconds. At such times the fear a person feels is incredible. The legs were dead, the muscles don't work and there's no air in the lungs. And when I arrived to the other side then I stayed there awhile to catch my breath and rest a little and the people who were hiding there and watching were happy that somebody managed to cross that fateful avenue near the 2nd Gymnasium.

Mima Tulic Kerken, habitante de Sarajevo.

22 fevereiro 2006

Descubra as diferenças


(Praça de Tiananmen, 1989.)


(Nablus, Cisjordânia, 21 de Fevereiro de 2006.)

Em grande

Prevê-se para 9 de Novembro de 2006 (aniversário da queda do Muro de Berlim!) a inauguração da maior sinagoga da Europa. O orçamento inicial (em 1999) era de 25 milhões de euros mas as estimativas actuais apontam para 57 milhões.

Fonte: Rivarol.