10 março 2006

Televisões

Umberto Eco, com quem não me identifico especialmente, interrogado sobre o que pensava da televisão, disse acertadamente que o que lhe fazia impressão no que ao pequeno écran diz respeito era o tempo que os intelectuais dispendiam a falar dele - ou pregados a ele.
Eu penso o mesmo, não só dos intelectuais (que em boa percentagem estimulam o nosso intelecto em bem reduzida medida, dados os parti pris estéticos e ideológicos que ostentam) como de todas as pessoas de cultura e bom gosto, conhecendo muito exemplos neste grupo que efectivamente torram horas do seu precioso tempo vidrados aos 51 cm.
Não sou daqueles que nunca (ou dizem que nunca) vêem televisão. Gosto de ver uma boa partida de futebol, embora raramente esteja 90 minutos atento ao desafio (excepto se o Belém for um dos contendores), um bom filme (embora não veja mais que 2 num mês, normalmente escolhidos a dedo na programação do Cabo), às vezes uma ópera, alguns documentários. Noticiários vejo rarissimamente: além do sensacionalismo ambiente da maior parte, prefiro chegar às notícias pela leitura de jornais, revistas ou internet (blogues, sobretudo!). Assim, posso filtrar o que me interessa e não estar dependente do alinhamento caprichoso do telejornal.
Muitas vezes fico desfasado com questões da actualidade, confesso. Mas não me importo muito, evito seguir a política nacional, cujo acompanhamento permanente só serviria para me irritar solenemente; tento apenas não perder o fio à meada, mas do parlamentarismo não há nada de positivo a esperar por isso para quê saber das tricas, insultos, polémicas entre políticos na verdade tão assemelhados...
Às vezes, nomeadamente no emprego, pois não escolhemos os colegas de trabalho, pareço um bicho raro, pois nem sei do que é que as pessoas estão a falar, seja da última discussão no parlamento, seja da última produção da TVI (aí então a minha ignorância é total), seja ainda do que certo dirigente de certa agremiação desportiva pouco recomendável disse de um seu rival.
Prefiro estar, como disse, algo desfasado destas actualidades. Se há tão pouco tempo livre, que é repartido entre família e hobbies, se nunca hei-de ler todas as "Vidas Paralelas" de Plutarco, para que é que hei-de gastar horas a ler o editorial deste ou daquele pasquim, ou a seguir os sucessos atrás referidos? De qualquer modo já me sinto desfasado desta sociedade, trata-se apenas de fazer corresponder o sentimento à prática...

4 Comments:

Blogger Paulo Cunha Porto said...

Olha, Caríssimo, eu, o noticiário das oito, ainda vou vendo. Mas fazia a mesma figura de ET quando se espalhou a mania do «BIG BROTHER», em que até muita gente pouco predisposta à coisa, julgava eu, caiu inteirinha...

11 março, 2006 21:10  
Anonymous Anónimo said...

Caro FG Santos,

em comum só devemos ter a cidade de nascimento. A ópera (ou opereta) também já foi o ópio do
povo. A quem interessa a alienação? Ao parlamentarismo, como seguramente está cansado de saber.
Só me questiono, se os cento e poucos que o acompanham (incluindo eu), estão dispostos a lutar até morrer (nem que seja a crédito), ou a morrer lutando (tipo fundamentalismo islâmico). Tudo o resto são tretas (tipo fundamentalismo islâmico, outra vez).
Não escolheu os "colegas de emprego"? E os "colegas" escolheram-no a si? Pelo menos tem "emprego", mas será que ainda trabalha?

Mais uma vez, a única via é a da revolução.

Um abraço

Ricardo Vieira

12 março, 2006 06:38  
Blogger vs said...

"... a única via é a da revolução."

Ah bon!
Ça c'est magnifique!
Les nationalistes portugais ont trouvé, finalement, un Lenin!
:)

12 março, 2006 09:59  
Anonymous Anónimo said...

«Muitas vezes fico desfasado com questões da actualidade, confesso.»

Já somos dois.

NC

13 março, 2006 01:20  

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